A paralisia nas atualizações de dados sobre infecções e mortes por covid-19 pelo Ministério da Saúde preocupa médicos e secretarias da saúde. O governo federal interrompeu a publicação de informações importantes sobre a situação do coronavírus no Brasil, deixando no escuro as autoridades para que possam analisar a gravidade do contágio e planejar políticas públicas.
A última atualização de informações foi feita na quarta-feira passada (4). Os números pararam em 5,590 milhões de infecções e 161.106 mortes. O ministério alega que sua rede de tecnologia foi afetada por um vírus na última quinta-feira (5). Por medida de segurança, foram bloqueadas as portas de acesso aos bancos de dados.
A informação mais recente, divulgada nesta terça-feira (10), é que alguns sistemas já foram restabelecidos. Mas a pasta não dá prazo para que voltem ao ar outras informações, como sobre a covid-19.
Na segunda-feira (9), dados de Estados como São Paulo, onde a contaminação está em estágio mais grave no país, Rio de Janeiro e Minas Gerais não foram atualizados ou ficaram incompletos.
A interrupção do serviço tem causado transtorno às secretarias da Saúde de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. As pastas precisam acessar um sistema de notificações do ministério para atualizar os novos casos e as mortes por covid-19. O problema é que desde sexta-feira este canal, chamado Sivep-Gripe, que agrupa casos mais graves de síndromes respiratórias, está fora do ar.
Para a Secretaria Estadual da Saúde (SES), o transtorno está em reunir dados do próprio Rio Grande do Sul, já que é no Sivep-Gripe que vigilâncias sanitárias municipais e hospitais cadastram as novidades — poucos municípios enviam os dados diretamente à SES. A secretaria afirma que os problemas têm levado os boletins de atualização a apresentarem números abaixo da média.
Nesta terça, a SES teve conhecimento de apenas quatro mortes por covid-19 no Rio Grande do Sul nas últimas 24 horas. Pelo quinto dia consecutivo, o número de óbitos não envolve todos os municípios. Na terça-feira anterior (3), haviam sido registrados 10 vezes mais mortes, 40 no total.
A prefeitura da Capital informa que tem reunido todas informações possíveis em seu próprio painel de controle de covid-19. Entretanto, devido à instabilidade na ferramenta do ministério, o sistema da prefeitura também passou a enfrentar dificuldades com a atualização dos óbitos.
Membro do Comitê da Covid-19 da Sociedade Riograndense de Infectologia (SBI), o infectologista Ronaldo Hallal avalia que a paralisação dos números é mais um fato que prejudica o enfrentamento ao coronavírus no Brasil. Ainda que a pasta atribua a problemas técnicos a inatividade no painel de controle, Hallal considera grave que não haja celeridade em restabelecer o serviço ou uma plataforma alternativa para entregar os dados à sociedade.
— O Ministério da Saúde tem reduzido os mecanismos de acesso a dados importantes e é resistente em dar transparência aos números da covid-19 no Brasil. Isso ocorre desde o início da pandemia, então causa estranheza atribuir esse novo movimento a um problema meramente técnico — diz Hallal.
Esse tipo de atitude vai minando a credibilidade do órgão, enquanto isso o país continua em uma situação grave diante da pandemia
RONALDO HALLAL
Membro do Comitê da Covid-19 da Sociedade Riograndense de Infectologia
Em junho, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), precisou determinar que a pasta voltasse a divulgar os dados completos sobre a transmissão do novo coronavírus no Brasil. A medida ocorreu após os boletins diários deixaram de informar o acumulado de mortes e de casos confirmados da covid-19, assim como a quantidade de óbitos em investigação. As informações também foram retiradas do site na ocasião.
— Esse tipo de atitude vai minando a credibilidade do órgão, enquanto isso o país continua em uma situação grave diante da pandemia — critica Hallal.
A reportagem questionou o Ministério da Saúde sobre a previsão para restabelecimento do painel e também se há outras formas da população acompanhar dados atualizados, mas não recebeu resposta até a publicação da reportagem.