A possibilidade de fechamento do setor materno-infantil e obstetrício do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) provocou um protesto de estudantes e população em geral. O grupo já havia se manifestado na frente da reitoria da universidade e, na manhã deste domingo (8), se reuniu em frente ao Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção.
Nos cartazes, manifestantes citavam números do hospital como cirurgias de crianças e partos e afirmavam que "saúde não é mercadoria". Eles ainda pediam a manutenção do setor, que possui mais de 40 anos de atuação. Residente do terceiro ano de pediatria do São Lucas, Luiza Morés disse que foi surpreendida com a informação.
— Ninguém estava sabendo. Estamos tentando chamar a atenção para evitar isso, porque a saúde de Porto Alegre precisa — reclamou.
Além de prejudicar o atendimento à população, a residente afirma que os alunos também seriam afetados.
— Os alunos da PUC pagam e fizeram vestibular para ter um curso de excelência em todas as áreas de medicina. O ensino iria ficar deficitário nessa parte (materno-infantil).
A informação, não confirmada, mas também não negada pela PUCRS (leia nota abaixo) é de que o espaço seja fechado em até 60 dias. Com isso, os atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e particular, iriam passar para o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, administrado pela prefeitura de Porto Alegre. Consultada na manhã de sexta-feira (6), a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde confirmou que há negociação do contrato junto ao Hospital São Lucas da PUCRS e que a opção de usar o Presidente Vargas chegou a ser discutida, assim como outras possibilidades.
O que diz a PUCRS
"O Hospital São Lucas está passando por um amplo movimento de reposicionamento. As transformações, previstas para ocorrer em 2020, estão embasadas em estudos sólidos realizados nos últimos dois anos, com a participação de consultorias especializadas, contratadas pela entidade mantenedora do HSL. As iniciativas respondem aos indicadores que apontam transformações na demanda atual e futura da população na área de saúde, decorrentes da rápida mudança no perfil epidemiológico, fruto da inversão da pirâmide etária da população que é ainda mais acelerada no Rio Grande do Sul. Tão logo os projetos sejam finalizados, serão divulgados com total transparência para a comunidade."
O que diz a prefeitura de Porto Alegre
O HMIPV é administrado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), oferecendo 100% do atendimento pelo SUS. A pasta afirma que está em fase de renovação de contrato junto ao Hospital São Lucas da PUCRS e que é natural, neste momento, alternativas serem estudadas, mas também não deu detalhes sobre essa negociação. Sobre o que teria sido dito pela direção do hospital, segundo o presidente do Simers, divulgou nota:
"A Secretaria Municipal de Saúde não possuiu, nem possui, nenhum atraso com o Hospital São Lucas da PUCRS. A secretaria tem neste hospital um parceiro de décadas de serviços à rede pública e privada. O órgão municipal atua de forma clara e parceira com todos os hospitais de Porto Alegre. A afirmação do Simers só demonstra a falta de informação e a forma irresponsável com a qual o sindicato atua, deixando de lado os interesses da população e agindo somente em benefício próprio e individual de uma categoria."
O que diz o Sindicato Medico do Rio Grande do Sul (Simers)
Em nota, o Sindicato Medico do Rio Grande do Sul (Simers) informou que se reuniu em sua sede com acadêmicos, residentes, professores e médicos do Hospital São Lucas. Conforme o comunicado, o encontro "teve o objetivo debater a contraposição ao suposto fechamento do setor materno-infantil da instituição de saúde".
"A PUCRS e a Secretaria de Saúde do município tomaram medidas de cunho exclusivamente financeiro, e se esqueceram de quem seria prejudicado. Não apenas os estudantes e médicos, mas a população também perde com o fechamento do setor", disse o presidente da entidade, Marcelo Matias.
Segundo a nota, o Simers enviará nesta segunda-feira (9) ofícios para a Universidade e para as instituições envolvidas solicitando uma posição oficial. Também foi criada uma comissão especial para tratar do assunto e uma força-tarefa jurídica em relação ao caso.