Ao manter em vigor o sistema de cogestão no Rio Grande do Sul, o governo do Estado tomou decisão "ponderada" e "sensata", na opinião de empresários gaúchos ouvidos por GZH nesta segunda-feira (22). A avaliação leva em conta a medida que impõe restrição geral de atividades, suspendendo o atendimento ao público no Estado entre as 20h e as 5h.
— Dentro de um momento crítico, acho que o governador Eduardo Leite tomou a melhor decisão que poderia ser tomada. Ele aceitou o plano de cogestão, que era uma reivindicação nossa, dos empresários, e manteve a restrição à noite, que é o horário mais sensível em termos de aglomeração. Acho que está muito adequado e que ele foi muito sensato. Para o comércio, que temia um novo fechamento caso a bandeira preta valesse, é uma ótima notícia — avaliou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Írio Piva.
Pela manhã, dirigentes de entidades empresariais sinalizaram ao governador preocupação com os possíveis efeitos de novo fechamento do comércio, como o ocorrido no início da pandemia, caso a cogestão fosse mantida e os municípios precisassem seguir o protocolo da bandeira preta. A avaliação foi de que, mantendo restrições rígidas, muitas empresas fechariam as portas e demitiriam pessoal.
Para o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, a decisão do governo do Estado deve trazer impactos à economia, mas é "ponderada":
— Não será fácil reduzir horários, ainda pagaremos um preço muito alto por isso, mas, olhando toda a situação, a decisão foi ponderada e leva em conta as demandas dos setores. Fechar as portas não poderia ser uma opção, e estamos aliviados que isso foi levado em consideração. Sabemos que o momento pede atenção ao sistema de saúde, mas toda decisão precisa levar em conta também a complexidade de um Estado, considerando a sua economia e as particularidades de cada município, por isso, a cogestão se mostrou tão importante para a garantia desse senso de realidade — afirmou o presidente.
Chmelnitsky reiterou a importância do cumprimento de protocolos por parte dos empresários do setor, que devem buscar "também conscientizar os clientes", e afirmou que os estabelecimentos "estão engajados em proporcionar ambientes seguros desde o início da pandemia".
O dirigente salientou que o empresariado entende o agravamento da crise sanitária no Estado e sabe que são necessárias medidas mais fortes neste momento. No entanto, avalia, seria mais efetivo que municípios e Estado coibissem a circulação de pessoas a partir do fechamento de parques, praças, áreas de lazer e combatesse aglomerações, principalmente, no Litoral e na Serra, regiões onde o fluxo de turistas é maior.
Na reunião com Leite, a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) também defendeu a manutenção da cogestão do sistema de distanciamento controlado junto às prefeituras. A entidade entende que o avanço nos casos da doença e de internações não passam pela abertura das lojas, mas sim pelas aglomerações registradas nas últimas semanas.
— A manutenção do comércio aberto, mesmo com mais restrições, é fundamental para o Estado conseguir manter empregos e renda. O fechamento contribuirá para termos mais desemprego, fechamento de estabelecimentos e menor arrecadação (de impostos) — aponta Anderson Cardoso, presidente da Federasul.
A medida que permite que o comércio continue funcionando foi "extremamente importante", na avaliação do presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas), Paulo Kruse:
— Para nós, é muito importante manter nossos negócios abertos sob pena de fecharmos as portas definitivamente, principalmente para os (estabelecimentos) pequenos. Essa medida vai nos permitir trabalhar, o que nos deixa muito feliz — afirmou Kruse.
Presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, avalia que, diante da piora dos índices da doença, o momento é de "acatar as regras", e não de questionar:
— Nós sabemos que estamos em uma guerra contra um inimigo em comum, e que precisamos nos unir para vencê-lo. Seguiremos todas as orientações. Nosso entendimento é que de devemos acatar a decisão, e não questionar.
Universidades públicas e Institutos Federais apoiam medidas do governo
Universidades públicas e Institutos Federais gaúchos afirmaram, em nota na tarde desta segunda, que apoiam as medidas mais restritivas adotadas pelo governo gaúcho.
As entidades reiteraram a "confiança na ciência, nos pesquisadores, em todos os profissionais, especialmente nas equipes de saúde, que responsável e incansavelmente vêm atuando no combate à pandemia da covid-19", além de defender a importância da vacinação.
Assinam a nota entidades como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul).
Cogestão é mantida, mas horário de restrição de atividades é ampliado
Para manter o modelo de cogestão em funcionamento, o governo ampliou, em contrapartida, os horário de restrição de atividades no RS. Desde sábado, a restrição de atividades valia para o horário entre as 22h e as 5h, e agora será antecipada para as 20h a partir desta terça-feira (23) — por meio de um decreto que deve ser publicado ainda nesta segunda. Assim, estabelecimentos não poderão oferecer atendimento ao público nesses horários, incluindo supermercados — confira neste link quais locais podem funcionar e quais estão vetados.
No modelo de cogestão, os municípios podem adotar protocolos próprios, semelhantes aos da bandeira inferior àquela definida pelo governo do Estado. Assim, regiões em bandeira preta, por exemplo, podem adotar regras equivalentes à bandeira vermelha. Nesta rodada, o mapa do distanciamento controlado, definido pelo Executivo estadual, manteve 11 regiões em bandeira preta, nível de mais alto risco do modelo, e 10 na cor vermelha. A medida passa a valer a partir desta terça-feira (23).
Das 21 regiões covid no Estado, 19 fazem parte do sistema compartilhado. As exceções são Guaíba e Santa Maria, mas essas estão em bandeira vermelha. Assim, nenhuma precisará adotar os protocolos mais rígidos da cor preta — a menos que decida por eles.