O hábito relativamente comum de coçar os olhos é alvo de uma campanha mundial. O Junho Violeta, que chama a atenção para uma doença chamada ceratocone, tem como tema este ano a frase "Esfregar ou coçar os olhos prejudica a visão! Desinformação pode prejudicar mais que a doença". No Brasil, a mobilização é encabeçada por Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e demais entidades ligadas a essa especialidade médica.
Essa doença é caracterizada por uma alteração progressiva na córnea – a primeira camada do olho –, fazendo com que ela fique com aspecto "bicudo", explica a médica especialista em córnea Diane Marinho, chefe do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Apesar de não provocar cegueira, a condição prejudica muito a visão, que pode ficar distorcida e sombreada. Casos mais graves, que correspondem a menos de 10%, precisam de transplante de córnea. Para os demais, diz a médica, a prevenção é a melhor saída:
— É uma doença que, geralmente, ocorre na adolescência, e está bastante relacionada à alergia, ao ato de coçar os olhos. Há muitas evidências de que crianças que coçam muito os olhos e com tendência à doença, com certeza terão piora no quadro. A relação com a coceira é certa, mas não quer dizer que todos terão a alteração da córnea — fala a especialista.
Crianças que têm esse hábito merecem cuidado especial: Diane recomenda que a família faça acompanhamento médico e, se necessário, exame de topografia da córnea, que pode indicar o desenvolvimento do ceratocone. Para esses indivíduos, pode-se recomendar tanto o uso de colírios específicos para reduzir o prurido quanto tratamentos mais avançados, com uso de ultravioleta para enrijecer a córnea impedindo a progressão da doença. Quando atinge um nível intermediário, a doença também pode ser controlada com o implante de um anel de acrílico na córnea, que melhora a visão e combate a evolução do quadro. Rara, a condição tem prevalência variável de quatro a 600 casos a cada 100 mil pessoas no mundo, segundo dados da CBO.
A doença será tema de debate do 15º Congresso Sul-Brasileiro de Oftalmologia, que começa nesta quinta-feira (21), em Porto Alegre.