A vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford é "segura e eficaz" e "não está associada" a um risco aumentado de coágulos sanguíneos, segundo anunciou nesta quinta-feira (18) a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês).
A entidade não viu uma associação entre o uso do imunizante do laboratório anglo-sueco AstraZeneca com o aumento dos riscos para coágulos sanguíneos. O painel de especialistas ressalta que os benefícios da vacina em reduzir o número de casos e de mortes por coronavírus superam os possíveis riscos de problemas circulatórios.
A EMA, contudo, disse "não poder excluir definitivamente" uma ligação entre o produto e os casos raros de distúrbios de coagulação sanguínea. A agência pontua que registrou raríssimos casos – 25 pessoas entre mais de 20 milhões de vacinados – que tiveram coágulos de sangue e cuja relação com a vacina não está provada, mas que é possível e merecerá análise futura. Assim, o órgão vai continuar a acompanhar e analisar os dados da vacinação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomendou que países voltem a aplicar a vacina de Oxford em suas populações, com o mesmo argumento: não há relação entre o imunizante e problemas de coágulo. Um relatório conclusivo da entidade deve sair nesta sexta-feira (19).
Cerca de 20 nações já suspenderam temporariamente a aplicação, incluindo Alemanha, França e Itália. O movimento foi visto com receio por analistas por contribuir para fortalecer o movimento antivacina – a imunização contra o coronavírus é vista como a única forma de o mundo dar um fim à pandemia, a mais mortal do último século. Negaram-se a suspender Reino Unido, Bélgica, Polônia, Romênia e Grécia.
Especialistas destacam que, se a vacina de Oxford aumentasse o risco geral de trombose, a incidência desse tipo de evento nos imunizados deveria ser maior do que na média da população. Não é o caso.
Se a agência da União Europeia analisou 25 casos em 20 milhões de vacinados, a média é de que problemas de coagulação apareçam em um a dois indivíduos a cada mil pessoas, informa a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).
— Quem foi vacinado não tem que consultar, não tem que ir no médico nem fazer exame. As investigações mostram a segurança da vacina. Inclusive, os órgãos reguladores estão falando neste momento que alterações de coagulação sempre aconteceram e continuarão a acontecer, sem qualquer influência de uma vacina — afirma o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim).
Os coágulos de sangue, chamados no linguajar médico de “eventos tromboembólicos”, são bolhas de sangue que se formam nas veias e artérias. Via de regra, servem para evitar a hemorragia a cada machucado no corpo, mas, se produzidos em excesso, podem bloquear a passagem do sangue e atrapalhar a circulação.
Quando o coágulo de sangue ocorre na perna, recebe o nome de trombose venosa profunda, o que gera inchaço e dor da região. A depender do caso, a “bolha” pode subir para o pulmão e causar a embolia pulmonar (marcada por dor no peito, tosse e, em casos graves, morte), ou para o cérebro, provocando um acidente vascular cerebral (AVC).
— O número de casos encontrados é infinitamente menor do que o esperado para uma população normal. Temos mais de 60 mil pessoas avaliadas nos nossos estudos clínicos controlados em Estados Unidos, Quênia, Chile, África do Sul, Japão, Reino Unido, além de Brasil, e a incidência desses eventos foi maior no grupo que tomou placebo (que não recebeu a vacina de Oxford) do que no grupo vacinado. É seguro tomar essa vacina no Brasil e em qualquer outro país — afirma Sue Ann Costa Clemens, coordenadora dos estudos clínicos com a vacina de Oxford no Brasil.
A Anvisa também recomendou que o governo brasileiro continue com a aplicação do produto. A instituição concluiu que os dados "não apontam alteração no equilíbrio benefício‐risco da vacina e recomenda a continuidade do seu uso pela população.
A decisão ocorreu após a Anvisa se reunir com 52 representantes de autoridades regulatórias de vários países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Reino Unido e Dinamarca, e com a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
"A discussão técnica apontou para a necessidade de apresentação de outros dados e o aprofundamento das investigações nos países que invocaram o princípio da precaução para suspender o uso da vacina Oxford/AstraZeneca", diz a nota.
A Anvisa destaca que, nas bases brasileiras que reúnem os efeitos adversos de vacinas, não há registros de embolismo e trombose relacionados a imunizantes contra a covid-19.
— A gente podia dizer agora que tinta de cabelo causa impotência, porque as pessoas que têm cabelo branco são mais velhas e pintam mais o cabelo. Ou seja, as coisas acontecem ao mesmo tempo, mas não quer dizer que uma coisa cause a outra. Quando estamos falando de medicamentos, a situação é muito parecida — exemplificou a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Cynthia Molina Bastos.