Em meio aos prejuízos causados pelo coronavírus, 859 mil pessoas foram afastadas do trabalho em maio no Rio Grande do Sul. Do total, 356 mil (41,5%) perderam a remuneração gerada pelo emprego. Ou seja, essa parcela não recebeu um centavo sequer com sua atividade profissional no período, indicam dados divulgados nesta quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números integram o estudo Pnad Covid-19, que busca dimensionar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e na área da saúde. Conforme Luís Eduardo Puchalski, gerente substituto de pesquisa do IBGE no Estado, o grupo com perda de remuneração pode ter recorrido a programas de apoio do governo federal para se sustentar. Um deles é o auxílio emergencial, voltado especialmente a informais.
— Embora tenham sido afastadas, essas pessoas são consideradas ocupadas, porque tinham trabalho. É o vendedor de lanche, o professor de natação que ganhava por hora de aula, o pipoqueiro que não recebeu absolutamente nada — explica o analista.
Segundo o IBGE, houve registro de auxílio do governo em 24,1% dos domicílios gaúchos. Em maio, o número de desempregados no Rio Grande do Sul foi de 480 mil. Para o instituto, uma pessoa é considerada desocupada quando procura trabalho, mas não encontra. Se exercer alguma atividade informal, como os populares bicos, deixa de integrar o grupo dos desempregados.
Um dos dados que chamam atenção na pesquisa é o de gaúchos que gostariam de trabalhar, mas não chegaram a buscar emprego, em razão da pandemia ou da escassez de oportunidades. Em maio, essa parcela chegou a 450 mil. O estudo não confirma, mas é provável que o grupo reúna pessoas que foram demitidas e não haviam iniciado a procura por recolocação.
No mês passado, também houve baixa na média dos rendimentos recebidos pelos profissionais, para R$ 2.053. A quantia habitual era de R$ 2.494. Ao mesmo tempo, o Estado teve redução na carga horária trabalhada, para 30,4 horas. A marca habitual era de 40,6 horas.
Professor da ESPM em Porto Alegre, Fábio Pesavento diz que o cenário é "ruim", mas poderia ser "pior". Na visão do economista, medidas adotadas pelo governo federal, como a autorização para corte de jornada e salários ou suspensão de contratos, serviram para amenizar os estragos no mercado de trabalho.
— A situação é bem preocupante. A economia deve se recuperar de maneira mais lenta do que a prevista no início da crise — pontua o professor.
Para mitigar os impactos do coronavírus, o governo federal deve manter ações emergenciais até o final do ano, diz Pesavento. Entre elas, a autorização para suspensão de contratos ou corte de jornada e salários — o Senado já deu aval para a manutenção da medida. O economista menciona que outro gargalo a ser resolvido para preservar empregos é o crédito a microempresas.
— O dinheiro tem de chegar até a ponta. Isso tem de ser feito agora — reforça. — A partir de 2021, o país terá de pensar em programas para requalificar trabalhadores informais, avançar na reforma tributária, entender mudanças tecnológicas no mercado — acrescenta.
Na área da saúde, a pesquisa do IBGE apontou que 12,2% dos gaúchos tiveram algum dos sintomas associados ao coronavírus. Entre eles, febre, tosse, dor de garganta e dificuldade para respirar. Não quer dizer que todos tenham sido infectados pelo vírus.
Apenas 0,6% da população apresentou sintomas conjugados — tosse, febre e dificuldade para respirar, por exemplo. Conforme o estudo, 38% da população residente no RS afirmou ter plano de saúde — segundo maior percentual do país, atrás de São Paulo (41,1%).
No Brasil, 9,7 milhões sem renda
No Brasil, cerca de 19 milhões de pessoas foram afastadas do trabalho em maio. Do total, 9,7 milhões ficaram sem remuneração, indica o IBGE. O número de desempregados foi de 10,1 milhões, e a taxa de desocupação chegou a 10,7%.
Em maio, 27,9% da população ocupada (ou 18,3 milhões) trabalhou menos do que a jornada habitual. Com isso, o rendimento dos profissionais caiu para R$ 1.899. Ou seja, ficou 18,1% abaixo do habitual (R$ 2.320).
Segundo o IBGE, 38,7% dos domicílios do país receberam algum auxílio monetário do governo federal. O valor médio foi de R$ 847. O instituto informou ainda que 18,5 milhões de pessoas não procuraram emprego por conta da pandemia ou por falta de vagas, mas gostariam de trabalhar.
Cerca de 24 milhões (ou 11,4% da população) tiveram algum dos sintomas gripais. A perda de cheiro ou de sabor foi informada por 1,8% da população (3,8 milhões de pessoas).