Entidade financiadora dos testes da vacina para a covid-19 no Brasil, a Fundação Lemann, sediada em São Paulo, acredita que, caso haja sucesso no desenvolvimento do antídoto, ele será comercializado a valores módicos enquanto persistir a circulação do coronavírus. As pesquisas são conduzidas pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, em parceria com a indústria farmacêutica AstraZeneca, de origem sueco-britânica. No Brasil, a aplicação das testagens, autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), será responsabilidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
— O compromisso da Universidade de Oxford com a AstraZeneca é de a vacina ser vendida a preços de custo enquanto durar a pandemia. É um fator que nos animou, garante acesso a quem mais precisa — avalia Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann.
Não há manifestação prévia de que o Brasil poderá constar entre países prioritários para a aquisição a vacina, em caso de sucesso no desenvolvimento, devido à condição de colaborador na pesquisa.
— Essa é uma decisão da farmacêutica responsável, mas a gente espera que vá nessa direção. Esperamos que isso ajude o Brasil a ter acesso à primeira leva, certamente haverá disputa muito grande — projetou Mizne.
No país, será realizada a fase 3 da pesquisa, que consiste na aplicação do antídoto desenvolvido em grupos massivos de pessoas. Depois, será feito o acompanhamento para verificar se a substância produziu anticorpos e evitou o desenvolvimento da covid-19. Coordenado pela Unifesp, os esforços contarão com dois centros de testagens, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, regiões em que o vírus circula em larga escala. O fato de o Brasil ainda estar na curva ascendente do coronavírus pesou para a escolha do país como sede para as testagens da fase 3.
Mizne diz que o convite para financiar a pesquisa surgiu a partir de contatos feitos pela Universidade de Oxford e pela pesquisadora brasileira especializada em doenças infecciosas e proteção por vacinas Sue Ann Costa Clemens, diretora do Instituto para a Saúde Global da Universidade de Siena.
— Eles nos procuraram há algumas semanas e entendemos a importância disso. É muito importante que o Brasil comece a participar desses esforços internacionais. Ficamos felizes que o governo brasileiro aprovou rapidamente — diz o diretor.
A Fundação Lemann não divulga o valor do investimento, mas ressalta que sua participação é exclusivamente com a viabilização da aplicação dos testes no Brasil.
— A nossa parcela está totalmente focada nos custos da testagem, não tem a ver com o desenvolvimento do antídoto. É um esforço de infraestrutura, de reforma do centro do testes da Unifesp, adequação às normas técnicas, contração de profissionais de saúde e aquisição de equipamentos de proteção — pontua Mizne.
Ele destaca que, dentre as diversas vacinas em desenvolvimento no mundo, a de Oxford "é uma das mais avançadas".