Em nota publicada nesta terça-feira (2), as secretarias de Saúde de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul informaram que a capital gaúcha registra transmissão comunitária da variante brasileira do coronavírus, identificada pela primeira vez em Manaus. Isso significa que não é possível rastrear a origem da infecção e que ela já circula entre os moradores da cidade.
A identificação ocorreu em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Conforme o documento, foram identificados 21 casos de pessoas residentes em Porto Alegre com a nova variante.
"Em 13 dos 21 casos não foi possível estabelecer contato com pessoas que tenham viajado para localidades específicas — caracterizando a transmissão comunitária", explica o texto.
"Em cinco casos, a investigação preliminar identificou relação com pessoas vindas de locais com circulação de P1. Os demais três casos, munícipes de Porto Alegre, seguem em investigação quanto à fonte de infecção. Os dados da pesquisa também relatam outros quatro exames com sequenciamento genômicos para P1. que permanecem em investigação."
Os dados são oriundos de um projeto de pesquisa que tem como objetivo descrever o perfil genômico de amostras sequenciadas pelo laboratório do Hospital de Clínicas.
O primeiro registro da nova cepa de Manaus no Estado foi em um morador de 88 anos de Gramado, na serra gaúcha. O idoso apresentou os primeiros sintomas da doença no final de janeiro e morreu em 10 de fevereiro, após ficar internado.
O governo do Estado analisa amostras de pessoas de outros municípios gaúchos, mas confirmou o registro na nova cepa apenas nos dois locais até o momento.
Efeitos na variante ainda são estudados
Conhecida como P1, a variante do vírus causador da covid-19 tem como característica já conhecida a maior capacidade de contágio. Ou seja, ela transmite mais rapidamente o coronavírus de uma pessoa para outra.
Ainda não se sabe, no entanto, outras características da variante, se ela é mais letal, por exemplo, explica a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) do Estado, Cynthia Molina Bastos:
— Como a variante é mais transmissível, a tendência é que grupos de pessoas serão atingidos mais rápido. Mas não sabemos se a nova cepa é mais letal, mais grave. E justamente por isso precisamos que as pessoas fiquem em casa. Precisamos de tempo para conter esse avanço e para entender a variante. Com mais pessoas infectadas, cada vez teremos menos condições de atender a população nos hospitais, o que levará a mais mortes — explica Cynthia.
Alexandre Zavascki, médico infectologista do Clínicas e professor de infectologia da UFRGS, explica que Porto Alegre passa por uma situação epidemiológica parecida com a de Manaus, com uma explosão de casos em muito pouco tempo, analisa.
— Ainda não sabemos em que proporção, mas muitas das infecções que estão ocorrendo hoje e levando mais pessoas aos hospitais, são causadas por essa variante. Ela é um dos fatores que ajuda a explicar o aumento nos números. Além disso, estamos vendo uma mudança no perfil das pessoas doentes. São pessoas mais jovens, sem comorbidades, que estão em quadros gravíssimos. Mas ainda está sendo investigado se isso tem ligação com a variante — disse.