A congestão nasal é um problema incômodo e bastante comum, principalmente nesta época do ano – considerando que pode ser causado por gripes, resfriados, sinusites ou alergias respiratórias, que são ainda mais frequentes no inverno. Para se livrar da dificuldade de respirar, muitas pessoas costumam fazer uso frequente e por conta própria de descongestionantes nasais.
De acordo com uma pesquisa sobre automedicação realizada em 2018 pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), o uso de descongestionante por conta própria no Brasil é de 15%. No entanto, ao contrário do que se imagina, o medicamento não é inofensivo e seu uso contínuo pode trazer alguns malefícios à saúde.
José Fabies Lubianca Neto, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que nas substâncias dos descongestionantes existem análogas sintéticas da adrenalina, que fazem com que ocorra alterações no revestimento do nariz e podem desencadear outros problemas mais graves, como hipertensão e arritmia cardíaca:
— O nariz absorve muito dessas gotas para o organismo, porque ele é vascularizado, e como elas (as gotas) são semelhantes a adrenalina, elas aumentam a frequência cardíaca, podem aumentar a pressão arterial e podem predispor a arritmias, por exemplo. Nos homens, é comum ocorrer retenção urinária aguda, porque as substâncias fazem uma contração na próstata, trancando o canal da urina.
O médico salienta que, embora as substâncias variem de acordo com a marca do medicamento, todas elas são da mesma família e têm a mesma ação — são os chamados simpaticomiméticos. Por isso, o uso recomendado dos descongestionantes é de, no máximo, três dias consecutivos.
Segundo Lubianca, quando se ultrapassa cinco dias de uso, o medicamento pode gerar a chamada rinite rebote, que é a necessidade de usar cada vez mais gotas e com maior frequência, para que tenha o mesmo efeito de antes. Por este motivo, muitas pessoas se dizem viciadas em descongestionantes nasais.
— Isso é causado por uma substância que tem no medicamento, chamada de vasoconstritor. Ela atinge a estrutura interna do nariz, o corneto, e contrai um por um dos vasos. Com isso, o corneto diminui de tamanho e deixa um espaço maior na fossa nasal para passar o ar: é essa a sensação de alívio que as pessoas têm — esclarece.
No entanto, ele alerta que o uso contínuo faz com que o nariz perca sua função de aquecer, umidificar e filtrar, e passe a ser um mero tubo condutor de ar:
— Quando o corneto murcha com o uso dessas gotas, o ar passa direto pelo nariz e outras regiões que não são feitas para isso, como a garganta, acabam tendo que fazer a função dele. Isso gera outros sintomas, como tosse, ressecamento e sensação de secreção presa na garganta.
Debate no Twitter
O uso de descongestionantes nasais virou debate no Twitter no último domingo (9). Muitos internautas compartilharam quais medicamentos usam e falaram sobre a relação com o remédio: alguns se disseram viciados e outros relataram os efeitos colaterais sentidos após o uso frequente.
Além das questões sistêmicas, há a questão emocional, ressalta Rafael Rossell Malinsky, otorrinolaringologista do Hospital Moinhos de Vento. De acordo com ele, é comum o relato de pacientes que ficam dependentes do remédio a ponto de não conseguirem dormir sem estar com uma embalagem próxima.
— Gera uma certa dependência emocional, porque respirar mal é horrível, então, se aquilo me dá uma sensação de alívio, melhora minha qualidade de vida, eu preciso estar sempre usando — exemplifica.
Além de ser causada por gripes e resfriados, a congestão nasal pode decorrer devido a problemas como desvio de septo, hipertrofia de corneto, polipose nasal ou até mesmo algum tumor nasal. Por isso, Malinsky enfatiza a importância de procurar um médico especialista e investigar o que está causando a obstrução crônica — quando persiste por mais de duas semanas —, para, então, fazer o tratamento correto:
— Toda obstrução nasal tem uma causa, e ela difere de pessoa para pessoa. Se é uma rinite, precisa ser tratada como uma rinite. Se é um desvio de septo, muitas vezes é preciso operar. Não existe um tratamento genérico para melhorar a obstrução, ao tratar e desobstruir com descongestionante, nós estamos tratando a consequência, é preciso ir atrás da causa.
Lubianca complementa afirmando que a causa mais comum da obstrução é a rinite alérgica e que ela tem tratamento e controle, embora não tenha cura. Segundo ele, o tratamento envolve medicações via oral, como antialérgicos, e tópicas, que são corticoides que não têm absorção sistêmica — ou seja, os sprays utilizados no controle da rinite não causam danos como os descongestionantes.