Após um início de janeiro com estoques zerados da vacina pentavalente, por conta de um atraso no repasse pelo Ministério da Saúde, 11 postos de saúde de Porto Alegre já receberam, na manhã desta quinta-feira (9), doses para serem aplicadas na população. O governo federal enviou 41 mil aplicações ao Rio Grande do Sul — destas, 5 mil ficarão na Capital.
A partir desta sexta-feira (10), a imunização já estará disponível nas unidades de Panorama, Tristeza, Restinga, Clínica da Família, São Carlos, Bananeiras, Bom Jesus, Modelo, Navegantes, IAPI e Assis Brasil, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A prefeitura afirma que todas as 140 unidades de vacinação de Porto Alegre terão doses até o final da próxima semana, quando todos os 1,8 mil postos de saúde do Estado também terão a vacina.
A pentavalente faz parte do Calendário Nacional de Vacinação e é aplicada em bebês de dois, quatro e seis meses de idade. No Sistema Único de Saúde (SUS), ela protege contra cinco doenças: difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e um tipo de meningite.
A falta da vacina pentavalente é nacional e começou em junho do ano passado por problemas com o fornecedor, segundo o Ministério da Saúde. Em outubro, o Rio Grande do Sul recebeu apenas metade das doses requisitadas, conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES).
Envio em caráter emergencial
O governo federal distribuiu para todo o Brasil, na manhã desta quinta-feira, 1,7 milhão de doses em caráter emergencial — destas, 41 mil apenas para o Rio Grande do Sul. O carregamento já chegou aqui e o governo estadual está em processo de distribuição. Porto Alegre, por ser a Capital, foi a primeira cidade a receber a vacina.
Segundo o governo estadual, todos os 1,8 mil postos de vacinação espalhados pelo Rio Grande do Sul receberão doses, de forma proporcional à demanda, até a semana que vem. Como a logística varia conforme a distância entre cada cidade do Interior e Porto Alegre —onde está o depósito de armazenamento do lote recebido pelo governo federal —, a orientação é que a população ligue para a Secretaria da Saúde de seu município para saber se a vacina pentavalente já chegou.
— Essas 41 mil doses normalmente duram um mês. Mas, como temos demanda reprimida, receberemos uma nova cota, provavelmente na mesma quantidade, na semana que vem. O mais importante é tranquilizar a população porque a situação está sendo regularizada e passaremos a receber a vacina pentavalente dentro da rotina — explica Tani Ranieri, chefe da divisão de Vigilância Epidemológica da SES e responsável pela política de vacinação no Rio Grande do Sul.
Em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, disse que a regularização total deve ocorrer na metade do ano, considerando as crianças que não foram vacinadas no período correto enquanto havia falta da imunização:
— Isso vai acontecer de uma forma mais lenta, nós achamos que a regularização mesmo deve demorar até metade do ano de 2020. Adquirir uma vacina dessas de uma forma rápida é muito difícil, porque os laboratórios não produzem a vacina para vender, eles produzem quando já está vendida. O novo fornecedor teria que começar a fabricar essa vacina a partir da aquisição do Ministério, e isso demorou um certo tempo.
Até a tarde desta quinta-feira, ao menos 25 crianças haviam sido vacinadas no posto Modelo, bairro Santana. Duas delas eram as gêmeas Júlia e Laura, de quatro meses, levadas pela mãe, a advogada e servidora pública Cristina Heim, 37 anos, e pela avó, a dona de casa Fátima Heim, 63.
— Minha mãe foi na segunda-feira (6) no (posto) Santa Cecília e voltou hoje (9). Falaram que havia vacina aqui no Modelo e nós viemos — diz Cristina, que, com dó, acompanhou as filhas serem imunizadas e darem um breve choro, seguido de uma calmaria nos braços da mamãe.
A jovem de 21 anos Yasmin Machado trouxe o pequeno Natanael, de dois meses, para tomar a primeira dose da vacina pentavalente. Ela e uma amiga – que também levou a filha de dois meses para se vacinar – normalmente fazem a imunização na Unidade de Saúde Vila Cruzeiro. Entretanto, souberam que, no Posto de Saúde Modelo, a vacina já estava disponível nesta quinta-feira.
— Vim aqui rezando para Deus, porque eu achei que não ia ter (a vacina). Aí teria que pagar, mas eu liguei para algumas clínicas que também não tinham estoque. As que tinham custavam R$ 300, e aí vai tirar o dinheiro de onde? — afirma Yasmin.
Por que a vacina faltou?
Quem importa as vacinas pentavalentes é o Ministério da Saúde, que distribui as doses para os governos estaduais. As Secretarias Estaduais da Saúde, então, enviam as imunizações às Coordenadorias Regionais de Saúde, que distribuem às cidades —finalmente, cada município destina as doses aos postos de saúde.
A vacina começou a faltar em junho do ano passado no país. O Ministério da Saúde importava as vacinas do laboratório Biological E., por intermédio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Durante o trajeto de distribuição, as doses precisam ficar armazenadas sob uma temperatura de 2ºC a 8ºC.
No entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) detectou que, no transporte da última remessa, doses ficaram em temperatura diferente do exigido. O órgão submeteu amostras ao Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), que reprovou as vacinas em teste de qualidade. Como resultado, as compras do antigo fornecedor foram canceladas e o governo federal precisou ir atrás de um novo laboratório, o que atrasou o repasse para todo o Brasil.
A pentavalente protege contra quais doenças?
A vacina pentavalente é aplicada em bebês de dois, quatro e seis meses. Há duas imunizações – uma no Sistema Único de Saúde (SUS) e outra na rede privada, explica o supervisor médico da Infectologia Pediátrica do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Fabrizio Motta.
A vacina no SUS protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e um tipo de meningite pela bactéria hemófilos tipo B. Na rede privada, em vez de proteger contra hepatite B, protege contra poliomielite, além das outras quatro doenças.
O infectologista destaca que, tanto no SUS quanto na rede privada, o bebê recebe uma vacina à parte com a doença que não está na dose da pentavalente. Assim, a criança que for para uma unidade básica de saúde receberá, além da pentavalente, uma dose contra poliomielite, e a criança que se vacinar em clínica privada será imunizada contra hepatite B.
Pais precisam ficar atentos se começaram o esquema vacinal do filho no SUS e depois deram dose na rede privada. Neste caso, é preciso alertar o médico.
- Difteria: doença transmissível causada por bactéria que atinge garganta, nariz e, ocasionalmente, outras partes do corpo, como pele e mucosas. Dependendo do tamanho e de onde as placas aparecerem, a pessoa pode sentir dificuldade de respirar.
- Tétano: infecção causada por bactéria não contagiosa encontrada, sobretudo, em ferro enferrujado, terra e fezes. O contato costuma ocorrer por meio de ferida aberta. Se o tétano infeccionar e não for tratado corretamente, pode matar.
- Coqueluche: infecção respiratória, com alta taxa de transmissão, causada por bactéria. Está presente em todo o mundo. Sua principal característica são crises de tosse seca. É grave em crianças menores de seis meses. Pode atingir, também, traqueia e brônquios.
- Hepatite B: é um dos cinco tipos de hepatite existentes no Brasil. O tipo B é causada por vírus que entra em contato com sangue ou por via sexual. Na maioria dos casos, a Hepatite B não apresenta sintomas. Muitas vezes a doença é diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fígado (cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados), que costumam manifestar-se apenas em fases mais avançadas da doença.
- Bactéria hemófilos tipo B: bactéria que atinge principalmente crianças de até 5 anos e causa infecção no ouvido, meningite e pneumonia.
*Colaborou Yasmin Luz