Após iniciativas isoladas nos últimos dias, a suspensão de aulas para tentar conter a pandemia de coronavírus se disseminou por toda a rede de ensino nesta segunda-feira (16). Escolas municipais, estaduais, privadas e universidades cancelaram as atividades pelas próximas semanas, levando à inédita paralisação do sistema de ensino no Rio Grande do Sul.
No início da tarde, o governador Eduardo Leite anunciou o fechamento da rede estadual a partir da próxima quinta-feira (19) pelo período de 14 dias. Também recomendou que os colégios privados e os municípios adotassem a mesma medida para que "não haja disseminação em massa".
— Não é motivo para pânico, mas uma demonstração importante para que as pessoas redobrem os cuidados e possamos diminuir a velocidade de disseminação do vírus, mantendo os casos complexos dentro da capacidade de atendimento da nossa rede de saúde — disse Leite.
Para manter o ensino nessas semanas, professores foram orientados a preparar materiais pedagógicos para que os alunos estudem em casa. O secretário da Educação, Faisal Karam, também garantiu que as instituições serão mantidas em funcionamento para distribuir refeições:
— Nas zonas de maior vulnerabilidade, a merenda, que é uma das poucas refeições que as crianças têm, estará disponível na escola. Para isso, elas terão de se deslocar.
Mais cedo, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, havia determinado a paralisação durante três semanas das aulas nos ensinos fundamental e médio das redes municipal e privada a partir de quarta-feira (18). Já nas universidades, decidiu que a pausa se iniciaria nesta segunda-feira. Marchezan manteve o atendimento na educação infantil, assegurando o fornecimento de merenda às crianças.
O Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS) acompanhou o protocolo, orientando que os colégios fechem os portões pelas próximas semanas. Durante todo o dia, direções de escolas distribuíram seus comunicados a pais e estudantes, sugerindo que permaneçam em casa.
— Para uma escola fechar, o cenário é grave mesmo. A escola é um porto seguro para alunos e suas famílias, mas esse é o momento de conter a disseminação e de todos fazerem um esforço — afirmou o presidente do Sinepe-RS, Bruno Eizerik.
Pais apreensivos
Atendendo aos pedidos de autoridades de saúde para evitar aglomerações, instituições de ensino começaram a enviar comunicados no final de semana informado que as aulas seriam suspensas. Localizado na zona sul de Porto Alegre, o Colégio João XXIII, por exemplo, anunciou a presença facultativa dos estudantes após contatos de pais apreensivos.
Nesta segunda-feira, apenas três em cada 10 estudantes da escola apareceram. Em uma turma de 24 alunos do terceiro ano, a professora de artes Clarisse Normann deu aula para somente duas crianças.
— Há muita inquietação e pouca certeza — resumiu a vice-diretora, Rosane Rodriguez.
À tarde, o João XXIII definiu pela suspensão das classes. Já o Colégio Israelita Brasileiro comunicou aos pais que, "por prevenção", irá substituir as aulas presenciais por atividades online a partir de quarta-feira. Às vésperas, funcionários deram início à gravação de vídeos, e estudantes foram orientados para o uso da plataforma digital.
Professor de física, André Diestel sentou diante de uma câmera em um estúdio montado em sala de aula, preparando-se para o período de ensino a distância. Nesta segunda-feira, o movimento no Israelita despencou 20%, segundo o diretor, Jânio Alves.
— A tecnologia possibilita soluções inovadoras durante esse tipo de problema, dando continuidade à aprendizagem, mantendo as crianças conectadas aos professores e usando o ensino a distância de maneira mais intensa, aguardando o que acontecerá daqui para a frente — contemporizou Alves.
Entre os estabelecimentos privados que também decidiram paralisar as atividades estão Farroupilha, Rosário, Anchieta, Bom Conselho, Província de São Pedro, Santa Inês e João Paulo I. Já o sindicato do ensino infantil privado orientou que as creches mantenham o atendimento às crianças, seguindo a prefeitura da Capital. Algumas, contudo, informaram pais que irão fechar.
No ensino superior, ao menos 20 estabelecimentos gaúchos interromperam as aulas. A lista inclui Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) e Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
Status do ensino no RS
Rede municipal
A prefeitura de Porto Alegre suspendeu as aulas nas redes pública e particular, a partir do dia 18, nos ensinos fundamental e médio, pelo período de três semanas. Para o ensino superior, determinou a paralisação a partir desta segunda-feira (16). Na educação infantil, decidiu manter as atividades. Prefeituras, como as de Canoas, Caxias do Sul e Santa Maria, entre outras, também adotaram medidas semelhantes.
Rede estadual
O governo do Estado interrompeu as aulas na rede estadual por duas semanas, começando na quinta-feira (19). Também recomendou que a rede privada seguisse o mesmo protocolo. Professores irão encaminhar atividades para que os alunos estudem em casa, uma vez que será impossível recuperar os dias perdidos do ano letivo por causa da greve do magistério do ano passado. A distribuição de merendas será mantida.
Rede privada
O Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS) orientou que os estabelecimentos suspendam as atividades entre 19 de março e 2 de abril. A imensa maioria das escolas seguiu a sugestão, incluindo Americano, Santa Inês, Farroupilha, Rosário, Anchieta, João Paulo I, Bom Conselho, Colégio Concórdia, Dohms, Sinodal, Sesi, Senai, La Salle, Santa Dorotéia e Província de São Pedro. O Sindicato de Educação Infantil do Estado (Sindicreche-RS) sugeriu que as creches permaneçam abertas, mas algumas já avisaram pais que irão paralisar as atividades.
Faculdades e universidades
Ao menos 20 universidades e faculdades suspenderam aulas, sendo que algumas preparam aulas a distância. O período varia de acordo com o estabelecimento. Entre elas, UFRGS, UFSM, UFPel, UFCSPA, PUCRS, Unisinos, Ulbra, UCS e UPF.