A oficialização do surto de toxoplasmose em Santa Maria completa um ano no dia 18 de abril e, neste período, muitas dúvidas e informações desencontradas fazem parte da rotina de quem vive na maior cidade do centro do Estado. A declaração do atual secretário de saúde do município, Francisco Harrison, de que "a água da Corsan" disseminou o surto trouxe novamente o assunto à tona. Em entrevista à reportagem de GaúchaZH na manhã desta sexta-feira (29), o diretor de Operações da Corsan, Eduardo Carvalho, disse que a informação repassada pelo represente da prefeitura é "surpreendente e descabida", já que, conforme ele, há provas e exames que comprovam que não há relação entre a água fornecida pela companhia e o surto da doença no município.
Carvalho defende que o secretário se baseou em probabilidades e informações estatísticas referentes ao ano passado, quando o surto teve início:
— Pelo que eu ouvi da reportagem, a declaração é com base em relatórios parciais. São ainda aqueles relatórios que falam da probabilidade estatística. Contra contra probabilidades estatísticas, a Corsan apresenta fatos e resultados. Não condiz com a realidade, não trata das questões que a Corsan está fazendo. Estamos monitorando, temos provas objetivas e comprovação de inexistência de qualquer percentual de probabilidade de nexo causal entre a Corsan e o surto.
O diretor reforça que a Corsan tem cumprido com as exigências determinadas pelo Ministério da Saúde que, em agosto do ano passado, apontou em relatório "fragilidades no abastecimento de água do município" e determinou ações a serem desenvolvidas pela companhia, pelo município e pelo Estado. Entre as recomendações sugeridas pela pasta em relatório, está o monitoramento dos parâmetros de qualidade da água bruta de forma individualizada durante um ano. Carvalho afirma que todas as amostras coletadas, até agora, tiveram "resultado negativo" para a presença do protozoário causador da toxoplasmose:
— Me parece surpreendente essa declaração do secretário agora porque não há nenhum fato novo, a não ser com relação à inexistência de nexo causal (do surto) com a Corsan. Nós ampliamos nossa malha de investigação por determinação do Ministério e continua dando negativo.
Prefeitura destaca que "não há fato novo"
A discussão voltou à tona nesta quinta-feira (28), após o secretário de saúde fazer a relação da causa do surto com a Corsan, em entrevista à reportagem da RBS TV:
— Os relatórios que vieram, a fonte, a disseminação da doença, foi através da água da Corsan.
Foi a primeira vez que uma autoridade de saúde fez a confirmação de que havia relação entre a água fornecida pela companhia e o surto. Em junho do ano passado, o Ministério da Saúde apontou água e hortaliças como possíveis origens do surto de toxoplasmose e descartou carne suína e embutidos. A pasta, no entanto, afirmou que a investigação não estava concluída. A entrevista coletiva se deu após declarações polêmicas do então ministro, Gilberto Occhi.
Uma semana antes da coletiva, ele afirmou na Rádio Gaúcha que o surto de toxoplasmose "veio da água". Contudo, ele não deixou claro onde houve a contaminação - nos sistemas operados pela Corsan, nos poços artesianos ou até mesmo no lençol freático.
— Essa declaração do secretário me parece muito semelhante à do então Ministro da Saúde, Gilberto Occhi, no ano passado. Que ao ver um relatório parcial do Ministério da Saúde e questionários afirmando que a água era a causa do surto. São dados parciais que nada refletem a realidade — completou o diretor de operações da Corsan.
Na manhã desta sexta-feira (29), a prefeitura emitiu posicionamento a respeito do assunto. Nele, afirma que "não há fato novo" sobre o surto e que "qualquer afirmação ou confirmação a esse respeito só poderá ser feita após os relatórios finais emitidos pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS)".
A última atualização de casos aponta que 902 pessoas foram diagnosticadas com toxoplasmose até o momento. Três gestantes chegaram perderam seus bebês.
Íntegra da nota da prefeitura:
A declaração do secretário municipal de Saúde, Dr. Francisco Harrisson, refere-se, na verdade, aos relatórios emitidos pelos órgãos de Saúde do Governo do Estado e do Governo Federal a partir das investigações preliminares, ainda em 2018, os quais indicam o abastecimento de água como a fonte mais provável de disseminação da toxoplasmose em Santa Maria. Não há, portanto, nenhum fato novo em relação à investigação sobre as causas do surto, e qualquer afirmação ou confirmação a esse respeito só poderá ser feita após os relatórios finais emitidos pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS).