Desde que desembarcou no Brasil, vindo da Itália, em 26 de fevereiro, o empresário gaúcho testado positivo para coronavírus passou a ser monitorado por uma profissional da vigilância epidemiológica de Campo Bom.
Os locais visitados na Europa e o período exato da viagem são mantidos em sigilo. Sem ter o nome divulgado e evitando qualquer tipo de exposição, o homem de 60 anos se manteve isolado em casa por 14 dias, sem circular pela cidade ou comparecer à empresa comandada por ele no município.
Ao chegar a Porto Alegre, o empresário não tinha qualquer sintoma da doença, de acordo com a biomédica Luana Letícia da Silva, designada para acompanhar o paciente durante a quarentena.
O período de incubação – prazo médio em que os indícios de contaminação permanecem inócuos – é de sete dias. No caso investigado, os sintomas surgiram a partir da segunda semana.
– Mesmo sem os sintomas, ele teve o cuidado de procurar um hospital privado da região. Fomos notificados e passamos a manter o contato para acompanhar a evolução – explica a biomédica.
Febre, tosse e dor de garganta foram os primeiros incômodos sentidos pelo paciente, que detalhava a situação em ligações quase que diárias para Luana. Ele procurou o serviço de saúde no pronto-atendimento da Unimed, em Novo Hamburgo, onde teve as secreções do nariz e da garganta coletadas e recebeu a receita de xarope e analgésico, além de recomendação de isolamento domiciliar.
Mesmo estando próximo do grupo de risco – que inclui idosos –, o estágio sintomático do empresário se extinguiu rapidamente. Entre três e quatro dias já estava melhor, afirma a biomédica. Ela conta que o paciente permaneceu em um local arejado de sua casa e ressalta a discrição com a qual ele lidou com o diagnóstico:
– Nem eu sei quem ele é. Recebi um telefone e passei a acompanhar. Sempre foi muito solícito e o sucesso da cura deve-se à maneira como ele seguiu as orientações.
Dentre os cuidados para evitar a proliferação do covid-19 estão lavar as mãos com frequência, usar álcool gel, não compartilhar copos, talheres, bombas de chimarrão, toalhas e objetos de uso pessoal – determinações enviadas aos profissionais de saúde em uma cartilha elaborada por órgãos da Secretaria Estadual da Saúde e do Ministério da Saúde.
Na quarta-feira (11), um dia após ganhar alta clínica , o último contato entre a biomédica e o paciente teve tom mais informal.
– Ele disse que estava trabalhando e que seguia bem. Vida normal – relembra Luana.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins:
Nesta sexta-feira (13), familiares e pessoas próximas que interagiram com o empresário terão o monitoramento de saúde encerrado. Os 14 dias são contados a partir do primeiro contato entre eles. Todos passam bem, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, e nenhum apresentou indícios de contaminação. Diferentemente do homem que testou positivo, eles não tiveram isolamento. A restrição à circulação ocorre apenas quando há manifestação de algum dos sintomas provocado pelo vírus.
Prefeitura fará ação em asilos e escolas
A preocupação com a circulação do vírus levou a prefeitura de Campo Bom a organizar palestras nos asilos do município. De acordo com o prefeito Luciano Orsi, a ideia é levar profissionais da saúde aos locais com a população de risco, e repassar orientações básicas de prevenção.
Uma reunião com empresários deve ocorrer nesta quinta-feira (12), para desenvolver estratégias de higienização dos ambientes. Campo Bom tem cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) oriundo de indústrias.
– Aqui se tem muito contato com China e Itália, inclusive com viagens para treinamentos nesses países, então precisamos nos precaver – alerta o Orsi.
Dentre as medidas, estão a aquisição de medidores de febre a distância, ideia aventada em conversas informais nos grupos de WhatsApp que o prefeito participa, junto aos empresários.
Escolas e postos de saúde aumentaram os pedidos por produtos de higiene. Em um depósito no térreo do prédio do Executivo, cerca de 200 litros de álcool em gel são mantidos em bombinhas de cinco litros e recipientes de 500 ml cada. Coordenador municipal da assistência farmacêutica, Gabriel Schneider Loss estima que, em anos anteriores, quando não havia o registro de coronavírus, o estoque seria suficiente para suprir uma demanda de quatro meses.
– A procura cresceu, e já estamos preparados para um aumento fora da curva – afirma Loss.
Máscaras mantidas em outra sala do depósito serão distribuídas a pacientes que tenham algum tipo de suspeita. A medida foi pensada para proteger profissionais e demais usuários do sistema de saúde da cidade.