Após o fracasso da Pfizer em 2007, quando a produção da Exubera — a primeira insulina inalável do mundo — foi suspensa mundialmente após pouco mais de um ano no mercado devido à baixa aceitação do produto pelo público, foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a comercialização da Afrezza no Brasil, medicamento semelhante que substitui as aplicações injetáveis de insulina de ação rápida ou ultrarrápida, também conhecidas como bolus, utilizadas antes das refeições. A resolução nº 1.442, de 30 de maio, foi publicada nesta segunda-feira (3) no Diário Oficial da União.
O tratamento é indicado para o controle glicêmico de pacientes de diabetes adultos e não fumantes, que também não apresentem nenhum problema pulmonar, devendo ser utilizado em combinação com uma insulina de ação prolongada — ou seja, não termina com a necessidade de injeções, mas reduz seu número ao longo do dia.
O remédio, que de acordo com o laboratório, teria a mesma eficácia do método tradicional, é utilizado via inalador. Isto pode representar uma grande diferença para os portadores do distúrbio, como destaca Ciro Enrique Massari, farmacêutico e diretor comercial da Biomm:
— É um ganho na qualidade de vida. Se você pensar no jovem que sai com os amigos para almoçar no shopping, é um constrangimento ter que parar antes da refeição para tomar uma injeção. E isso não será mais necessário.
A Afrezza está disponível nos Estados Unidos desde 2015, quando foi aprovado pela agência de regulamentação norte-americana Food and Drug Administration (FDA),
Endocrinologista do Hospital Mãe de Deus, Gabriela Teló destaca que ainda não existem estudos sobre o efeito a longo prazo da utilização deste tipo de insulina:
— Uma coisa que não será muito comentada é que os pacientes vão precisar de avaliação pulmonar antes de iniciar o tratamento, depois de seis meses e, após este período, anualmente. Ainda não é possível saber se haverá uma toxicidade pulmonar.
De acordo com a profissional, que trabalhou como pesquisadora na Joslin Diabetes Center, em Boston, o maior centro de diabetes do mundo, vinculado à Universidade Harvard, outros pontos sensíveis são a falta de um ajuste fino na dose de insulina em pó, frente à injetável, assim como a biodisponibilidade menor — que resulta na necessidade de doses maiores.
Apesar das ressalvas, Gabriela garante que o medicamento é uma alternativa interessante para os pacientes que resistem ao tratamento tradicional:
— Não é um substituto. É uma alternativa de tratamento, uma vez que há pessoas que não se adaptam às injeções, mas que ainda necessitam do controle glicêmico.
A expectativa é de que o Afrezza esteja disponível no Brasil até o último trimestre de 2019, uma vez que ainda é necessário o registro de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (2017), pelo menos 12,5 milhões de brasileiros sofrem com o diabetes — na população mundial, a incidência é de 425 milhões.