Três dias depois de representantes do governo federal, da Secretaria Estadual de Saúde e da prefeitura de Santa Maria apontarem, em entrevista coletiva, que a origem do surto de toxoplasmose no município ainda não havia sido identificada, o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, apontou a causa da infecção. Segundo ele, a equipe da Vigilância em Saúde do ministério que esteve no Rio Grande do Sul garantiu que se trata da contaminação da água.
— Veio da água. Isso foi confirmado por técnicos do próprio ministério que estiveram no Rio Grande do Sul — disse Occhi em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (21).
Embora não tenha deixado claro onde houve a contaminação — nos sistemas operados pela Corsan, nos poços artesianos ou até mesmo no lençol freático —, ele garantiu que todos os esforços da pasta, agora, são para descobrir como essa água foi infectada.
— A origem foi descoberta. Agora, estamos fazendo outro tipo de pesquisa para que possamos identificar como isso chegou na água que abastece Santa Maria. Estamos trabalhando para ver o que pode ter acontecido.
Além do trabalho para identificar como a água foi contaminada, Occhi também afirmou que o ministério tem dado todo o suporte para o município atender os pacientes:
— Estamos encaminhando medicamentos para que essas pessoas possam ter uma atenção.
Após a entrevista, o Ministério da Saúde afirmou que a investigação segue em andamento, mas não esclareceu se as informações repassadas pelo ministro estão equivocadas.
"Na investigação de caso feita por meio de entrevistas com a população, a causa provável de infecção é a água. A investigação, no entanto, permanece, inclusive, para determinar a origem da contaminação", diz a nota.
Ouça a entrevista de Occhi:
Na segunda-feira (18), durante a apresentação do último boletim da doença no município, Renato Alves, coordenador de Doenças Transmissíveis do ministério, afirmou que o trabalho dos técnicos do governo federal havia sido concluído, mas que ainda era preciso cruzar informações para identificar a fonte da propagação da doença.
— As investigações de surto de toxoplasmose, de maneira geral, são bastante complexas e demandam muito tempo. É preciso identificar casos, se aconteceram em um mesmo período de tempo. Esse talvez seja o maior desafio. A partir disso, é feita uma investigação de campo, com aplicação de questionários, coletas de dados. O momento em que estamos agora é da análise preliminar desses dados, só descritiva. Ainda não se verificou se existe alguma associação entre os fatores de consumo das pessoas e a doença. A partir de agora, faremos uma análise estatística desses dados para ver se apontam em alguma direção de uma possível fonte de infecção — disse em entrevista coletiva que também contou com a presença de representantes dos governos estadual e municipal.
As autoridades encaminharam, nos dias 5 e 6 de junho, mais sete amostras de água para o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen) para primeira análise. Depois, elas iriam para a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Quatro amostras são de açudes, duas de poços artesianos, e uma de uma vertente de água. Também foram colhidas amostras de lodo dos reservatórios de água e mais duas coletas de reservatórios em locais com casos confirmados. Os resultados devem sair em até 15 dias.
Um primeiro lote de amostras, coletadas na Estação de Tratamento (ETA) da Corsan e em residências na cidade e também analisado pela UEL, no início de maio, tiveram resultado negativo quanto à presença do DNA de Toxoplasma gondii, agente causador da toxoplasmose.
Repercussão
A assessoria da Corsan, companhia responsável pelo abastecimento de água em Santa Maria, disse ao Gaúcha Atualidade que amostras vem sendo analisadas pela empresa e acompanhadas pela Secretaria Estadual da Saúde e Ministério da Saúde. Reforça ainda que todos os resultados de análises deram negativo para a toxoplasmose.
A Secretaria Estadual da Saúde afirmou que o trabalho de investigação da fonte de contágio segue em andamento. "Até o momento, já foram analisadas no laboratório de referência (na Universidade Estadual de Londrina) amostras de água da Estação de Tratamento da Corsan, de reservatórios de água de residências onde há casos confirmados além de água utilizada no processo cultivo de hortaliças. Todas elas deram resultado negativo quanto à presença do DNA de protozoário que causa a doença, o Toxoplasma gondii. Ainda estão sendo examinadas no Paraná outras análises de água, incluindo amostras provenientes de açude, poço artesiano, vertente e lodo de reservatórios de água de residências de outros casos confirmados."
A reportagem tenta entrevistas com representantes da Corsan e da secretaria para esclarecer os pontos apontados pelo ministro. Em nota após as declarações de Gilberto Occhi, o Ministério da Saúde disse que a investigação segue em andamento.
Confira a nota do Ministério da Saúde
"O Ministério da Saúde informa que uma série de fatores e hábitos de consumo estão sendo investigados, entre eles a água, para identificar a fonte de transmissão do surto de toxoplasmose que ocorreu no município de Santa Maria (RS). Alguns deles já foram descartados, como consumo de carne suína, frango, carne bovina e frutas. Outros fatores permanecem em análise.
Na investigação de caso feita por meio de entrevistas com a população, a causa provável de infecção é a água. A investigação, no entanto, permanece, inclusive, para determinar a origem da contaminação.
O Ministério da Saúde informa que tem auxiliado o estado do Rio Grande do Sul e Santa Maria na investigação dos casos, mantendo equipe do EpiSUS no município desde o dia 26 de abril. Os técnicos deixaram o município nesta semana para analisar os dados colhidos na região.
CASOS – Até o dia 18 de junho, foram confirmados, laboratorialmente, pelo Ministério da Saúde, 90 casos de toxoplasmose com indício de infecção recente. Nestes casos, o exame leva em consideração o período de infecção que deu positivo. Ou seja, é possível saber se a transmissão ocorreu neste surto atual, com a mesma fonte de infecção provável.
Na literatura mundial, a prevalência da toxoplasmose pode ter sorologia positiva em até 50% da população e, por ter a forma crônica da doença, o resultado pode continuar dando positivo por anos após a infecção. Por isso é necessário diferenciar os casos recentes, para que a investigação epidemiológica do surto seja precisa. No entanto, cabe ressaltar que todos os casos estão sendo devidamente investigados e tratados.
O principal objetivo de qualquer investigação de um surto é dar o atendimento necessário às pessoas que, possivelmente ou potencialmente, estão doentes. Para isso, é necessário diagnóstico médico e, muitas vezes, exame laboratorial. Nos casos das confirmações pelo Rio Grande do Sul, os critérios adotados definiram as pessoas que estão passíveis de receber a assistência devida.
Já para fins de investigação de um surto, existe um outro objetivo. Além de identificar as pessoas doentes, o Ministério da Saúde tem que identificar qual a fonte de infecção para checar se há algum risco de repetição. Para isso, é preciso ter certeza de que esses casos estão associados a um período determinado de tempo. Por isso, o critério mais específico e a diferença de números.
Cabe esclarecer que o fato da investigação do Ministério da Saúde chegar a 90 casos, não significa que outras pessoas não serão assistidas. Todos que receberem um diagnóstico clínico de que é passível de tratamento, de indicação de um acompanhamento médico, serão acompanhadas.
AÇÕES – Uma equipe do Ministério da Saúde esteve em campo no município de Santa Maria (RS) desde o dia 26 de abril, quando houve pelo estado e município para auxílio nas investigações de um surto de toxoplasmose. As investigações foram feitas sob coordenação da Secretaria de Estado de Saúde do Rio Grande do Sul. Os técnicos da pasta deixam a cidade nesta segunda-feira (18) para continuar a investigação dos dados coletados, em Brasília.
Cabe ressaltar que o Ministério da Saúde monitora a investigação junto à Vigilância Epidemiológica municipal e estadual e junto ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) da SES/RS. Além do monitoramento, o Ministério da Saúde realizou algumas ações, como: orientações técnicas para notificação; orientações sobre o diagnóstico e tratamento da doença; disponibilização de contato permanente com médicos especialistas na doença; emissão de nota informativa com orientações para apoiar a investigação de surto; disponibilização de laboratórios colaboradores para a realização de exames; envio de especialistas na doença para discussão presencial no município; realização de vídeo e web conferências; aquisição de insumos para a realização de análises laboratoriais, além do envio de profissionais de saúde para apoiar a investigação de campo e identificação das possíveis fontes de infecção. "