No mesmo dia em que o Ministério da Saúde elevou o risco no Brasil contra o novo coronavírus, três casos suspeitos no país foram divulgados nesta terça-feira (28) – em São Leopoldo (RS), Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR), o mais recente. Apesar das suspeitas, ainda não há nenhum caso confirmado no país.
O número de suspeitas para o novo coronavírus deve aumentar nos próximos dias, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevar, na segunda-feira (27), a avaliação de risco de "moderado" para "alto". A medida levou o governo brasileiro a atualizar a definição sobre o que é um caso suspeito. Antes, entravam nessa classificação as pessoas com sintomas respiratórios (como febre, tosse e dificuldade para respirar) e que viajaram exclusivamente para a região de Wuhan 14 dias antes do início dos sintomas. Agora, para além dos sintomas, basta ter viajado para qualquer lugar da China nos últimos 14 dias.
O Ministério da Saúde divulgou, no início da noite desta terça, que a suspeita no Rio Grande do Sul seria em Porto Alegre, e não em São Leopoldo, mas a prefeitura de São Leopoldo e a da Capital, bem como o governo do Estado, negam a informação.
Em São Leopoldo, o caso suspeito é de um homem de 40 anos que vive na cidade chinesa de Kunming, a mais de 1,5 mil quilômetros de distância de Wuhan, epicentro da doença, confirmou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo Reis. O paciente chegou da China há quatro dias, para visita a parentes.
A prefeitura de São Leopoldo reforçou que o homem segue internado na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Scharlau, conforme as novas recomendações do Ministério da Saúde, mas que o paciente apresenta quadro bom e sem febre à tarde. A assessoria de imprensa diz que, por enquanto, não há necessidade de transferi-lo para hospital. Até a noite, ele seguia internado na UPA e em isolamento para observação. O material da coleta do exame foi encaminhado para o Laboratório Central do Estado (Lacen), responsável pela análise.
O governo estadual pede a todos os gaúchos que chegaram da China nas últimas duas semanas com sintomas (febre e dificuldade de respirar) procurem imediatamente uma unidade de saúde.
Outros dois casos suspeitos no país
Além da suspeita em São Leopoldo, outro caso é monitorado em Minas Gerais, de uma estudante de 22 anos que viajou a Wuhan e retornou ao Brasil em 24 de janeiro. Ela está isolada e aguardando resultado de exames. O terceiro caso é em Curitiba, no Paraná, mas o Ministério da Saúde não forneceu mais informações sobre a suspeita. O governo federal avalia que, até sexta-feira (31), os casos poderão ser confirmados ou descartados.
Antes da divulgação da suspeita no Paraná, o governo federal informou que, até sexta-feira (31), os casos mineiro e gaúcho poderiam ser confirmados ou descartados. Caso qualquer infecção por coronavírus seja confirmada no Brasil, o nível de alerta no país sobe para emergência de saúde pública nacional – quando há a possibilidade de o vírus já estar em circulação em solo brasileiro.
Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o Brasil tem total capacidade de identificar o coronavírus. O ministro aconselhou que viagens a turismo para a China sejam canceladas e feitas somente em caso de extrema necessidade. Ele afirmou ainda que há muitas perguntas sem respostas, como o período de incubação e a ação em crianças e gestantes.
Para os próximos dias, o governo federal prepara uma campanha nacional de prevenção ao novo coronavírus, informou a colunista Carolina Bahia. As orientações seguem os mesmos moldes da prevenção à gripe: lavar bem as mãos, evitar lugares fechados e com muitas pessoas, não ir ao trabalho ou escola quando estiver doente.
O coronavírus já atingiu quase 5,5 mil pessoas na China. De segunda-feira para terça, foram confirmados quase 2 mil novos casos. Até o momento, foram registradas 131 mortes. Cento e uma pessoas se recuperaram.
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A metrópole de 11 milhões de habitantes está isolada. Trens e voos foram interrompidos e detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações do Ano-Novo Lunar chinês na cidade. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam um museu.
Como surgiu?
O Centro para Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente dos Estados Unidos à Anvisa, identifica um grande mercado atacadista de peixes e frutos do mar na cidade de Wuhan como a origem das infecções.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido mais facilmente. Conforme o CDC, pessoas mais velhas parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Por que o nome coronavírus?
Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola. Em inglês, coroa é "crown".