Débora Laks
Psicóloga
Dona Maria mal pode esperar por ter sua casa cheia dos filhos e netos. Na sua família, aos domingos quem pode se reúne em sua residência, as crianças correm, os adultos conversam e assam churrasco. Matheus também sente muita falta de ir à casa da avó e abraçá-la. Pergunta recorrentemente quando esse bichinho irá embora.
Neste domingo (26) é Dia dos Avós. Uma data que muitas vezes passa despercebida na rotina de encontros e trocas frequentes. No entanto, neste ano, a falta da possibilidade de convivência próxima entre avós e netos nos convida a pensar sobre o significado destas relações.
Em função do envelhecimento da população, tem sido possível que as crianças convivam mais com os avós e, com sorte, até com os bisavós. Em uma sociedade que cultua a juventude e teme o envelhecimento, as trocas entre gerações têm um grande valor. Talvez nos abram os olhos para a riqueza da passagem do tempo e o ganho que temos com as experiências acumuladas.
Para os avós, o convívio com netos pode significar ver a vida se renovando. As crianças podem trazer movimento, afeto e trocas pulsantes. Mas e para as crianças?
Muitos psicanalistas estudam a questão da transmissão psíquica intergeracional, e este é um tema interessante quando pensamos nos pequenos. Quando um avô convive com seu neto, está transmitindo valores, histórias e o jeito das gerações passadas. Nessas trocas, há o elo entre quatro gerações, já que os progenitores conviveram com seus pais e avós também.
Freud enfatizou a transmissão do narcisismo no convívio familiar. Nesse sentido, o bebê seria herdeiro de sonhos e desejos projetados pelos seus pais, ponto crucial a partir do qual o sujeito pode constituir sua subjetividade.
Em época de pandemia, repensar a importância de uma constituição psíquica sólida e rica em trocas afetivas é fundamental. Quais valores queremos deixar para a próxima geração é a questão, não é mesmo?
Ao estarmos mais isolados, talvez possa haver espaço para refletir sobre o bem-estar e os princípios que regem nossas vidas. Esse tema é perpassado pela singularidade e, por isto, torna-se extremamente particular. No entanto, examinar como estamos nos relacionando é crucial.
Conscientes da inestimável importância dessas transmissões, é fundamental a manutenção dos vínculos, mesmo que a distância. Neste momento em que os idosos já estão tão ameaçados pelo vírus, que os núcleos familiares encontrem meios de devolver o cuidado de outrora.
Um feliz Dia dos Avós!