Seis dias após desembarcar da Itália no aeroporto Salgado Filho, o empresário de Campo Bom diagnosticado com covid-19 na segunda-feira (9) sentiu os primeiros sintomas de coronavírus. Tinha febre de 38ºC, tosse com catarro e dor de garganta.
O homem, de 60 anos, procurou o serviço de saúde no pronto-atendimento da Unimed em Novo Hamburgo, localizado na Rua Tupi. Já entrou na unidade usando máscara – na porta, a Unimed instalou um recipiente com máscaras e o aviso “coronavírus: se você está com tosse e/ou espirrando frequentemente, use a máscara descartável que está disponível”.
Ciente da suspeita, o paciente teve as secreções do nariz e da garganta coletadas. Deixou o hospital com receita de xarope e analgésico, além da recomendação de isolamento domiciliar. No final da tarde de segunda-feira, o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen) confirmou o diagnóstico positivo para covid-19, tornado público nesta terça-feira (10) pelo governo do Estado.
O paciente, que não teve a identidade divulgada para preservar sua privacidade, retornou ao pronto-atendimento da Unimed no último dia 6, já sem sintomas. Foi descrito pelas autoridades de saúde de Campo Bom como um homem regrado. Dentro de casa, manteve uma quarentena paralela, permanecendo somente no quarto e limitando o contato com a esposa. Quando estiveram próximos, ambos usaram máscara.
— Ficou afastado de qualquer outro contato, e nenhum familiar apresentou sintomas. Foi até uma surpresa a confirmação do caso, porque ele está muito bem e quase liberado do isolamento domiciliar — disse a secretária da Saúde de Campo Bom, Suzana Ambros.
O empresário participou da Micam, tradicional feira calçadista internacional ocorrida entre 16 e 19 de fevereiro em Milão, cidade que está no epicentro da epidemia do coronavírus na Europa. Na Itália, há mais de 10 mil casos confirmados e 631 mortes.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), 35 empresas gaúchas participaram da Micam. A entidade calcula que cerca de cem representantes do Rio Grande do Sul estiveram na feira. Entre eles, dois funcionários da própria associação, que tiveram resultados negativos para os testes de covid-19. Mesmo assim, seguindo protocolo do Ministério da Saúde, permaneceram em quarentena de 14 dias.
— Após 14 dias do retorno de viagem dessas áreas onde existe transmissão local de covid-19, não há mais risco de o paciente desenvolver alguma doença respiratória causada pelo vírus. Se o paciente vier a desenvolver algum sintoma, como febre ou dor de garganta, será causado por outro vírus ou bactéria — tranquilizou Marcelo Bitelo, infectologista da Unimed Vale do Sinos.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins:
Na unidade, casos suspeitos vindos da Micam foram atendidos, mas descartados após exames. Em Campo Bom, a confirmação do primeiro caso da doença levou a prefeitura a reforçar as medidas de prevenção, distribuindo álcool gel em escolas e no 42º Rodeio Nacional, que segue até o próximo dia 15.
— A orientação é que as pessoas trabalhem muito com a prevenção, evitem aglomeração e, a partir do momento que tiverem qualquer sintoma, procurem as unidades de saúde para evitarmos a perda de vidas — afirmou o prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi.
No município de 66 mil habitantes no Vale do Sinos, moradores saíram às pressas em busca de máscaras descartáveis e álcool gel nas farmácias após a confirmação do primeiro caso gaúcho. Alguns, contudo, ficaram frustrados. Em uma unidade da São João, por exemplo, os produtos estavam fora de estoque. Já em uma Agafarma onde ainda havia itens nas prateleiras, cada consumidor foi limitado à compra máxima de duas embalagens de álcool gel.
— Os clientes já entram dizendo: "Não vai me dizer que aqui também não tem álcool gel" — contou Luiz Carlos Pereira, vendedor da farmácia.