Coordenador da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter avaliou nesta quarta-feira (3) o quadro de disseminação da variante brasileira do coronavírus, identificada pela primeira vez em Manaus. Na terça-feira (2), as secretarias de Saúde de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul informaram que a Capital registra transmissão comunitária da nova cepa — quando não é possível rastrear qual a origem da infecção, indicando que o vírus circula entre as pessoas do local.
Ritter afastou a suspeita de que a situação tenha associação com pacientes vindos do Norte. Segundo ele, "é extremamente tranquilo para a gente dizer que esta transmissão não tem uma causa única", sendo a circulação de pessoas a principal delas:
— Essa circulação aconteceu todo dia, toda hora. Temos um aeroporto potente, pessoas chegando e saindo. Não conseguimos identificar nenhuma relação entre as pessoas que vieram do Norte, até porque toda equipe da Secretaria de Saúde acompanhou de perto os hospitais que receberam esses pacientes, eles foram isolados. Não tem associação com as pessoas que atenderam com aquelas que foram internadas — disse.
— A transmissão aconteceu muito mais nas nossas relações pessoais, de trabalho, do que tentar achar um culpado. O culpado talvez sejamos todos nós, que em algum momento relaxamos e nos expomos — completou.
Foram identificados 21 pessoas residentes em Porto Alegre com a nova variante. A identificação ocorreu em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), em um projeto de pesquisa que tem como objetivo descrever o perfil genômico de amostras sequenciadas pelo laboratório do hospital.
Segundo o coordenador, das pessoas identificadas com a nova variante, uma veio a óbito por complicações que não estão relacionadas à covid-19, uma segue internada e as outras receberam alta ou estão sob acompanhamento.
Ampliação de testagem
Para ajudar a frear a taxa de transmissão, Ritter enfatizou a necessidade de adoção de medidas de supressão no combate ao coronavírus, aquelas que reduzem a taxa de reprodução, como o isolamento social e cuidados com a higiene das mãos. Além disso, a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde trabalha em uma parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) para ampliar a testagem covid-19 na Capital no modelo drive-thru. A expectativa é de que a medida seja implantada nos próximos dias, mas ainda não há data confirmada.
— As pessoas só ficam em casa quando tem certeza que estão positivas. Enquanto não tem certeza, ela acaba circulando por vários motivos. Nosso principal limitador hoje é a capacidade de recursos humanos, apesar do RS ser mais capaz, o governo do Estado dobrou a capacidade de UTIs, tem um limite. Se as pessoas não colaborarem, nós vamos sucumbir ainda mais — apontou o Ritter.