
Pré-classificada na bandeira preta do Modelo de Distanciamento Controlado do Estado, a Serra está com taxa de ocupação próxima aos 80% nos leitos de UTI nesta segunda-feira (22). São 299 vagas na região e 239 com pacientes. O dado consta no painel de monitoramento do governo estadual.
A análise por município mostra que a situação é mais complicada na Região das Hortênsias. Em Gramado e Canela, que somam 28 leitos no total, a ocupação está em 100%. Em Bento Gonçalves, chega a 93% e, em Caxias, a 80%. Os outros municípios da região que têm UTI apresentam condições mais confortáveis: Farroupilha tem 40% de ocupação, Garibaldi, 60% e Vacaria, 47%. Esses três, juntos, têm um total de 45 leitos. Ou seja, somados, têm um quarto da quantidade de Caxias, onde há concentração de 181 leitos.
Após a pré-classificação da Serra na bandeira que indica o maior risco para a infecção por coronavírus no modelo estadual, a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) recorreu para que a região fique na bandeira vermelha, o que restringiria menos atividades. Em entrevista ao Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha Serra (ouça abaixo), o presidente da entidade, José Carlos Breda, destacou a capacidade de atendimento instalada no período da pandemia:
— A Serra fez um esforço e instalou mais 150 leitos de UTI. Dobrou. São 299. E ainda agora com a possibilidade de colocar mais oito em Vacaria nessa semana — afirma.
Breda também disse que, em termos de internações, a situação agora é melhor que em dezembro, quando a Serra não chegou a ser pré-classificada na preta. Os dados referentes às UTIs, um dos indicadores que mostram a necessidade de assistência por agravamento da doença, estão com uma demanda semelhante nesses dois períodos. A reportagem comparou uma apuração própria do dia 17 de dezembro e os dados agora informados pelo Estado.
Médicos destacam momento crítico
Quase um ano após as medidas mais severas terem sido tomadas na região devido à pandemia de coronavírus, o momento se desenha como um dos piores enfrentados até agora. Para a infectologista Lessandra Michelin, o relaxamento de medidas de prevenção impacta em um cenário que hoje é preocupante para a região:
— É um dos momentos mais críticos e isso é o resultado da falta de cuidado das pessoas, que acharam que agora que nós temos vacina podemos ter uma vida normal, um convívio normal, principalmente sem máscara. Nós vimos isso acontecer principalmente no grupo jovem, mas também no grupo adulto, e agora está refletindo em uma maior circulação do vírus de novo na nossa cidade. Lembrando que as pessoas têm uma imunidade que dura em média cinco meses. Então, pessoas que já pegaram podem pegar de novo. E isso está acontecendo — salienta a diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
No Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, que atende principalmente o SUS na região e é referência para 49 municípios, o número de internações se elevou a partir de 15 de fevereiro. Segundo o diretor médico do HG, Alexandre Avino, a ocupação dos leitos covid, que vinha se mantendo em torno de 60% na UTI e 50% na enfermaria, subiu para 83% e 67%, respectivamente. Nesta segunda-feira, os percentuais aumentaram ainda mais: foram a 84% na terapia intensiva e a 85% nos demais leitos. Já a UTI adulta não covid-19 está 100% ocupada e as enfermarias têm 84% de ocupação, taxas que têm se mantido altas nos últimos meses. O diretor médico do HG alerta que isso compromete a possibilidade de ampliação da capacidade física de atendimento, caso necessário:
— Infelizmente, há uma preocupação, sim, pelo crescimento de casos de pacientes covid-19 e também uma preocupação para atendimento de pacientes não-covid, que se encontra acima do limite ideal. A Secretaria da Saúde solicitou a suspensão de procedimentos eletivos, corretamente. Então, temos um contingente de pacientes que não estão sendo tratados, seja por doença não maligna, mas também por neoplasias. Essa é uma situação que ninguém deseja, extremamente desagradável para pacientes, famílias e também muito desconfortável para as equipes assistenciais.
Em Caxias, a ocupação das UTIs ultrapassou os 80% pela primeira vez em 15 dias no domingo (20). No total, são 141 pacientes internados. Desses, 86 têm confirmação de covid ou suspeita da doença.