Das 15 cidades mais populosas do Estado, Porto Alegre, Passo Fundo, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Caxias do Sul têm as maiores taxas de infecção por coronavírus. O levantamento, feito pela empresa de ciência de dados de saúde Dataglass, usa dados oficiais até a manhã desta terça-feira (21) e leva em conta o tamanho da população de cada local.
A taxa de infecção é importante porque indica o ritmo da epidemia, fator levado em conta no plano de retomada anunciado nesta terça-feira pelo governador Eduardo Leite. A estratégia prevê classificações de risco ainda com base em região da cidade, ocupação de leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e setor de atividade econômica.
GaúchaZH falou com os prefeitos dos cinco municípios analisados para entender como receberam a proposta – todos afirmam que os próximos passos serão tomados a depender do ritmo da epidemia em suas cidades.
As cinco cidades têm mais de 20 casos confirmados – a Secretaria Estadual da Saúde (SES) diz que, abaixo desse número, a taxa de contaminações não é parâmetro para ações – e mais de 200 mil habitantes. Mas há municípios menores com números perigosos. Marau (49,8/100 mil habitantes) e Lajeado (30,9/100 mil habitantes) têm índices de contaminação maiores do que Porto Alegre (26,3/100 mil habitantes), enquanto Bagé tem índice um pouco abaixo (23,9/100 mil habitantes).
Porto Alegre
- Total de casos: 390
- Total de mortes: 10
- Taxa de infecção: 26,3/100 mil habitantes
- Taxa de mortes: 0,7/100 mil habitantes
- Ocupação de leitos de UTI do SUS: 66%
Com quarentena decretada até 30 de abril, a prefeitura viu de forma positiva o plano estadual e, agora, estuda como aplicá-lo à realidade e à estratégia do município, diz o secretário extraordinário de Enfrentamento ao Coronavírus, Bruno Miragem. Ele destacou que Porto Alegre está em situação relativamente confortável no ritmo da epidemia, diferentemente de outras capitais brasileiras.
Questionado se os serviços serão retomados em 1º de maio, ele afirma que a prefeitura está "rigorosamente com esse propósito", mas que a decisão dependerá do ritmo do coronavírus nos próximos dias. Miragem não antecipou qual será a prioridade da retomada, mas destacou que Porto Alegre precisa tomar em conta características de uma metrópole.
— Temos a maior população do Estado, então há peculiaridades diferentes de outras cidades que precisamos examinar. O exemplo mais óbvio é a mobilidade urbana. Todas as liberações de atividades terão, na Capital, impacto no transporte, então haveria mais risco — diz.
Todas as liberações de atividades terão, na Capital, impacto no transporte, então haveria mais risco
Passo Fundo
- Total de casos: 43
- Total de mortes: 4
- Taxa de infecção: 21,2/100 mil habitantes
- Taxa de mortes: 2/100 mil habitantes
- Ocupação de leitos de UTI do SUS: 43%
O prefeito Luciano Azevedo (PSB) afirma que a prefeitura não entendeu se o plano estadual trará obrigações ou recomendações. Ele confessa que o Executivo sofre forte pressão da população e da economia local para retomar as atividades, frente à realidade de cidades vizinhas com serviços abertos. Em Passo Fundo, o comércio voltou a funcionar, com restrições, na sexta-feira passada (17). Usar a máscara na rua é obrigatório, bares e restaurantes só funcionam com tele-entrega, academias estão fechadas e igrejas só podem abrigar 30 fiéis.
— Não conseguimos avaliar com clareza o que está sendo proposto pelo Estado. Se houver apenas recomendação, vai ser muito difícil fazer qualquer tipo de isolamento, porque as pessoas estão cansadas. Nossos hospitais de Passo Fundo atendem a cerca de 200 municípios, vai ter problema de saúde aqui porque haverá gente de muitas cidades. Já que o Estado tem pouca condição para nos ajudar do ponto de vista financeiro, ao menos poderia ter mais clareza no estabelecimento e unificação das regras. Não tenho como explicar para meu munícipe que aqui tem uma regra e que o parente dele de Caxias tem outra — diz o prefeito.
Já que o Estado tem pouca condição para nos ajudar do ponto de vista financeiro, ao menos poderia ter mais clareza no estabelecimento e unificação das regras.
Novo Hamburgo
- Total de casos: 26
- Total de mortes: 2
- Taxa de infecção: 10,5/100 mil habitantes
- Taxa de mortes: 0,8/100 mil habitantes
- Ocupação de leitos de UTI do SUS: 10% no Hospital Municipal*
A prefeita Fátima Daudt (PSDB) vê com bons olhos a flexibilização que o plano estadual pode trazer. A cidade, diferente das vizinhas, está com lojas e restaurantes abertos desde a semana passada, apesar da proibição do governo estadual para relaxamento na Região Metropolitana. A prefeitura argumenta que cumpre as determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Dentre as restrições, o atendimento ao cliente deve ser individualizado e está proibido utilizar provadores em lojas ou testar bijuterias, acessórios e calçados. Restaurantes e bares só podem funcionar até 17h – depois, apenas por tele-entrega. A prefeita destaca que, caso o número de casos suba, a prefeitura voltará a impor restrições.
— Havendo flexibilização, vamos seguir com aquilo que o governo indicar. Nossa única diferença do decreto estadual é o comércio de bens de consumo atender uma pessoa por vez, de portas fechadas. Tem funcionado bem, mas não quer dizer que não vamos mudar se houver um contágio maior. Quando percebermos um aumento leve de procura ao nosso centro covid (de atendimento a casos suspeitos), entraremos com medidas restritivas — diz Fátima.
*Hospitais Regina e da Unimed não revelaram número de leitos
Quando percebermos um aumento leve de procura ao nosso centro covid, entraremos com medidas restritivas
São Leopoldo
- Total de casos: 21
- Total de mortes: 1
- Taxa de infecção: 8,9/100 mil habitantes
- Taxa de mortes: 0,4/100 mil habitantes
- Ocupação de leitos de UTI do SUS: 50%
Na cidade que segue o decreto estadual de suspensão de atividades de comércio na Região Metropolitana de Porto Alegre até 30 de abril, o prefeito Ary Vanazzi (PT) reconhece que o distanciamento social ajudou a conter o avanço nas infecções e nas mortes. Ele pontua que o cenário local ainda não permite implementar uma abertura “total” dos serviços – sobretudo com a aproximação do inverno.
Vanazzi confessa que o plano de flexibilização estadual deve mudar a realidade de São Leopoldo. O próximo passo é a reabertura de lojas, mas eventos “não devem abrir tão cedo”.
— O que dá muita movimentação na cidade são as grandes lojas e a população que vai passear. Temos 30 mil idosos, por exemplo. Vamos avaliar a reabertura de acordo com a evolução da epidemia. A gente só não exige que as pessoas usem máscara na rua porque fizemos levantamento e vimos que não há o suficiente no mercado. Por isso,faremos um edital, amanhã ou quinta-feira, e compraremos umas 50 mil máscaras para distribuir à população mais pobre. Aí, vamos exigir o uso de máscara a partir de maio — completa o prefeito.
Vamos avaliar a reabertura de acordo com a evolução da epidemia. A gente só não exige que as pessoas usem máscara na rua porque fizemos levantamento e vimos que não há o suficiente no mercado.
Caxias do Sul
- Total de casos: 44
- Total de mortes: zero
- Taxa de infecção: 8,6/100 mil habitantes
- Ocupação de leitos de UTI: 85% do SUS
O plano estadual não deve trazer mudanças de grande impacto porque a cidade já reabriu comércios e serviços na semana passada, após autorização de Eduardo Leite, reconhece o prefeito Flavio Cassina (PTB). O shopping Iguatemi, por exemplo, voltou a funcionar na segunda-feira (20). Há, no entanto, exigência para uso de máscaras ao entrar em lojas.
Os próximos passos, segundo Cassina, são relaxar as restrições para hotéis e para atividades esportivas – em específico, a permissão de partidas de futebol. A reabertura de bares e boates deve demorar mais. Neste momento, a grande preocupação é com o crescimento dos casos de coronavírus após o aumento da circulação de pessoas na rua.
— Para muita gente, não caiu ficha, então há muita aglomeração, sobretudo nesta segunda feira. Há muito tráfego na rua, muita gente caminhando e sem proteção de máscaras. Agora, vamos tornar o uso obrigatório de máscaras no transporte coletivo. A partir de amanhã faremos um estudo. Já havia uma campanha, mas, se não tornarmos obrigatório, parece que não consideraram muito — diz Cassina.
Para muita gente, não caiu ficha, então há muita aglomeração, sobretudo nesta segunda-feira. Há muito tráfego na rua, muita gente caminhando e sem proteção