Zelar pela saúde dos olhos deve ser uma tarefa permanente – tem início nos primeiros instantes de vida e se estende pela infância, adolescência e fase adulta, até a velhice. Manter uma alimentação saudável, usar óculos de grau e de sol de qualidade e se submeter a uma rotina periódica de exames preventivos é a combinação ideal para preservar a boa visão, detectar e tratar doenças precocemente e evitar consequências mais graves, que podem incluir perdas irreparáveis.
Os cuidados começam ainda na maternidade, onde o recém-nascido é submetido ao teste do reflexo vermelho, conhecido também como teste do olhinho, capaz de identificar o retinoblastoma (tumor na retina) e a catarata congênita, entre outras alterações. Até os dois anos, a criança precisa passar por sua primeira consulta com um médico oftalmologista. O procedimento deve ser repetido pelo menos mais uma vez antes da fase de alfabetização, período importante para que problemas sérios possam ser identificados a tempo e para que a criança não tenha seu desempenho prejudicado. Na ambliopia, por exemplo, o paciente tem baixa visão em um olho, que acaba ficando "preguiçoso" – o cérebro ignora a imagem desfocada do olho "ruim" e utiliza só o olho bom.
– Se a gente não corrigir isso até os sete anos, nunca mais consegue. Aquela parte do cérebro não se desenvolve, e a criança não aprende depois. A visão nunca mais volta a ficar 100%, nem com lentes corretivas. É uma perda de visão irreversível – alerta o oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Mello Filho, doutor em retina e vítreo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), membro da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV) e do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
A partir dos sete anos, vale a recomendação de check-ups anuais para todos. O oftalmologista Marcelo Netto, doutor em Oftalmologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em Oftalmologia pela Universidade de Washington e pela The Cleveland Clinic Foundation, ambas nos Estados Unidos, lembra que o corpo humano é sempre dinâmico, e mudanças podem ocorrer a todo momento. A utilização intensa e crescente de computadores, tablets e celulares, destaca o médico, vem fazendo com que a visão seja cada vez mais exigida, e já existem estudos relacionando o uso excessivo desses aparelhos ao aumento da incidência de miopia (distorção das imagens ao longe), o problema de visão mais comum na população. Quem usa óculos, não importa o motivo, precisa revisar as lentes anualmente, pois os graus nunca se estabilizam totalmente. A partir dos 40 anos, aparece a presbiopia, a chamada vista cansada, que resulta do enfraquecimento da musculatura dos olhos e exige óculos para perto.
– Nos míopes os sintomas da presbiopia podem não se manifestar, porque a miopia compensa isso, ou aparecer mais tarde, mas todo mundo vai ter – explica Netto.
Enfermidades graves que podem levar à cegueira, como catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética, merecem atenção especial a partir dos 50 anos.
Risco de cegueira
A partir dos 50 anos, aumenta a incidência de doenças que podem provocar a perda da visão. Conheça as mais prevalentes:
Catarata
É uma consequência natural do envelhecimento: todos vão desenvolvê-la em algum momento da vida, alguns mais cedo, outros mais tarde. A enfermidade consiste na perda progressiva da transparência da lente intraocular, chamada de cristalino – o paciente vê imagens esfumaçadas, como se estivessem cobertas por uma névoa, e perde capacidade na distinção de detalhes e cores. O único tratamento possível é a cirurgia, capaz de restabelecer totalmente a visão.
Um cuidado fundamental a ser adotado ao longo de toda a vida é a proteção contra os raios solares ultravioleta. Deve-se usar óculos de grau e de sol de boa qualidade. Crianças também precisam se habituar ao acessório, por mais que resistam em colocá-lo.
Glaucoma
Silencioso e de evolução lenta, o glaucoma não provoca dor ou outros sintomas perceptíveis – é detectado apenas na aferição da pressão do olho, exame conduzido pelo médico oftalmologista. Quando o paciente começa a perceber que está com a vista prejudicada, a doença já está em estágio avançado, daí a importância de se fazer um acompanhamento preventivo constante, principalmente nos casos de quem tem histórico familiar de glaucoma. O dano é bem característico: o doente perde a visão periférica, preservando apenas a visão central. É como se enxergasse através de um tubo.
A visão avariada não pode ser recuperada. Com o diagnóstico precoce, o tratamento com colírios para baixar a pressão ocular elevada costuma ser eficiente. Em alguns casos, uma intervenção cirúrgica pode ser necessária.
Degeneração macular relacionada à idade
É a principal causa de cegueira entre os mais idosos, sendo mais comum nas pessoas de pele e olhos claros. O paciente acometido pela DMRI perde o campo central da visão – onde enxerga uma mancha escura –, mantendo apenas a visão periférica. Trata-se de uma doença incapacitante, que deixa o doente legalmente cego. Na grande maioria dos casos, não há nada que se possa fazer. A alguns doentes, prescrevem-se suplementações vitamínicas. Para cerca de 10% dos pacientes, é indicado um tratamento com injeções intravítreo (dentro dos olhos) que fazem o problema regredir.
Como medida preventiva, recomenda-se também o uso habitual de óculos de sol.
Retinopatia diabética
Consequência do diabetes, é a principal causa de cegueira irreversível na população economicamente ativa, de até 65 anos. A retinopatia diabética pode atingir inclusive os diabéticos que mantém a doença bem controlada. Todos precisam se submeter a exames oftalmológicos completos regulares desde o primeiro ano de diagnóstico do diabetes – não basta ir ao médico apenas para ajustar o grau dos óculos. O tratamento também é feito com injeções intraoculares, com efeito que perdura por alguns meses, até a próxima aplicação. A menos que o edema se agrave, as injeções podem restaurar a visão do paciente.
Recomenda-se o controle permanente do diabetes com o acompanhamento de uma equipe multiprofissional (endocrinologista, cardiologista e oftalmologista, entre outras especialidades que possam se fazer necessárias).
Saiba mais
– Um teste simples pode ajudar a detectar dificuldades de visão na criança: cubra um dos olhos e verifique se ela enxerga bem só com o outro. Pais e professores devem estar atentos a queixas de dor de cabeça.
– Casos de estrabismo precisam de avaliação individualizada. Alguns são corrigidos com intervenção cirúrgica, enquanto outros melhoram com o uso de óculos.
– Pacientes diabéticos, hipertensos, com alterações na tireoide ou artrite reumatoide (por conta da medicação) devem prestar especial atenção à saúde dos olhos, mantendo consultas regulares com um oftalmologista.
– Dormir sem remover a maquiagem faz mal, usar maquiagem vencida também. Confira as datas de validade dos produtos.
– Quem tem diversos óculos e gosta de variar pode enfrentar dificuldade para manter todos os acessórios com as lentes em dia, principalmente pelo custo que cada troca representa. Não há prejuízo para os olhos se houver alternância entre óculos com uma pequena diferença de grau entre si, mas você não terá a mesma acurácia visual e poderá sentir a vista cansada.
– Compre óculos de boa qualidade. Use as lentes de contato corretamente, limpando-as conforme as orientações de seu oftalmologista e respeitando a validade dos produtos.
– Não mexa nos olhos com as mãos sujas.