O Rio Grande do Sul tem seu primeiro caso confirmado de coronavírus. Trata-se de um empresário de 60 anos residente em Campo Bom, no Vale do Sinos, que viajou a trabalho a Milão, no norte da Itália, entre os dias 16 e 23 de fevereiro. O homem teve sintomas (tosse e febre) a partir de 29 de fevereiro e foi avaliado em uma clínica particular, onde já chegou usando máscara. Ele foi orientado a manter isolamento domiciliar e a tomar um xarope. Os exames iniciais, que descartaram outros vírus respiratórios, foram realizados em 3 e 4 de março. A confirmação se deu nesta segunda-feira (9). Nenhum familiar do doente apresentou sinais de infecção.
A informação foi divulgada oficialmente durante entrevista coletiva realizada no final da manhã desta terça-feira (10), no Salão Negrinho do Pastoreio do Palácio Piratini, com as presenças do governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), e da secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann.
– Nós nos preparamos para este momento. Não somos uma ilha. As relações se estabelecem nas viagens que as pessoas fazem, nas relações comerciais. Sabíamos que esse dia poderia chegar. Não é o caso de alarmar a população. Estamos com a nossa estrutura preparada, frisando nosso trabalho em parceria com o Ministério da Saúde – declarou Leite.
Ouça o áudio da coletiva:
O Laboratório Central do Estado (Lacen) já está capacitado para conduzir as testagens de amostras de secreções coletadas de pacientes suspeitos de terem contraído o vírus. Os kits para exames chegaram a Porto Alegre na última semana, e funcionários do Lacen foram treinados por técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro. Antes, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) enviava as amostras com as suspeitas da infecção. O tempo para obter os resultados caiu de até oito dias para até 48 horas. O exame do paciente de Campo Bom foi feito pelo Lacen.
O governador pediu que a população reforce hábitos de higiene, como lavar as mãos com frequência, evitar o compartilhamento do chimarrão e colocar em prática a etiqueta respiratória, como tossir sem colocar os outros em risco (cobrindo o nariz e a boca com um lenço descartável ou na dobra do braço).
Veja neste vídeo como fazer a lavagem correta das mãos:
Na entrevista, Leite também atualizou a situação epidemiológica em território gaúcho. Atualmente, estão sendo investigados 86 casos suspeitos de infecção pelo covid-19. No total, até agora, 190 casos foram notificados, e 103, descartados.
Arita Bergmann destacou que planos de contingência estão sendo elaborados e atualizados. Escolas estão sendo comunicadas sobre cuidados a serem tomados. A secretária reforçou a importância da campanha de vacinação contra a gripe, com início previsto para 23 de março. Arita lembrou da pandemia do vírus H1N1, em 2009 e 2010:
– A lição, em 2009, foi (aprender a) trocar o pneu com o carro andando. Agora foi possível organizar a trajetória sobre o que poderá acontecer. Estamos, sim, preparados, mais do que naquela oportunidade.
Uma técnica da Vigilância Sanitária explicou que os quadros de coronavírus geralmente são leves, semelhantes aos de uma gripe. A primeira orientação é para resguardo em casa até o término dos sintomas. Pelo que se conhece até agora, em torno de 15% dos casos – geralmente, pessoas com outras doenças e sistema imunológico mais enfraquecido – evoluem para um patamar de maior gravidade, exigindo internação hospitalar.
De acordo com o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, na segunda-feira (9), o Brasil tem, no momento, 25 casos confirmados de coronavírus. Os casos suspeitos chegaram a 930, o que significou um acréscimo de 40% em relação à véspera – no domingo (8), eram 663 casos sendo monitorados.
Mais cedo, a colunista de GaúchaZH Kelly Matos havia divulgado a informação da confirmação do primeiro caso, obtida junto a uma fonte ligada ao governo federal.
A doença chega ao Rio Grande do Sul quase dois meses depois da megalópole Wuhan, na província de Hubei, na China, decretar quarentena, proibindo a livre circulação da população. A cidade chinesa é considerada o epicentro mundial da doença.
Atualmente, a situação mais preocupante é da Itália, que ampliou para todo o país, na segunda-feira (9), a área de quarentena, inicialmente localizada ao norte. Com 60 milhões de habitantes, a Itália é o primeiro país a entrar inteiramente em quarentena por causa do coronavírus e o segundo com o maior número de mortes por covid-19, atrás apenas da China.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins: