O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, anunciou, nesta segunda-feira (9), que as medidas de quarentena que isolaram a região da Lombardia devido ao coronavírus serão estendidas para todo o país. O anúncio oficial foi feito no Palazzo Chigi, sede do governo italiano.
Com mais de 9 mil casos positivos e 463 mortos (até 18h de segunda-feira), a Itália, com 60 milhões de habitantes, é o primeiro país a entrar inteiramente em quarentena por causa do coronavírus. A Itália é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, atrás apenas da China (80.735 doentes e 3.119 mortos). A Coreia do Sul tem mais casos de covid-19 que a Itália (7.382 ), mas 50 mortes.
Com as medidas, o executivo ordenou evitar deslocamentos e concentrações de pessoas em todo o país. Reuniões públicas estão proibidas, mas o transporte público seguirá funcionando.
Escolas e universidades da Itália ficarão fechadas até o dia 3 de abril. O premier também pediu para que as pessoas fiquem em casa e só saiam para trabalhar em casos de emergências. As medidas incluem a suspensão de todos os jogos do campeonato italiano de futebol.
— Todos devem desistir de algo para proteger a saúde dos cidadãos. Este é o momento de responsabilidade. Não podemos baixar a guarda — afirmou Conte no pronunciamento.
De acordo com o jornal Corriere della Sera, cada pessoa que precisar transitar entre os municípios deverá apresentar uma autodeclaração de responsabilidade.
O decreto será publicado no Diário Oficial da Itália nesta noite e entrará em vigor a partir desta terça-feira (10).
— Nossos hábitos precisam ser mudados. Eles precisam ser mudados agora. Decidi tomar medidas ainda mais rigorosas e fortes imediatamente. Podemos resumir a medida assinada como "eu fico em casa". Não haverá mais uma zona vermelha na península. A Itália será uma área protegida — afirmou o premier.
Na semana passada, o governo italiano havia anunciado um pacote de estímulos de 7,5 bilhões de euros, para deve encorajar formas de trabalho flexíveis, que permitam a manutenção das vagas e da produção, conforme anúncio do ministro da Economia, Roberto Gualtieri.
Nesse sentido, a doença também trouxe reflexos à Alemanha. O país anunciou, nesta segunda, um pacote de socorro para empresas prejudicadas pelo novo coronavírus e um programa de investimentos públicos para evitar que a maior economia da Europa mergulhe em recessão. O país registrou crescimento zero no quarto trimestre de 2019, abaixo do que previam economistas. Com cerca de mil doentes e as duas primeiras mortes anunciadas nesta segunda, a Alemanha viu sua atividade industrial duramente afetada pelos efeitos da doença na China.
As medidas
Eventos esportivos suspensos
Todos os jogos estão parados por tempo indeterminado, inclusive o campeonato italiano de futebol da série A.
Escolas fechadas até 3 de abril
Todas as escolas e universidades suspenderão as atividades até esta data. A medida se estende para museus, teatros, academias, piscinas, centros sociais e culturais. Concursos públicos, exceto para profissionais de saúde, também serão suspensos.
Bares e restaurantes não podem abrir à noite
A partir desta terça-feira (10), todos os bares e restaurantes vão fechar às 18h. Os donos dos estabelecimentos precisam obedecer uma regra que exige que os clientes fiquem a pelo menos um metro um do outro, do contrário, a atividade poderá ser suspensa. Discotecas, salas de jogos e de bingo serão fechados.
Missas, casamentos e funerais proibidos
Todos os eventos religiosos, como missas, casamentos e funerais, também estão suspensos por tempo indeterminado.
Lojas deverão respeitar restrição de distância
Para funcionar, um estabelecimento comercial precisará respeitar a ordem de restrição que obriga os clientes a manterem um metro de distância um do outro. Do contrário, a atividade poderá ser suspensa. Nos feriados e vésperas de feriados, todas as lojas e shoppings devem fechar. O governo recomenda que o acesso seja restrito a lojas, mercados e feiras, mas não proíbe a circulação.
Transporte público
Ainda não está prevista a suspensão do transporte público, incluindo ônibus, trens e aviões, no país.
— Uma limitação não está na agenda, para garantir a continuidade do sistema de produção — declarou o premier Giuseppe Conte.
Restrições causam revolta em prisões na Itália
O sistema prisional da Itália também passou a contar com maiores restrições, o que resultou em protestos e rebeliões em 27 presídios espalhados pelo país entre domingo (8) e esta segunda. Há relatos de que detentos atearam fogo em colchões e de que celas estão interditadas. As informações foram divulgadas pela agência italiana de notícias Ansa.
Entre as medidas impostas, está o isolamento de detentos que apresentem sintomas da doença, a restrição de contato durante visitas e a permissão para conversas apenas por telefone ou vídeo. Presos em liberdade condicional também estão recebendo um controle maior. Além dos presos, familiares também protestaram fora dos presídios.
Conforme a Ansa, a situação mais grave ocorre no presídio de Modena. No local, seis detentos morreram, de acordo com fontes da administração local. Três teriam morrido dentro da unidade e outros três depois de serem transferidos para outras prisões. As causas das mortes ainda são apuradas.
Ministro da Justiça da Itália, Alfonso Bonafede disse estar "consciente de que uma emergência como essa do coronavírus possa causar tensões dentro de um presídio, mas deve ficar clara a intenção das medidas tomadas".
— É nosso dever cuidar da saúde de quem trabalha e vive nas instituições penitenciárias — afirmou.
Segundo Bonafede, as normas devem valer pelos próximos 15 dias.
O garantidor nacional dos direitos dos detentos, Mauro Palma, disse que está "profundamente preocupado" pelos protestos, afirmando que alguns "têm violência inaceitável, com consequências gravíssimas".
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins: