Responsável pela regulação geral dos leitos hospitalares no Rio Grande do Sul, com a atribuição de promover transferências de pacientes e pensar estratégias regionais, a Secretaria Estadual da Saúde está analisando soluções para o possível colapso da rede em Porto Alegre em momento de auge da pandemia.
Nesta sexta-feira, a capital gaúcha atingiu 89% de ocupação das unidades. Os pacientes com covid-19 demandam, no momento, 35% do total de leitos de UTI da cidade. Os demais estão internados por outras enfermidades. A previsão é de que o esgotamento do sistema possa ocorrer no final de julho.
Nesta entrevista, o diretor da Central de Regulação do Estado, Eduardo Elsade, avalia as opções e descarta a montagem de hospital de campanha mesmo em situação emergencial. A prioridade continuará sendo apostar nas estruturas já existentes. Confira abaixo:
Com Porto Alegre se aproximando do esgotamento, seria possível a regulação estadual fazer a transferência de pacientes da Capital para outras regiões do Estado?
A regulação estadual já faz transferência para outras regiões por critérios técnicos quando isso é necessário. Esta semana, fizemos algumas transferências da Região Metropolitana para outras regiões exatamente porque, em questão de 15 dias, estávamos em situação de dificuldade de medicamentos em alguns hospitais da Região Metropolitana e alguns hospitais do Litoral. Fizemos mais de 20 transferências de pacientes da Região Metropolitana para hospitais do interior do Estado. Faremos de outras regiões assim que entrarem em situação mais premente.
A portaria 299, que trata dessas transferências de pacientes, determina que, a partir de 90% de ocupação de leitos de uma região, a regulação estadual poderá, a critério técnico, encaminhar para outras regiões, até para não chegar em 100% de esgotamento dos recursos de UTI de uma região.
Há situação de esgotamento de profissionais de saúde nas UTIs de Porto Alegre e dificuldade para contratar. Diante disso, a regulação estadual poderia trazer para Porto Alegre profissionais de saúde que atuam no SUS em regiões menos pressionadas?
Avalio que a questão de transferência de profissionais de uma região para a outra é um pouco mais complicada, depende de contratos, de prestadores. Quando a gente faz regulação, é mais no sentido de paciente. Transferência de profissionais é mais complicado, mas eventualmente até poderia ser pensado.
A gente vem utilizando todas as estratégias possíveis na garantia de acesso aos pacientes, incluindo as transferências entre instituições e regiões. Fizemos preparação para a compra e a requisição de leitos em hospitais privados. Ainda não houve necessidade, mas, quando houver, a regulação estadual fará isso. Fizemos grande ampliação de leitos, chegaremos a mais de 100% de ampliação de leitos novos de UTI no Estado. Estamos usando todas as estratégias possíveis.
Sobre o uso temporário de UTIs dos hospitais privados, como seria o procedimento?
Fizemos um processo de chamamento público em que alguns hospitais se cadastraram para vender leitos de UTI ao Estado. Vamos utilizá-los na medida da necessidade. E, dependendo da região, se não tivermos oferta, poderemos requisitar leitos de UTI da rede privada, ressarcindo conforme a tabela de pagamento do Estado.
Seria possível utilizar para a covid-19 os leitos pós-operatórios de cirurgias eletivas? Seriam adequados?
Em situação extrema, a utilização de leitos de salas de recuperação é uma medida que pode ser tomada. Ela já está no plano de emergência dos hospitais do Rio Grande do Sul, que se organizaram para abrir leitos extras e utilizar salas de recuperação e outros leitos emergenciais caso a necessidade se apresente.
Seria possível o Estado, em conjunto com a prefeitura, montar um hospital de campanha em tempo recorde?
No Estado, a gente optou por solução mais efetiva, que é ampliar leitos dentro dos hospitais que já existem. Inclusive ainda temos alguns hospitais fechados ou com ocupação muito baixa, principalmente em Porto Alegre, que poderiam ser utilizados para isso, sem a necessidade de um hospital de campanha, que sempre é uma estrutura provisória. Achamos melhor ampliar as estruturas dentro de hospitais do que investir em hospitais de campanha, que são estruturas enjambradas, com equipes que estão ali por tempo determinado. Isso não melhora a estrutura como um todo. E, mesmo em hospitais de campanha, teria de ter equipes médicas, medicamentos, equipamentos, respiradores. Tendo essa disponibilidade de equipamentos e recursos humanos, colocamos em hospitais que já existem e ampliamos estruturas já em funcionamento. Consideramos o mais adequado.