Depois da confirmação de 569 casos de toxoplasmose em Santa Maria, autoridades municipais, estaduais e federais seguem sem respostas para o surto da doença. Até o momento, o grande debate gira em torno da origem da infecção, que depois de dois meses segue sem identificação.
— O que mais queremos saber é a origem da doença, mas é uma investigação complexa — disse o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, em entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta terça-feira (19).
Já que não há nenhuma confirmação das causas, Pozzobom defende que é prematuro afirmar que se trata de contaminação da água ou de alimentos. Contudo, pede que medidas de precaução sejam tomadas:
— O que temos que fazer é continuar a prevenção: ferver a água, lavar bem alimentos crus e evitar o consumo de carnes malpassadas.
Além disso, o prefeito chama a atenção das mulheres que planejam engravidar:
— Pedimos que esperem.
Pozzobom também rebateu as críticas sobre a suposta demora das autoridades para agirem logo após os primeiros registros da doença, em fevereiro deste ano.
— O surto foi constatado em 20 de abril. Ele é classificado, tecnicamente, quando há um conjunto de casos, não com o primeiro. Naquele momento, tínhamos 51 confirmações.
A partir da conclusão dessa primeira etapa da apuração, disse Pozzobom, as equipes técnicas vão cruzar os dados dos questionários feitos com a população para tentar encontrar as respostas para o alto número de casos.
Fora o reforço na fiscalização da qualidade da água da Corsan — o que inclui verificação das caixas d'água —, o prefeito garante que tem sido feito um trabalho de investigação dos poços artesianos clandestinos do município:
— Temos reuniões semanais com um grupo técnico que tem nos orientado. Não gosto de chamar de gabinete de crise, mas de solução. Estamos fazendo tudo com muito amor, carinho e preocupação.
Procurar um posto de saúde aos primeiros sintomas
Enquanto as causas do surto não são descobertas, a prefeitura de Santa Maria pede que a população fique alerta à água, aos alimentos crus e carnes malpassadas, especialmente no caso de gestantes. As autoridades também reforçam que, ao sentirem qualquer sintoma, as pessoas devem procurar as unidades de saúde, que estão preparadas para atender os casos suspeitos.
— Nossas unidades de saúde permanecem abertas. Pedimos que mediante qualquer sintoma, se procure as unidades. Nós temos o medicamento para atender no que for necessário.
Entenda a toxoplasmose
O que é?
É uma doença infecciosa provocada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii.
Como se transmite?
A transmissão se dá por via oral, através da ingestão do cisto (forma infectante). Isso pode ocorrer pelo consumo de alimentos contaminados como verduras não cozidas, carnes malcozidas ou pela água.
— O hospedeiro definitivo são os felinos. É neles que o protozoário se reproduz e é disseminado através das fezes— explica o médico infectologista Thiego Cavalheiro, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Por exemplo: um gato — geralmente os de rua têm a doença — evacua no pasto que é consumido pelos suínos, ovinos ou bovinos. O animal é contaminado. Na sequência, uma pessoa consome a carne contaminada malpassada e se contamina.
Considerando esse ciclo, não há transmissão interpessoal (de humano para humano), garante o especialista.
Quais os sintomas?
Embora possa resultar em um quadro de febre alta, dores no corpo e de cabeça e ínguas no pescoço, Cavalheiro diz que tais sinais não são comuns:
— A maioria dos pacientes que adquirem o agente fazem a infecção e não apresentam sintomas. É uma minoria que os tem, cerca de 20%.
O infectado também pode ter falta de apetite, manifestações cutâneas e sintomas respiratórios.