Uma das maiores lideranças caingangues do Rio Grande do Sul e líder da aldeia da Serrinha, no norte do Estado, o cacique Ronaldo Inácio Claudino, conhecido como Cacique Roni, morreu por coronavírus em 3 de julho, aos 47 anos.
Descrito como um líder caingangue atento, paciente e de voz baixa, Roni liderava cerca de 4 mil indígenas da Reserva da Serrinha, localizada em uma área que hoje corresponde aos municípios de Ronda Alta, Três Palmeiras, Engenho Velho e Constantina.
Admirado pela aldeia inteira, Roni obteve, ao longo de mais de três anos como líder, importantes vitórias para os caingangues, sobretudo no processo de independência econômica.
Após sua liderança, a comunidade conquistou maquinários agrícolas, o que permitiu aos indígenas trabalhar pela própria subsistência, conta o irmão mais novo de Roni e novo cacique da Reserva da Serrinha, Marciano Claudino, 44 anos.
— Hoje, fazemos a aldeia ser mais autossuficiente para o índio cultivar as terras. Ou seja, estamos saindo da mão de branco — afirma Claudino.
Famoso pelo desempenho no futebol como centroavante, Roni chegou a ser sondado pelo Inter para ser atleta na juventude, mas os pais, apegados ao filho, não permitiram. Roni se tornou cacique seguindo os passos do pai, o então cacique Antônio Mig Claudino, assassinado a tiros em 2017.
Cacique Roni também era conhecido por defender os direitos de indígenas que trabalhavam em frigoríficos da região. Ele foi um dos infectados em um surto de coronavírus na aldeia trazido por funcionários das empresas, segundo Claudino e o prefeito de Ronda Alta, Miguel Gaspareto. O novo cacique afirma que cerca de 20 pessoas foram infectadas.
Roni chegou a ser internado em Ronda Alta, mas retornou à aldeia. Dois dias depois, voltou para internação e, logo em seguida, foi encaminhado ao Hospital de Clínicas de de Passo Fundo, onde faleceu. Ele tinha obesidade, diabetes, pressão alta e problemas cardíacos.
A pandemia impediu um grande velório de despedida que, para os indígenas, atrai toda a comunidade e moradores das aldeias vizinhas. Ainda assim, a devida homenagem foi prestada: o carro da funerária com o corpo de Roni percorreu a Reserva da Serrinha seguido por um cortejo de 200 carros. Ao passar na frente das casas, moradores saíam para despedir-se do cacique.
— Foi uma comoção, nunca vi uma comunidade tão destroçada e triste. Quando um índio morre, todos os índios da aldeia e de outras aldeias vêm para se despedir, independentemente de conhecer. Se não fosse a pandemia, seria um velório de 10 mil pessoas — afirma o cacique Marciano.
O governo do Estado emitiu uma nota de pesar pela morte do cacique Roni, por meio da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. O texto diz que "a comunidade gaúcha presta solidariedade aos povos indígenas, que perdem hoje uma grande liderança na luta pelo reconhecimento dos direitos dos povos originários".
Cacique Roni deixa enlutados esposa, dois filhos, duas filhas, um neto, uma neta, dois irmãos, três irmãs e quase 4 mil caingangues da Reserva da Serrinha.