A testagem, que é um dos pilares do acompanhamento da evolução do coronavírus e um dos fatores determinantes para a reabertura, segundo o protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS), anda a passos lentos no país. Desde o início da pandemia até o mês passado, aproximadamente, somente 6,3% dos brasileiros haviam sido testados para a covid-19, aponta a mais nova rodada da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid19), divulgada nesta quinta-feira (20). Das 13,3 milhões de pessoas testadas, 2,7 milhões haviam obtido resultado positivo para a doença até o mês de julho.
No Rio Grande do Sul, o percentual de testes aplicados foi de 4,5%. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), em julho, o Estado lançou o projeto Testar RS, que de imediato dobrou a capacidade diária de testagem, ampliando de mil para 2 mil testes laboratoriais (RT-PCR). A promessa do governo é ampliar para 8 mil testes/dia RT-PCR (leia a nota completa da SES abaixo).
O Estado com maior aplicação de testes foi o Distrito Federal, com 16,7%, e o menor foi Pernambuco, com 4,1%. Foi observado ainda que, quanto maior o nível de escolaridade, maior foi o percentual de pessoas que fez algum teste para a doença. Entre as pessoas sem instrução ao Fundamental incompleto, o índice foi de 3,1% e, entre aqueles com nível Superior ou pós-graduação, os números chegaram a 14,2%.
A mesma lógica se aplica quando é levado em consideração o fator renda. Quanto maior a classe de rendimento domiciliar per capita, maior o percentual de pessoas que realizaram algum teste para covid-19, chegando a 14,2% para as pessoas pertencentes às classes mais ricas, e abaixo de 4% para os mais pobres.
O estudo trouxe ainda novos eixos de análise em relação a fatores que dialogam com a pandemia. As comorbidades, que são doenças agravantes para pessoas que têm diagnóstico positivo para o coronavírus, foram identificadas em 28,4% das pessoas, o que equivale a 3,24 milhões de gaúchos. A nível nacional, elas aparecem em 47,2 milhões de brasileiros, sendo a hipertensão a de maior prevalência. Ela foi mapeada em 12,8% deste contingente.
Outro ponto de destaque foi o comportamento dos cidadãos do país frente à doença. Uma das recomendações de diversos organismos nacionais e internacionais de saúde é o isolamento social. Contudo, o índice de pessoas que reduziu o contato social não chegou nem à metade da população gaúcha. 40,3% afirmaram que só saíram por necessidade básica, 35,6% revelaram que reduziram contatos, mas continuaram saindo e/ou recebendo visitas, 22,2% disseram que ficaram rigorosamente isolados e 1,4% afirmam não terem feito restrição de contato em julho.
O panorama é muito parecido a nível nacional. Apenas 43,6% das pessoas ficaram em casa e saíam em caso de necessidades básicas, 30,5% reduziram o contato, mas continuaram saindo, 23,3% permaneceram isolados e 2% não adotaram qualquer tipo de medida de restrição em julho. Em relação aos grupos de idade, a restrição ficou maior entre crianças até 13 anos e entre os com 60 anos ou mais – para estes últimos, 84,5% ficou em casa saindo apenas em caso de necessidade ou ficou em casa.
Em relação ao acesso a itens básicos de higiene e proteção, foi verificado que, dos 68,5 milhões de domicílios, havia sabão ou detergente em 99,6% deles. A máscara foi outra ferramenta de proteção vista em 99,3% dos lares brasileiros, a água sanitária está presente em 98,1% das casas e o álcool 70% em 95,8% dos domicílios. Foi percebido ainda que estes itens estão mais presentes em lares com rendimento per capita mais elevado. Destaca-se a menor presença de álcool 70% nas casas com menos de meio salário mínimo per capita – na Região Norte esse índice chega a 90,5%.
RS segue tendência nacional de queda de pessoas que apresentaram um sintoma gripal
No Rio Grande do Sul, caiu o percentual de pessoas que disseram ter tido algum dos 12 sintomas de síndrome gripal listados pelo IBGE. Em julho o percentual foi de 7,7%, sendo que em maio havia sido de 12,2% e, em junho, de 8,6%. Por outro lado, a quantidade de gaúchos que diz ter tido sintomas conjugados se mantém estável: 0,6% em maio, 0,5% em junho e 0,6% em julho.
Em julho, 13,8 milhões de brasileiros, o que corresponde a 6,5%, apresentaram algum dos sintomas de síndrome gripal pesquisados. Em maio, eram 11,4% da população com algum sintoma e, em junho, 7,3%. A característica de perda de cheiro ou de sabor foi apontado por 0,8% das pessoas. A tosse, a febre e a dificuldade para respirar, assim como tosse, febre e dor no peito, foram declarados por 0,3% da população. Neste mesmo período, 2,1 milhões de pessoas, ou seja, 1% da população, apresentaram sintomas conjugados de síndrome gripal que podiam estar associados à covid-19.
Mulheres negras e sem escolaridade são as que apresentam mais sintomas de síndrome gripal
Entre esse grupo de pessoas que apresentaram algum dos sintomas citados, 57,3% eram mulheres, 49,5% tinham entre 30 e 59 anos, 56,6% se declararam de cor preta ou parda e 35,1% eram sem instrução ou com fundamental incompleto. Em relação ao sexo, observou-se tendência de crescimento na participação de mulheres com algum sintoma, e o mesmo foi verificado para as pessoas de 60 anos ou mais de idade. Em maio, 14,8% das pessoas com algum sintoma situavam-se neste grupo etário, passando para 15,8% em junho e para 16,4% em julho. A participação da população sem instrução entre as pessoas com algum sintoma também cresceu, passando de 32,8% em maio para 35,1% em julho.
No mês passado, aproximadamente, 22,8% das pessoas que apresentaram algum dos sintomas gripais procurou atendimento em estabelecimento de saúde. A maioria das pessoas — 75,3% entre as que apresentavam algum sintoma — procurou atendimento em unidades públicas de saúde.
Já entre as pessoas que procuraram atendimento em hospitais, em junho, 11,2% das que apresentaram algum dos sintomas pesquisados e 14,6% que mostraram algum dos sintomas conjugados precisaram ficar internadas. A maior parte dessas pessoas internadas eram homens, 53,4%, e de cor preta ou parda, 56,4% e 57%, respectivamente.
O que diz a SES
"Em julho, o Estado lançou o projeto Testar RS, que de imediato dobrou a capacidade diária de testagem, ampliando de 1 mil para 2 mil testes laboratoriais (RT-PCR) ao dia, com o auxílio de laboratórios de fora do Estado. Ainda neste mês de agosto, o Testar RS prevê ampliar para 8 mil testes/dia RT-PCR, por meio do uso do aplicativo Dados do Bem, que poderá ser acessado por toda a população gaúcha.
Entre as explicações para os indicadores da pesquisa do IBGE está o fato de que o RS figura entre os Estados com menor taxa de incidência da Covid-19. O percentual da população infectada é um dos menores do país. E vale lembrar que o percentual da população testada não é o indicador mais importante.
O que importa é testar com qualidade e precisão. Não adianta testar sem critério, até porque esses testes têm um alto custo para a sociedade. Deve-se testar as pessoas suspeitas e os contatantes. Na testagem de qualidade, o RS está melhor do que o resto do país, prova disso é a pesquisa da UFPel ao mostrar que o RS tem apenas 1,4 vezes mais casos do que as estatísticas mostram, enquanto que esse indicador no Brasil é de 6 vezes mais casos do que os registros oficiais. Isso mostra que o RS está testando as pessoas que precisariam ser testadas.
Outra situação é que a epidemia chegou depois no RS do que em outros Estados. Assim, essa defasagem é normal. Somente ao final da epidemia é que se poderá comparar a qualidade, a quantidade e a precisão dos testes."