Diante de uma projeção de aumento de casos do novo coronavírus nas próximas semanas, o Ministério da Saúde pediu a cinco hospitais filantrópicos de excelência no país que usem recursos e pessoal envolvidos hoje em projetos desenvolvidos no Sistema Único de Saúde (SUS) no enfrentamento da doença. Um deles é o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
O Brasil registra 37 casos confirmados de infecção. No pior cenário, a previsão do ministério é de que, em até duas semanas e meia, o país tenha aumentado exponencialmente os registros, que se manteriam em um platô por mais oito semanas.
Nesse período, o governo estima um grande aumento da demanda por atendimento hospitalar, ainda mais levando em conta a possibilidade de o momento coincidir com o pico de casos de gripe por influenza.
A projeção foi descrita pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em reunião na segunda-feira (9), em Brasília, com gestores de cinco hospitais: Sírio-Libanês, Albert Einstein, Oswaldo Cruz e Hospital do Coração (HCor), de São Paulo, e Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
As cinco instituições convocadas para a reunião integram o Programa de Apoio e Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi), o maior projeto público-privado na área da saúde no país. Existente desde 2009, ele atua em várias frentes, de capacitação pessoal à assistência especializada.
— Foi pedido para que fiquemos atentos à curva de aumento de casos, nos resguardarmos de estrutura e pessoas e redirecionarmos os recursos do Proadi, durante a crise (do coronavírus), para projetos de atendimento e suporte dos hospitais públicos — diz o médico Paulo Chapchap, diretor-geral do Sírio-Libanês.
Um dos projetos do Proadi é o Lean nas Emergências, que tem a meta de sanar o problema de superlotação e o7 longo tempo de espera nas emergências do SUS. Neste ano, cem hospitais públicos devem participar do projeto. Outros 59 já passaram por treinamentos.
— Naqueles hospitais onde estou fazendo o "Lean", vou dar suporte para que as emergências consigam absorver o grande número de casos da epidemia — explica o diretor.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins:
Outro projeto que deve estar envolvido na contenção da doença, por meio da telemedicina, é o Saúde em Nossas Mãos, que tem como objetivo reduzir casos de três tipos de infecções hospitalares em 119 instituições públicas do país.
— Vamos fazer o que for necessário. Os 'gaps' (brechas) vão aparecer, as necessidades vão ficar claras se epidemia vier na intensidade vista nos outros países. O ministério vai nos apontar as necessidades e a gente vai tentar ajudar — afirma o médico.
Segundo Ana Paula Marques de Pinho, superintendente de Responsabilidade Social do Hospital Oswaldo Cruz, a ideia é que as instituições ligadas ao Proadi usem a capilaridade dos projetos que já estão em curso no SUS:
— Você estende o mesmo nível de controle, a mesma lógica do privado, e o conhecimento fica mais equânime.
O cenário leva em conta a possibilidade de que nas próximas semanas o país já tenha transmissão comunitária do novo coronavírus.
— Os primeiros casos contaminaram de duas a três pessoas. Agora a progressão é geométrica, não tem jeito. É um para dois, dois para quatro, quatro para oito, oito para 16. A gente espera que a situação seja menos grave no Brasil por causa do clima, mas temos obrigação de estarmos preparados para o grave — afirma Chapchap.
Segundo o diretor do Sírio Libanês, a orientação é que, caso o pior cenário se confirme, cirurgias eletivas (como de hérnias, vesícula, quadril, joelho entre outras) sejam adiadas para que os leitos fiquem reservados às vítimas de coronavírus.
— Numa hora de estresse, são procedimentos que podem ser adiados sem prejuízo aos pacientes — diz Chapchap.
Outra preocupação é com a proteção dos profissionais de saúde, mais suscetíveis à contaminação. No Irã, 40% dos profissionais de saúde se infectaram. Na Itália, que declarou quarentena devido ao vírus, até profissionais não treinados, como bombeiros e pessoal do exército, estão ajudando no atendimento de pacientes. O país registra a maior taxa de letalidade até agora: 5%.
— A mensagem é: vamos nos preparar para o pior para evitarmos sustos. A gente não quer subsestimar a situação. Se não acontecer, ótimo, vamos celebrar —diz ele.
No Sírio-Libanês, eventos já foram cancelados e médicos proibidos de viajar de avião, inclusive no Brasil.
— Você entra num avião e não sabe quem tem e quem não tem (o coronavírus). Se eu ficar sem o profissional, fico sem conseguir atender os pacientes — afirma o diretor.