A declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira (11) de que a disseminação do coronavírus já configura uma pandemia não resulta em mudanças práticas de forma automática, mas sinaliza uma alteração no foco do combate à doença que deve ocorrer ao longo das próximas semanas.
O Ministério da Saúde informou que, por enquanto, a estratégia nacional segue inalterada. No Rio Grande do Sul, eventuais ajustes poderão ser definidos nos próximos dias pelo Centro de Operações de Emergência montado pela Secretaria Estadual da Saúde para investigar e enfrentar a covid-19.
— A partir dessa declaração, provavelmente deveremos subir algum nível, algum status quanto a medidas de controle em relação ao coronavírus, mas isso ainda será avaliado pelo centro de operações — afirma a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica da secretaria, Tani Ranieri.
Ainda não há confirmação sobre quais medidas adicionais poderiam ser tomadas. De maneira geral, conforme o infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado da Silva, o status de pandemia costuma anteceder ações que mudam o perfil dos esforços oficiais. Em vez de dar prioridade à tentativa de diagnosticar e mapear todos os casos de contaminação, por exemplo, os recursos passam a se concentrar nos casos mais graves e nos grupos considerados mais vulneráveis ao vírus.
— Vai ficando inviável testar todo mundo para o vírus. Se busca dar mais atenção aos pacientes com sintomas mais severos e aos grupos de risco — observa Silva.
Uma doença é classificada como pandemia quando afeta um número significativo de países e de pessoas. Em entrevista à imprensa, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que, por enquanto, a vigilância sobre as contaminações de covid-19 serão mantidas com o mesmo padrão pelo fato de o Brasil ser um país de grandes dimensões, com Estados em diferentes estágios de disseminação do vírus. Mandetta ressaltou ainda que, até o momento, não foi registrada transmissão sustentada do coronavírus – o que também poderia levar a mudanças mais drásticas de protocolo.
— Temos transmissão local com nexo, mas não temos ainda transmissão sustentada — afirmou o ministro.
O primeiro tipo de caso se refere a pessoas que foram infectadas em solo brasileiro, mas se consegue rastrear a origem da contaminação. Quando não for mais possível refazer esse caminho, ou quando somar pelo menos cinco pessoas que passaram o vírus de uma para outra, a transmissão passa a ser considerada sustentada.
Mandetta ressaltou que, como o país já havia decretado emergência sanitária de interesse nacional, o que facilita compras de insumos destinados a combater a disseminação do vírus, o status de pandemia também não traz vantagens burocráticas adicionais.
Uma mudança considerada positiva pelo governo brasileiro com a confirmação de pandemia é que não é mais necessário investigar a origem de cada caso considerado suspeito para verificar se vieram de uma determinada lista de países. Uma vez que a transmissão da doença é considerada global, esse esforço deixa de fazer sentido.
— Quando temos uma pandemia, significa que (um caso suspeito) pode vir de qualquer país. Não precisamos ficar procurando nexo (ligação entre um paciente e a possível origem da contaminação) para seguir um protocolo rígido. A Itália ficou fazendo isso e, quando percebeu, já tinha casos em espiral — diz Mandetta.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins:
Última pandemia havia ocorrido em 2009
O mundo enfrenta uma nova pandemia pouco mais de uma década depois de ter passado por outra situação semelhante. Em março de 2009, o vírus H1N1 passou a se alastrar no interior do México, provocando internações e mortes, e de lá partiu para se transformar em uma praga mundial.
No primeiro ano de disseminação da doença, que também apresentava sintomas semelhantes aos da gripe, a exemplo do coronavírus, foram registradas oficialmente cerca de 18,5 mil mortes em todo o mundo, mas um estudo publicado em 2012 na revista The Lancet Infectious Diseases atestou que essa cifra pode ter sido pelo menos 15 vezes maior. No Brasil, o vírus provocou pelo menos 2 mil mortes - atingindo não apenas idosos, mas também crianças e jovens adultos. Destas vítimas, 298 eram do Rio Grande do Sul.
ENTENDA AS DIFERENÇAS
Surto
Aumento inesperado de registros de uma determinada doença em uma região específica. Muitos casos registrados em um bairro de uma cidade, por exemplo, podem caracterizar um surto.
Epidemia
Ocorrência de surtos em diferentes regiões. Pode ser de nível municipal, estadual ou nacional, conforme a abrangência dos registros.
Pandemia
É o pior cenário em uma escala de gravidade. Ocorre quando uma epidemia se estende a nível global, em diferentes regiões do planeta.
Endemia
Doença que se manifesta com frequência e apenas em uma determinada região – como a frebre amarela no norte do Brasil.