Entre idas e vindas nos decretos da prefeitura para combater a contaminação pelo coronavírus em Porto Alegre, as academias de ginástica da Capital têm funcionado em um modelo considerado insustentável. Atualmente, podem abrir apenas com um aluno por vez, e ainda devem seguir uma série de recomendações sanitárias.
A experiência adquirida por essas mesmas academias enquanto estavam autorizadas a funcionar com regras mais permissivas, além de amostras de países que avançam mais rapidamente na retomada das atividades cotidianas, sugerem ideias que podem ser replicadas no Brasil quando a pandemia estiver sob controle.
Nos Estados Unidos, onde muitos Estados já permitiram a reabertura, ainda que com restrições, dos centros esportivos, foi estabelecida ocupação máxima de 25% da capacidade das salas de ginástica. Muitas cidades americanas proibiram o uso do chuveiro para a ducha pós-treino, como forma de evitar um local de contágio.
Outras academias foram além. Em Redondo, na Califórnia, a Inspire South Bay Fitness criou cabines de plástico transparentes individuais para treinos como jump e crossfit. O objetivo é que as pessoas possam manter distanciamento e não espalhem gotículas de suor e saliva. De acordo com os proprietários, foi uma forma de evitar a exigência de que os clientes usassem máscara o tempo todo, que prejudica a respiração.
— Já temos uma boa amostra do que pode ser feito para que as academias funcionem — afirma a professora de Educação Física Luciane Citadin, responsável pela academia da Sogipa. — Além do distanciamento e da oferta de álcool gel, vínhamos trabalhando com grupos reduzidos de alunos em horários marcados. No intervalo de cada turma, todos os equipamentos eram higienizados por uma equipe de limpeza.
O diretor de operações da rede Usina do Corpo, Felipe Linck, avalia que o isolamento deve reforçar a busca por conteúdo digital para o treinamento, como videoaulas e sugestões de exercícios que possam ser feitos em casa. Desta forma, além das atividades presenciais, muitas academias deverão ter um "braço virtual" para atingir clientes sem disposição (ou tempo) de visitar as academias. A Usina criou uma plataforma que oferece aos clientes duas ou três videoaulas por dia, com orientação de professores.
— Esta é uma demanda que surgiu com muita força na pandemia, até porque as pessoas sabem que precisam se manter ativas e saudáveis para reforçar a imunidade — afirma Linck.
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, afirma que, como todos os ambientes fechados em que há compartilhamento de objetos, as academias são locais de risco para a transmissão do coronavírus. O perigo está na tosse, no espirro ou na conversa entre usuários, em que gotículas de saliva podem ficar nas superfícies que serão tocadas por outros — não há comprovação de que o suor transmita o vírus, complementa Weissmann.
— Os usuários terão de ficar muito atentos ao uso dos equipamentos. Limpar sempre as superfícies antes do uso e ter muito cuidado com a toalha. Se esta for deixada em um local que teve contato com o vírus e depois for levada ao rosto, poderá ocorrer a transmissão — alerta.
O que é feito no Exterior para garantir o funcionamento das academias
Luz ultravioleta para eliminar o vírus
Em Hong Kong, as academias foram reabertas em maio, após mais de um mês fechadas com divisões de acrílico entre os equipamentos, principalmente esteiras e ergométricas. Além disso, passou a ser usada luz ultravioleta no ambiente para eliminar a presença do coronavírus. Os alunos precisam apresentar resultados de testes que mostrem ausência do coronavírus antes de voltar a frequentar os ginásios.
Sem ducha
Em diversos Estados americanos, as academias têm sido reabertas sem possibilidade de banho e com uso de banheiros restrito. O álcool gel é disponibilizado na entrada das salas de ginástica e colado aos aparelhos. As regras locais permitem o funcionamento com apenas 25% da capacidade de alunos.
Atividades em áreas externas
Em Londres, as academias começam a voltar a funcionar ocupando mais as áreas externas para exercícios coletivos (jump, crossfit e aulas de dança, por exemplo), como estacionamentos e pátios. A ideia de aproveitar áreas abertas procura evitar o que ocorreu na Coreia do Sul, quando 112 pessoas foram infectadas após uma aula de dança em ambiente fechado.
Tecnologia para atividades em casa
A Microsoft e algumas startups americanas já trabalham em tecnologias para criar hologramas de pessoas para se comunicarem em tempo real e interagir. Essas inovações poderão servir para que academias façam aulas a distância, em que os professores e alunos façam as atividades separadamente, mas se enxerguem e conversem. Entretanto, as tecnologias devem aterrissar nas academias somente nos próximos anos.
Baias individuais para exercícios
Uma academia da Califórnia chamada Inspire South Bay Fitness instalou cabines de plástico transparente individuais para aulas como jump e crossfit. O objetivo é que as pessoas possam manter o distanciamento social e não espalhar gotículas de suor pelo ambiente. Com isso, os alunos podem se exercitar sem o uso de máscara, tendo todos os acessórios que precisam ao seu alcance. Entre cada uso, a cabine é totalmente higienizada.
Ambientes protegidos e ventilados
As medidas mais básicas colocadas em curso por academias que voltam a reabrir ao redor do mundo, em particular na China e nos Estados Unidos, são instalação de sistemas de ventilação para renovar o ar no ambiente, limpeza frequente de todos os equipamentos e medição de temperatura dos usuários para detectar indícios de febre.