Para manter a pandemia sob controle no Rio Grande do Sul, o governo do Estado prepara o endurecimento dos critérios de avaliação usados no modelo de distanciamento social. Na última semana, ao menos cinco regiões registraram aumento no número de hospitalizações por coronavírus. Se esse indicador continuar subindo, a cor de cada bandeira (que define o nível das restrições) poderá sofrer alterações.
Conforme o governo, a elevação foi identificada nas zonas de Erechim, Novo Hamburgo, Palmeira das Missões, Santa Maria e Taquara, que envolvem dezenas de municípios. Os números variam e, em alguns casos, são acompanhados de crescimento em outros quesitos (veja os detalhes no quadro).
No entorno de Erechim, por exemplo, houve 11 novas internações por covid-19, contra cinco na semana anterior. Em Novo Hamburgo e arredores, o indicador saltou de cinco para 19 e a quantidade de pacientes com síndrome respiratória aguda em UTIs cresceu de sete para 11.
Na área de Palmeira das Missões, as hospitalizações de pessoas infectadas avançaram de duas para 15, e o volume de internados com sintomas gripais em leitos de terapia intensiva subiu de um para sete. Embora não integrem a lista, as regiões de Lajeado e Ijuí também podem receber bandeira vermelha e inquietam técnicos do Estado.
Embora o governador Eduardo Leite tenha autorizado os municípios a estabelecerem regras mais brandas do que as definidas em âmbito estadual, a tendência é de que o modelo de distanciamento controlado se torne mais rígido.
Coordenadora do Comitê de Dados do governo, Leany Lemos afirma que a discussão sobre o tema está avançada:
— Mesmo que esteja tudo amarelo ou laranja no mapa, alguns indicadores estão piorando. Estamos dando transparência a isso, porque é fundamental em uma pandemia. Além disso, vamos rever os indicadores. A gente fez um modelo teórico e não sabia como funcionaria na prática, mas agora já sabemos onde podemos melhorar. Em algumas regiões, o alerta não está soando como deveria. Estamos discutindo esse aperfeiçoamentos há três semanas.
Por enquanto, Leany evita antecipar as alterações, porque ainda precisam da chancela de Leite. Ainda que as mudanças possam desagradar prefeitos, a chefe do Comitê de Dados sustenta que, ao apontar as regiões com piora e, mais do que isso, tornar os parâmetros mais duros, a intenção é mostrar à sociedade a importância de manter a atenção em nível máximo.
Para gestores municipais, chegada do frio contribui para piora nos indicadores
Prefeitos e secretários de Saúde ouvidos por GaúchaZH afirmam que o agravamento apontado pelo governo do Estado tem relação direta com a proximidade do inverno e com a incidência de doenças respiratórias. Ainda assim, os gestores garantem que estão atentos aos números da pandemia e que seguem trabalhando para evitar a disseminação do vírus.
— Está chegando o frio na região, com muita umidade, e se agravam os quadros gripais. Internamos para tirar a dúvida, e os leitos ficam mais cheios — diz o secretário da Saúde de Erechim, Dércio Nonemacher.
O médico destaca que, para ter um mapa fiel do avanço da doença no município, barreiras serão reforçadas nas ruas de Erechim com medição da temperatura e encaminhamento para tratamento das pessoas que tiverem febre. Haverá, ainda, a oferta de 1,5 mil testes para covid-19, com pretensão de atingir 5% da população. Apesar do alerta estadual, o secretário diz estar otimista com as medidas adotadas.
— Eu acredito que, com os nossos esforços, iremos para a bandeira amarela e não para a vermelha — projeta Nonemacher.
Na região de Palmeira das Missões, que conta com 21 hospitais, o secretário municipal de Saúde, Paulo Roberto Oliveira Fernandes, concorda que as temperaturas baixas têm elevado a procura por atendimento. Lá, também há um esforço conjunto, envolvendo 60 municípios, para ampliar a capacidade de testagem da população.
— Temos de 10 a 15 coletas por dia, e a ideia é chegar a sete mil nas cidades da região — destaca Fernandes.
À frente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), o prefeito de Palmeira das Missões, Dudu Freire, reconhece que a retomada das atividades pode ter contribuído para o agravamento do cenário.
— Acreditamos que a flexibilização pode ter influenciado o aumento no número de casos, mas têm também as baixas temperaturas, que contribuem para elevar as síndromes gripais — pondera Freire, que desde o início da pandemia defendeu o modelo criado por Leite.
Em Santa Maria, conforme o secretário de Saúde, Guilherme Ribas, os dados de ocupação de leitos têm sido avaliados diariamente, hospital a hospital, para definir se os decretos em vigor podem ser mantidos ou precisam ser alterados. Quanto ao aumento de casos, Ribas diz que o número de exames feitos na cidade também aumentou, principalmente na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), considerada a porta de entrada para os leitos do SUS de covid-19.
Por enquanto, segundo Ribas, não há previsão de ampliar as restrições nas regras em vigor. Sobre o aumento nas internações, ele considera compreensível, já que o muinicípio acaba recebendo pacientes de diferentes lugares.
GaúchaZH entrou em contato com a prefeitura de Taquara, mas, até as 15h, não havia obtido retorno.
Novo Hamburgo impõe novas restrições contra aglomeração de pessoas
Na tentativa de conter o coronavírus, a prefeitura de Novo Hamburgo anunciou nesta terça-feira (9) a intenção de emitir novo decreto para ampliar o controle sobre a pandemia. O documento, que deverá ser publicado nesta quarta-feira (10), reforçará a atuação da Central de Fiscalização e definirá penalidades a estabelecimentos e instituições que desrespeitarem as restrições em vigor, inclusive com a cassação de alvarás.
Outra medida adotada será a retirada das mesas e cadeiras das bancas que funcionam junto à Praça do Imigrante, no Centro.
— Todos sabem o carinho que tenho pelas bancas, mas não é possível continuar assim. Apesar de insistirmos com o distanciamento social, temos observado um aumento muito grande de pessoas por toda a cidade sem aparente necessidade — diz a prefeita Fátima Daudt.
A Central de Fiscalização seguirá atuando contra aglomerações, principalmente em praças e espaços como pistas de skate e canchas de esporte. Na avaliação de Fátima, o distanciamento social é a medida mais eficaz na contenção do vírus.
— Todos os nossos decretos insistiram nesta determinação, pois sabíamos que a chegada do inverno poderia agravar a situação. Nosso propósito sempre foi achatar a curva de contágio — reforça a prefeita.