Correção: o número de pacientes com coronavírus em UTIs de Porto Alegre na tarde desta segunda-feira (22) era 357, e não 349 como publicado entre 16h44min e 18h42min. O texto foi corrigido.
Em mais um sinal da piora da pandemia em Porto Alegre, o painel de monitoramento das unidades de terapia intensiva (UTIs) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) indicava 357 pacientes com coronavírus internados em estado grave até as 17h10min desta segunda-feira (22) — número mais elevado desde a chegada da covid-19 à Capital. O dado é superior ao inicialmente divulgado pela prefeitura no site que acompanha as hospitalizações em razão de um ajuste na contabilização feita pelos hospitais ao final da tarde.
O recorde anterior havia sido atingido nos dias 2 e 4 de setembro do ano passado, quando foram contabilizados 347 doentes em estado crítico. O teto estimado pela prefeitura para dar conta da doença no município sem colapsar a estrutura é de 383 leitos destinados à pandemia.
A quantidade de hospitalizados com coronavírus nesta segunda representa um acréscimo de 18,6% em relação a uma semana atrás e sinaliza o progressivo esgotamento do sistema de saúde. Conforme os dados da SMS, 53 pessoas com covid-19 aguardavam em emergências por uma vaga nas alas de tratamento de alta complexidade. A média geral de uso dos leitos de cuidado intensivo, por todo tipo de problema de saúde, superava 96% e já sobrecarregava outros setores.
O crescente impacto da covid sobre a rede de atendimento provocou a lotação de seis UTIs entre os 17 hospitais listados no painel da SMS. O Moinhos de Vento chegou a registrar ocupação de 115% em razão do uso de leitos emergenciais para receber doentes graves.
A cifra superior a 100% foi alcançada porque, conforme a assessoria de comunicação do Moinhos, no final de semana foi necessário disponibilizar 10 leitos emergenciais além dos 66 já existentes para não deixar nenhum paciente desassistido. Mas, nesta segunda-feira, essas vagas adicionais, abertas em ambiente equivalente ao de UTI, conforme a instituição, também já estavam todas em uso.
— Os hospitais estão virando grandes UTIs. Estamos nos preparando para atender só os casos mais críticos — alerta o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki.
A impressão é de que as pessoas estão chegando em estado mais grave
ALEXANDRE ZAVASCKI
Infectologista
Zavascki afirma que, nos últimos dias, vem aumentando a fila por vaga nos setores dedicados a pacientes mais graves em diferentes estabelecimentos, o que força a permanência dos doentes por mais tempo em alas intermediárias mesmo que precisem de terapia intensiva. GZH questionou à SMS qual o tempo médio de espera por uma vaga, mas esses dados deveriam ser liberados somente no final da tarde.
A Santa Casa chegou a figurar com lotação de 112%. Inicialmente, a assessoria de imprensa da instituição informou que o excedente representava “leitos extras” para os pacientes não ficarem desassistidos. Em um segundo momento, porém, esclareceu que se tratava de uma falha de preenchimento dos dados no painel de monitoramento, e a ocupação oscilou para 98%. Além do Moinhos, os hospitais São Lucas, Mãe de Deus, Independência, Fêmina e Restinga não tinham mais vagas disponíveis até o meio da tarde.
A média diária de pessoas internadas ao longo de uma semana — um cálculo que reduz o impacto de variações pontuais — ficou em 330. Esse patamar representa um acréscimo de 16,2% em comparação com o período anterior. Na avaliação de Zavascki, a pressão galopante sobre o sistema hospitalar da Capital é provocada tanto por um aumento súbito no número de casos, que atinge também pacientes mais jovens, como por uma aparente gravidade maior da doença:
— A impressão que temos é de que as pessoas já estão chegando em condição mais grave ao hospital.
Uma das hipóteses para essa escalada, ainda pendente de confirmação científica, é que seja reflexo do impacto de novas linhagens do coronavírus em circulação. Combinado ao descuido de parte da população com a adoção de medidas preventivas como o distanciamento social e a falta de políticas públicas mais efetivas, poderia ajudar a explicar a recente escalada.