A notícia de que a Rússia aprovaria uma vacina contra o coronavírus na primeira quinzena de agosto causa alvoroço desde sua divulgação, nessa terça-feira (28). Autoridades do país informaram que as doses, produzidas pelo Instituto Gamaleya, que tem sede em Moscou, estariam disponíveis para profissionais de saúde já no dia 10 do próximo mês. A informação, no entanto, gera desconfiança da comunidade científica.
As dúvidas pairam, principalmente, por que o país ainda não publicou em revista científica nenhum estudo que mostre os resultados das fases um e dois, praxe para o avanço para a última etapa, a terceira, na qual um número maior de indivíduos recebe as doses para avaliação de segurança e eficácia. Conforme informações da rede CNN, o imunizante russo estaria na segunda etapa, com previsão de conclusão prevista para 3 de agosto. A terceira fase, diz a rede, seria conduzida em paralelo.
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), não acredita que seja possível cumprir esse prazo. Porém, completa, se a Rússia conseguir, dificilmente, uma agência internacional aprovaria as doses.
— Mesmo que sejam estudos de fase dois ou três, precisa de alguns meses para cumprir o rigor científico. A meu ver, não há condição de ser aprovada por agências internacionais, como o Food and Drug Administration (FDA, órgão norte-americano similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil, a Anvisa). Para mim, é fake — fala.
Entretanto, pondera o médico, pode-se pensar na hipótese de a Rússia autorizar internamente a vacina, aos moldes do que fez a China ao liberar uma vacina experimental para militares.
Estudos na última fase
Na manhã desta quarta-feira (29), em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, a diretora-assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a área de medicamentos, vacinas e produtos farmacêuticos, Mariângela Simão, destacou que desenvolver uma vacina é um processo longo, que leva, em média, 10 anos.
— Eu diria que um ano é perto. Não é semana que vem — disse, respondendo à pergunta se estamos próximos de ter uma vacina.
Mariângela também falou que a OMS mantém um banco de dados sobre as vacinas, mas que não tem muitas informações sobre a que é desenvolvida na Rússia, diferentemente do que acontece com outras candidatas que já avançaram para a última etapa.
De acordo com a CNN, os russos alegam que a rapidez no desenvolvimento se dá porque ela foi uma versão modificada de outro imunizante criado para combater outras doenças.