Ana Laura Ferrari da Cunha, 11 anos, conta com detalhes o diagnóstico que recebeu aos sete anos. A menina de São Leopoldo estava comendo bastante, mas emagrecia de forma espantosa. O resultado foi certeiro: diabetes tipo 1.
— Eu sabia mais ou menos o que era diabetes, sabia que ia ter que tomar injeção para não ficar internada — lembra a menina.
No dia seguinte ao diagnóstico, ela já começou a frequentar o Instituto da Criança com Diabetes (ICD), em Porto Alegre. Agora, sabe tudo sobre a doença. Aprendeu que pode comer de tudo, mas com moderação. Em oficinas com nutricionistas, soube como contar os carboidratos da comida e equilibrar com as doses de insulina — que ela e a família se revezam para aplicar.
— É uma doença séria, mas muito fácil de viver. O instituto foi nosso porto seguro, aprendemos tudo sobre a doença e até hoje ela ama vir aqui — completa a mãe de Ana Laura, Alessandra Loeblein Ferrari.
Ana Laura é uma das 3,7 mil crianças, adolescentes e jovens adultos do Estado atendidos atualmente pelo ICD, que completa 15 anos em 2019 e organiza a 21ª Corrida para Vencer o Diabetes no próximo domingo, dia 26. Todo o atendimento na entidade é gratuito por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), com convênio com o Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Os pacientes são encaminhados por médicos e secretarias municipais de Saúde.
A entidade privada sem fins lucrativos trabalha para prevenir as complicações decorrentes da doença e já apresenta resultados importantes, como a redução de 92,5% nas internações hospitalares dos pacientes na comparação com o início das atividades, em 2004. O presidente do ICD, Balduino Tschiedel, explica que o grande diferencial está neste enfoque educativo. No local, pacientes e familiares assistem a vídeos explicativos e, depois, há debates sobre todos os temas que envolvem a doença. O instituto oferece ainda aulas de crossfit, leitos em um hospital dia e Hot Line, uma linha telefônica para atendimento aos pacientes, familiares e cuidadores.
— O ICD é um serviço que inovou muito, porque dá muita atenção à questão da educação para diminuir internações por situações agudas e por complicações crônicas do paciente, seja um problema renal ou ocular — afirma Tschiedel.
Equipe multidisciplinar atende os pacientes
Vestindo um moletom do Homem-Aranha, Arthur Medeiros, três anos, acredita que as injeções aplicadas diariamente são doses de superpoder. Assim, logo que acorda pela manhã, aponta o dedo para a mãe, Silvânia, medir quanto "poder" irá precisar naquele dia. É dessa forma lúdica que a família encara as medições diárias de glicemia do pequeno.
Ele teve a confirmação da doença em abril deste ano e precisou ficar 12 dias internado por conta da cetoacidose, complicação grave da diabetes. A mãe dele ainda se emociona ao lembrar do susto inicial. Em maio deste ano, na primeira vez que a família de Cachoeirinha esteve no ICD, passou um dia inteiro em consultas com nutricionista, assistente social, endocrinologista e psicólogo. No final, saiu com um plano alimentar exclusivo, a dose de insulina ajustada, além de tirar um peso das costas ao entender que a doença não é causada por atitude dos pais ou da criança — pode acontecer por uma herança genética em conjunto com fatores ambientais.
Conhecer a doença é parte do processo de aceitação. Bruno Duarte Petersen, 23 anos, trilhou esse caminho com tranquilidade. Diagnosticado aos 12 anos, sempre teve acompanhamento no ICD, onde continua indo pelo menos uma vez a cada quatro meses. A relação com a diabetes ajudou inclusive a escolher qual profissão queria seguir. Ele começou a praticar mais exercícios depois do diagnóstico e, hoje, é educador físico. Tem uma academia para atender alunos como ele.
— A diferença é que a gente mede a glicemia antes do treino para evitar a hipoglicemia ou hiperglicemia. Quem tem diabetes tem uma vida normal — diz.
Para isso, ele segue os ensinamentos dos 11 anos na entidade e não descuida da alimentação, exercícios físicos e da injeção diária de superpoder.
Corrida ocorre no domingo
No próximo domingo, dia 26, a entidade organiza a 21ª edição da Corrida Para Vencer o Diabetes. Quem quiser participar e ajudar a instituição, pode comprar a camiseta, que custa R$ 20. Esse é o principal evento do instituto para arrecadação de verba. Inclusive foi com o valor arrecadado nas primeiras cinco corridas que a entidade ergueu o prédio de seis andares, no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre, que conta com hospital-dia (que realiza 2,6 mil atendimentos por ano), ambulatório (aqui, são 21,4 mil atendimentos/ano), centro oftalmológico, brinquedoteca, quadra esportiva e salas de aula. Atualmente, o dinheiro da venda de camisetas é usado para manutenção e compra de insumos.
O percurso da Corrida tem início no Parque Moinhos de Vento (Parcão). Depois, os participantes seguem até o cruzamento das avenidas Silva Só e Ipiranga, fazem o retorno na Rua Felipe de Oliveira e voltam pelo mesmo caminho. Para percorrer os quatro quilômetros de distância, o corredor também terá à disposição frutas e água.
Como participar da 21ª Corrida para Vencer o Diabetes
- Quando: 26 de maio de 2019, com largada às 10h
- Local: Parque Moinhos de Vento (Parcão), em Porto Alegre
- Valor da camiseta: R$ 20, à venda nas farmácias Panvel de Porto Alegre e na sede do ICD, na Rua Álvares Cabral, 529
- Mais informações: (51) 3341-2450 ou neste site