Em uma viagem pela América do Sul, no mês passado, com dois de meus netos, o mais novo – Tennyson, de 14 anos – desenvolveu uma tosse. Estava sem febre, sem catarro e bem-disposto, disse que se sentia bem, comia e dormia normalmente e se manteve hidratado. Porém, após oito dias, depois de assistirmos a um espetáculo de falcões sob um vento congelante, a tosse estava claramente pior.
Como a adulta responsável, decidi comprar na farmácia um remédio para ele – a versão equatoriana do Robitussin DM. Agora, sei que o que minha avó nos dava – canja de galinha ou chá com mel, ou ainda um xarope com chocolate em pó – talvez tivesse sido a melhor escolha para acalmar as vias aéreas do meu neto, como indica um novo estudo.
A tosse é uma das principais razões para procurarmos o médico e a farmácia, onde prateleiras e mais prateleiras de remédios sem prescrição deixam atordoado até o mais perspicaz dos consumidores. Além disso, americanos gastam cerca de 8 bilhões de dólares (quase 30 bilhões de reais) por ano em produtos sem prescrição para tosse e resfriados.
Mesmo assim, as evidências do valor desses medicamentos para tratar a maioria das tosses, sejam elas úmidas ou secas, são escassas. O mais provável é que qualquer benefício que se tenha com eles seja, antes de tudo, devido ao efeito placebo: você acredita – espera – que vão ajudar, pelo menos temporariamente. Mas, mesmo quando funcionam minimamente, eles não curam a tosse nem abreviam sua duração.
As pessoas ansiosas por um pouco de alívio, e que estão convencidas de que os remédios para a tosse deveriam funcionar, compram de qualquer maneira. Foi o que me contou o dr. Norman H. Edelman, pneumologista da Escola de Medicina da Universidade Stony Brook e conselheiro científico da Associação Americana de Pneumologia. Ele não está sugerindo que esses medicamentos não façam nenhum efeito, mas apenas que não existe nenhuma prova de que funcionem. Eles não estão isentos de efeitos colaterais, embora sejam raros, e alguns podem ser prejudiciais para pessoas com problemas de saúde como pressão alta ou insuficiência cardíaca.
Eles também nunca devem sem administrados em crianças menores de quatro anos, como indicam as embalagens. Na realidade, a Academia Americana de Pediatria afirma não existir razão para usá-los em crianças com menos de seis anos. Como os fabricantes tentam cobrir todas as bases, a maioria dos remédios sem receita contém uma combinação de três ou quatro componentes, quando o paciente só precisaria de um ou dois. Os ingredientes típicos incluem um supressor de tosse, um expectorante e um anti-histamínico, mas, às vezes, tudo de que alguém precisa para sufocar uma tosse incômoda seja melhorar a hidratação ou tomar chá quente com mel.
Ainda não tive a chance de tentar essa estratégia, mas a dra. Alyn Morice, especialista em respiração da Universidade de Hull e fundadora da Sociedade Internacional para o Estudo da Tosse, recentemente divulgou um teste controlado aleatório envolvendo 163 pacientes que concluiu que um remédio para tosse à base de chocolate era superior aos tradicionais. A explicação: o cacau tem propriedades emolientes, ou seja, acalma as membranas da mucosa que estão irritadas, produzindo uma camada protetora que cobre as terminações nervosas responsáveis por desencadear a vontade de tossir.
Em circunstâncias normais, a tosse é um reflexo muito útil que nos ajuda a eliminar muco e substâncias irritantes das vias aéreas, evitando que resíduos ou líquidos atinjam os pulmões. As tosses se tornam especialmente incômodas quando se arrastam por semanas ou quando somos surpreendidos por um ataque no meio de uma peça, um concerto ou uma palestra. (Dica de amiga: sempre leve consigo algumas pastilhas que possam ser abertas sem muito barulho e, se possível, uma pequena garrafa de água para parar uma tosse persistente.)
A maioria das tosses prolongadas são o efeito residual de uma gripe ou resfriado, podendo durar semanas, melhorar ou piorar, e mesmo assim não passar de um incômodo, afirmou Edelman. Contudo, o sofrimento associado às tosses leva mais de 30 milhões de pessoas ao médico todos os anos.
Em um artigo para o "The New England Journal of Medicine", as médicas Ashley Woodcock e Jaclyn A. Smith estimaram que a tosse persistente chega a afetar "até 12 por cento da população mundial"
Por outro lado, há circunstâncias em que um médico deve ser consultado. Entre elas, explicou Edelman, quando os pacientes apresentam condições médicas crônicas, como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) ou até mesmo os casos mais leves de asma. "Asmáticos devem estabelecer um plano de ação junto com o médico – o que fazer caso uma tosse se desenvolva. É melhor atuar no começo, no estágio inicial da inflamação, porque é mais difícil tratá-la quando totalmente estabelecida. Quem tem problema de saúde crônico não pode esperar quatro semanas para ir ao médico. Se, todo inverno, você pega gripe atrás de gripe seguida de tosse, procure um médico imediatamente, porque pode ser sinal de um problema persistente", alertou.
Outros casos que requerem atenção médica incluem tosses persistentes que interfiram no sono; tosses associadas a febre, calafrios e indisposição; e tosses que produzam sangue no catarro. Há ainda as crônicas, que duram oito semanas ou mais. Estas podem ser resultado de via aérea inflamada e irritada e talvez demandem tratamento com inalação de corticoide para reduzir a inflamação, esclareceu Edelman.
Em um artigo para o "The New England Journal of Medicine", as médicas Ashley Woodcock e Jaclyn A. Smith estimaram que a tosse persistente chega a afetar "até 12 por cento da população mundial". Além disso, atinge mais mulheres do que homens, a maioria entre 40 e 50 anos, e pode durar anos, "causando efeitos físicos, sociais e psicológicos substanciais", escreveram elas.
Além das doenças respiratórias como a asma, outras causas possíveis da tosse crônica incluem coriza persistente, que pode ser consequência de alergia, sinusite, irritação causada pela qualidade do ar ou até mesmo exposição a climas muito secos ou muito gelados.
Dependendo da causa, o melhor tratamento pode envolver anti-histamínicos orais, gotas nasais, vaporizadores ou, caso se descubra uma infecção, antibióticos. Entretanto, Edelman não aconselha o uso de umidificadores de ar que tenham reservatório de água, a não ser que seja higienizado impecavelmente todos os dias, do contrário a água pode ficar contaminada com fungos. Além disso, o ar, quando excessivamente umedecido, favorece o surgimento de ácaros, que são normalmente alergênicos.
Outra responsável pela tosse crônica, e que é normalmente ignorada, é a DRGE, ou doença do refluxo gastroesofágico. Às vezes imperceptível quando estamos acordados, esse refluxo pode ocorrer durante as horas de sono, fazendo com que uma parte do que é regurgitado pelo estômago seja inalado ou causando um reflexo que comprime as vias aéreas, elucidou Edelman.
Às vezes, a tosse crônica pode ser efeito colateral de alguma medicação, como os inibidores da enzima conversora de angiotensina, usados para tratar pressão alta. De mais a mais, os ataques de tosse prolongados podem ter suas próprias complicações, como incontinência urinária, dor muscular, fratura de costelas e, ocasionalmente, regurgitação e vômito.
Por Jane E. Brody