Um dos pacientes do Rio Grande do Sul que havia sido descartado como portador do novo coronavírus voltou a ter o seu caso investigado. Segundo o Ministério da Saúde, o paciente, cuja cidade não foi divulgada, apresentou outros sintomas e teve sua situação clínica modificada. A Secretaria Estadual da Saúde (SES), contudo, sustenta que os dois casos suspeitos são novos e foram notificados entre quarta (29) e quinta-feira (30).
— Essas colunas e esses dados podem ser alterados diariamente. Não significa que um caso descartado seja permanente — afirmou em coletiva de imprensa o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis.
Conforme explicação de Gabbardo, o paciente havia sido descartado porque clinicamente não tinha as condições para ser classificado como caso suspeito. De lá pra cá, contudo, o quadro mudou e ele começou a apresentar outros sintomas que lhe colocaram de volta na lista de suspeições. O novo coronavírus pode levar cerca de 14 dias até gerar sintomas na pessoa contaminada.
De acordo com as planilhas divulgadas pela pasta, há hoje dois casos suspeitos de coronavírus no Rio Grande do Sul e, ao todo, seis foram notificados pelo Estado ao governo federal — quatro já foram descartados ou excluídos.
O Ministério da Saúde divulgou que o número de suspeitos continua o mesmo, de nove casos, embora mais 10 notificações tenham chegado de ontem até o meio-dia de hoje. Novos quatro casos entraram para a planilha e estão sendo considerados suspeitos: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. Outros quatro que ontem estavam sendo considerados suspeitos foram para a coluna de excluídos ou descartados.
Os nove casos que atualmente estão na planilha dos suspeitos são: um em Minas Gerais, um no Rio de Janeiro, três em São Paulo, dois no Rio Grande do Sul, um no Paraná e um no Ceará. Ao todo, desde o da 18 de janeiro, 43 casos foram notificados pelos Estados ao Ministério da Saúde.
Em meio à coletiva de imprensa, o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, interrompeu sua fala para informar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia acabado de declarar emergência de saúde pública de importância mundial. Ontem, eram 6.065 casos confirmados de coronavírus em todo o mundo, hoje já são 7.818. Só na China, os casos confirmados ontem eram 5.997. Hoje, são 7.736. Os óbitos no país asiático totalizam 170. Ontem, eram 133.
De acordo com Wanderson, quando houver a confirmação do primeiro caso de coronavírus no país, o Brasil vai declarar emergência de saúde pública nacional, o nível três. Hoje, o país está estacionado no nível dois, de perigo iminente.
Mil leitos para o coronavírus
O Ministério da Saúde abriu na quarta-feira (29) processo licitatório para disponibilizar mil leitos em hospitais de referência para o coronavírus em todo o país. A distribuição vai ser realizada conforme a necessidade dos Estados — reunião com secretários estaduais de Saúde na próxima semana vai definir como será feita a repartição.
Segundo Gabbardo, os novos leitos, que custam entre R$ 15 mil e R$ 20 mil cada, serão colocados em funcionamento em no máximo 30 dias. No Rio Grande do Sul, os hospitais de referência são Hospital Nossa Senhora da Conceição Conceição e o Hospital Universitário de Canoas.
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A metrópole de 11 milhões de habitantes está isolada. Trens e voos foram interrompidos e detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações do Ano-Novo Lunar chinês na cidade. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam um museu.
Como surgiu?
O Centro para Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente dos Estados Unidos à Anvisa, identifica um grande mercado atacadista de peixes e frutos do mar na cidade de Wuhan como a origem das infecções.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido mais facilmente. Conforme o CDC, pessoas mais velhas parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Por que o nome coronavírus?
O nome vem do latim corona, que significa coroa. Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola.