Do ponto de vista científico, a interrupção dos testes com vacina de Oxford, na última terça-feira (8), demonstra um compromisso e o mais alto rigor com a segurança no desenvolvimento da imunização contra o coronavírus. A bióloga e imunologista Cristina Bonorino, coordenadora do Laboratório de Imunoterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), ajudou a esclarecer a situação em Gaúcha Atualidade desta quarta-feira (9).
— Não é um sinal de alerta, é um protocolo. Apareceu um efeito adverso (reação à imunização), realmente tem que parar. Não é para ficar desanimado porque tem outras vacinas sendo testadas também. E talvez (o efeito adverso) não seja nada relacionado à vacina. Mas que bom que alguém está olhando isso, não é? E tem várias pessoas olhando isso — avalia a imunologista.
Cristina se refere aos protocolos rigorosos de acompanhamento da saúde de cada voluntário que tomou as doses, semana a semana. Ela ressalta que isso é feito por empresa independente e internacional, com treinamentos sempre atualizados.
Não há detalhes do efeito colateral que foi registrado pela vacina em testes da Universidade de Oxford, feita em parceria com o laboratório AstraZeneca, considerada uma das mais desenvolvidas atualmente e em fase de testes no Brasil. Conforme Cristina, há vários graus de efeitos adversos, que podem ser desde uma febre até a hospitalização. Se a pessoa é internada e tem um ataque cardíaco, por exemplo, é preciso investigar se tem relação com a vacina.
Ainda segundo a imunologista, o processo de revisão dos dados podem durar algumas semanas, mas não há como precisar por quanto tempo os testes ficarão pausados. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já recebeu a mensagem de suspensão enviada pela AstraZeneca e informou, por meio de nota, que " aguarda o envio de mais informações sobre os motivos da suspensão para analisar os dados".
O anúncio da suspensão ocorreu no mesmo dia em que o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a previsão é começar a vacinar a população brasileira contra covid-19 em janeiro de 2021. A coincidência gerou um impacto negativo no que se convencionou a chamar de "corrida pela vacina" – as diversas pesquisas em andamento para descoberta de um imunizante –, transformada em disputa política entre países mundo afora
Para Cristina Bonorino, no entanto, o tema não deve ser tratado pela ótica da urgência, mas sim pela da eficácia. Além disso, avalia a imunologista, "o problema é que a gente não estava preparado para enfrentar um desafio como esse":
— Essa corrida é uma invenção. Não existe uma corrida. Existe qual a melhor (vacina). Não adianta terminar antes e ser uma vacina ruim. Não adianta terminar antes e ter efeitos adversos. Isso não é útil para humanidade. Mais de uma (vacina), acho ótimo, para que se possa comparar os efeitos. O que se criou foi uma expectativa, uma falácia, de que a vacina vai resolver — afirma. — A saúde não era prioridade. Vamos ter várias pandemias. E vou te dizer, podia ser bem pior que essa — completa.