O número de pessoas com covid-19 internadas em UTIs no Interior aumentou 40% em uma semana e chegou a 164 pacientes nesta sexta-feira (12).
O avanço da pandemia e de outras patologias mais frequentes no período de frio fez com que 10 municípios gaúchos registrassem lotação igual ou superior a 90% — o que acende um sinal de alerta na rede de atendimento.
O universo de hospitalizados com teste positivo para coronavírus representava 13% dos 1.248 leitos disponíveis fora da Capital. Somados aos casos suspeitos, sem confirmação por exame, esse percentual chegava a 20%.
— O crescimento se deve a uma maior circulação da população nas últimas duas semanas, em que houve flexibilizações. Além disso, muitas pessoas parecem não levar mais a sério a pandemia, deixando de usar máscara ou usando no queixo — avalia o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Na sexta-feira da semana passada (5), os dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) apontavam 117 doentes com coronavírus sob tratamento intensivo nas redes pública e privada fora de Porto Alegre. Conforme levantamento realizado por GaúchaZH com base nos dados disponíveis até as 11h30min desta sexta (parte dos hospitais atualiza as informações ao longo do dia), Santa Maria registrou o maior crescimento nesse intervalo.
Havia sete pessoas com teste positivo internadas uma semana atrás na cidade da Região Central. Nesta sexta, esse número havia saltado para 21. Ao todo, 33 municípios informavam pelo menos uma internação por covid-19. Mas, com a proximidade do inverno e a pressão de outras doenças respiratórias, nem sempre a pandemia é responsável pela sobrecarga hospitalar. Em Uruguaiana, o site da SES indicava 100% de lotação, mas nenhum caso de coronavírus.
— Desde o começo da pandemia, tivemos apenas um paciente muito grave, que realmente quase foi a óbito. Nossa demanda é por outras causas — afirma o prefeito de Uruguaiana, Ronnie Mello.
Número de leitos aumentou no RS
Muitos prefeitos buscam a abertura de leitos para dar conta da demanda atual e futura. Ronnie Mello tenta mais 10 vagas para tratamento intensivo em Uruguaiana, que recebe pacientes de municípios vizinhos como referência em oncologia e neurologia. A prefeitura registrava 88% de lotação no meio da tarde, um pouco abaixo do dado estadual. Esse tipo de divergência pode ocorrer porque o número de pacientes em UTI costuma variar ao longo do dia.
Também há questões burocráticas que geram diferenças na contabilidade de leitos disponíveis. A SES indica 11 vagas em São Leopoldo, que estariam todas ocupadas na sexta. Mas há outros nove leitos, sem habilitação no Estado, que estão recebendo pacientes. Mesmo pelas contas da prefeitura, a situação estava perto do limite: 17 doentes nas 20 vagas. Na UTI não-covid, a ocupação era de fato de 100%.
— O que agrava a situação é o frio e a proximidade do inverno, e o que ajudaria nesse momento era uma postura mais ativa de coordenação do Ministério da Saúde e as políticas de distanciamento social — afirma a presidente da Fundação Hospital Centenário, de São Leopoldo, Lilian Silva.
O presidente da Famurs e prefeito de Palmeira das Missões, Eduardo Freire, afirma que a busca por mais leitos é uma das formas de garantir que não haverá problemas de atendimento no Interior:
— Seguimos tratando desse tema com o Estado e com a União. Um dos objetivos do isolamento precoce feito no Rio Grande do Sul foi justamente ganhar tempo para estruturamos melhor os hospitais.
O governo gaúcho divulgou na terça-feira a habilitação de mais 314 leitos para receber pacientes de covid. Com esse acréscimo, o Estado chegou naquele momento a uma ampliação de 624 vagas desde o começo da pandemia. Hoje, há capacidade para tratar 1.964 pacientes em UTIs em todo o Rio Grande do Sul.
Por meio de nota, o comitê de dados do Piratini que coordena o distanciamento controlado sustenta que o número de leitos livres no Estado (580 às 17h30min de sexta) é maior do que há um mês, quando havia 516 vagas liberadas.