A chegada do inverno muda o visual do rosto das pessoas. Além de toucas e cachecóis, elas podem apresentar nariz vermelho ou escorrendo. Também fica mais comum ouvir alguém tossir ou espirrar. Na maioria das vezes, esses transtornos corriqueiros da estação fria são ocasionados por doenças respiratórias como rinite, sinusite e bronquite – popularmente conhecidas como “ites”.
Fabiano Haddad Brandão, médico do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia, explica que o inverno prejudica nossa defesa alérgica, porque a falta de chuva aumenta a concentração de poluentes no ar. Por isso, as pessoas acabam aspirando mais esses poluentes e irritando mais nariz, olhos e pulmões. Além disso, o frio provoca uma diminuição do batimento ciliar, uma defesa própria do organismo.
— Todas as nossas células, desde o nariz até o pulmão, têm, microscopicamente, alguns cílios, uns cabelinhos que ficam se movimentando e tirando as impurezas do nariz, jogando essa secreção para trás, direcionando para o nosso estômago, para matar essas bactérias —ilustra Brandão.
Assim, fica facilitado o “trabalho” de implantação de irritantes – como poeira, ácaros e poluentes – na mucosa nasal e pulmonar, deixando as pessoas mais vulneráveis a problemas respiratórios. No inverno, segundo o médico, a procura por atendimento por causa dessas doenças cresce de 20% a 30%.
Além disso, o clima frio faz com que as pessoas fiquem mais dentro de casa, diminuindo a circulação de ar. Rafael Malinski, otorrinolaringologista do Hospital Moinhos de Vento (HMV), afirma que isso também pode contribuir com obstruções e irritações da mucosa.
— Por consequência, a gente acaba respirando mais pela boca, e o ar não é feito para passar pela boca. É para passar pelo nariz, para ser aquecido e preparado para chegar nos pulmões. Quando a gente respira de forma errônea, isso também favorece algumas doenças — explica.
A rinite
Trata-se de um processo alérgico que provoca irritação e coceira no nariz, nos olhos, nos ouvidos e na garganta. Os sintomas comuns da rinite são espirros, coriza e obstrução nasal, que atuam como uma defesa descontrolada do organismo perante as irritações externas.
— Por exemplo, o nariz começa a escorrer porque ele tenta “tirar” esse irritante de dentro dele na forma de coriza, de espirro. Você fica com o nariz entupido para não aspirar mais esses irritantes. Isso é um descontrole da nossa defesa — afirma o otorrinolaringologista Brandão.
— A pessoa já nasce com propensão de desenvolver, e aí vai tendo contato com os irritantes e tendo uma alteração das suas defesas. Ela começa a ter uma sensibilidade maior, conforme a exposição.
A sinusite
É uma doença decorrente da rinite. Segundo Brandão, ocorre após uma obstrução nasal prolongada, que faz com que a secreção fique acumulada dentro do nariz:
— Como essa secreção começa a “grudar” as bactérias que estão no ar e que respiramos o tempo inteiro, ela começa a aderir também na mucosa, no tecido que recobre o nariz e os seios da face. Essas bactérias entram na mucosa e causam a doença, a infecção, e aí a pessoa começa a ter uma secreção purulenta, dor, febre e mal-estar.
O problema pode ser agudo ou crônico. A sinusite aguda pode ocorrer em duas situações: quando a pessoa está com a rinite muito descontrolada ou quando ela tem uma gripe ou resfriado que não se resolveu por mais de 14 dias. A crônica ocorre quando os sintomas permanecem por mais de quatro meses, sem melhora.
A bronquite
É uma inflamação crônica dos brônquios – que fazem parte da árvore respiratória. Essa doença é caracterizada por tosse persistente, secreção pulmonar e crises de falta de ar. Por esse motivo, acaba sendo mais complicada do que as outras.
— As pessoas têm crises e precisam ir para o hospital, fazer inalação, tomar antibiótico, porque pode evoluir para uma pneumonia. E o inverno propicia muito mais crises, que a gente chama de broncoespasmos — relata Brandão.
Tratamentos são específicos
Apesar de semelhantes, cada doença requer um tratamento diferente. No caso da rinite, o principal é evitar o contato com os irritantes. Por exemplo, se for usar uma roupa guardada há muito tempo, o ideal é lavá-la antes.
Outra medida boa é fazer lavagem nasal com soro fisiológico, que retira os irritantes e estimula o batimento ciliar. Também é possível usar medicamentos antialérgicos para controlar os sintomas. Há tratamentos de ataque e de manutenção, que ajudam a estabilizar as células para evitar que a pessoa tenha muitas crises alérgicas.
Para a sinusite, também é recomendada a limpeza nasal. No entanto, antialérgico não resolve o problema, sendo necessários remédios para desinflamar a mucosa, como antibióticos – que também são indicados para o tratamento da bronquite.
Mesmo sendo doenças comuns, é fundamental procurar um médico para diagnosticar com precisão, bem como definir o tratamento mais indicado. Caso contrário, uma sinusite mal tratada pode evoluir para uma sinusite crônica, por exemplo.
Para tentar prevenir essas doenças ou as crises, o otorrinolaringologista Rafael Malinski recomenda manter os ambientes bem arejados, além de cuidar cortinas e tapetes (que podem acumular poeira) e evitar a troca brusca de temperatura, o que inclui não exagerar no ar-condicionado.
— No quente, o aparelho seca muito o ar, e isso irrita a mucosa do nariz — alerta o médico.
A diferença em relação à covid-19
Sintomas como tosse seca, falta de ar e coriza são comuns em “ites” e na covid-19. O sinal de alerta deve ser ligado caso também seja constatada febre alta, dores no corpo, na garganta, na cabeça ou falta de ar em demasia.
Em alguns casos, também ocorre perda de olfato e diarreia. Então, se você tiver sintomas de gripe com essas características e falta de ar de leve a severa, é bom procurar um médico e realizar exames.