Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (6), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual, Secretaria Municipal de Saúde e infectologistas de Santa Maria anunciaram que o laboratório da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, confirmou a presença do protozoário Toxoplasma gondii em uma das amostras enviadas para análise. Contudo, ainda não se pode afirmar que a amostra tenha relação com o surto da toxoplasmose na cidade, já que não foi comprovada a relação genética entre o protozoário e pacientes diagnosticados.
— Hoje, com quase 600 pessoas diagnosticadas, podemos dizer que é muito difícil que não seja a água a fonte de contaminação, e mesmo quando se fala em hortaliças, é mais provável que a contaminação seja cruzada, ou seja, que água contaminou a hortaliça. O MPF está oficializando todos os órgãos responsáveis para que expliquem, diante desse laudo positivo, quais atitudes serão tomadas —, disse a procuradora da República Tatiana Dornelles.
A amostra é do lodo decantado que foi coletado na caixa d'água de uma residência que fica no bairro Nossa Senhora de Fátima, na região central da cidade, onde moram duas pessoas que foram diagnosticadas com toxoplasmose. A casa é abastecida exclusivamente pela Corsan.
— A caixa d'água não era bem vedada, isso está no laudo. Mas o aspecto importante desse resultado positivo é que o protozoário foi encontrado em uma caixa d'água que é abastecida pela empresa fornecedora de água. Isso é extremamente importante. Porque a possibilidade de se encontrar é muito pequena e quando se encontra precisa ser considerada —, declarou promotor de Justiça Fernando Chequim Barros.
O Superintendente Municipal da Vigilância em Saúde, Alexandre Streb, acrescentou que mesmo que a caixa não estivesse bem fechada, a probabilidade de contaminação externa é mínima:
— Pela análise dos técnicos, mesmo que caixa estivesse bem fechada, a possibilidade dessa contaminação ter sido por um fator externo é quase descartável. Ela foi contaminada por água de abastecimento.
Ainda conforme a procuradora da República Tatiana Dornelles, a partir do laudo, com data de 27 de junho, o laboratório fez uma comparação com o DNA de quatro gestantes que foram diagnosticadas com a doença. O resultado dessa comparação teve resultado negativo. Essas gestantes não são moradoras da residência que apresentou amostra positiva para o toxoplasma. Por enquanto, não foi realizado nenhum exame comparativo entre os moradores da casa e a amostra positiva.
— Do ponto de vista técnico, as gestantes foram escolhidas para análise de comparação porque elas se configuram como situação aguda, com contaminação recentemente adquirida e não endêmica. Então, a gente associaria essas situações com a epidemia. Por enquanto, não se correlaciona geneticamente. Mas, é uma amostra muito pequena. Isso deve e vai ser feito em um número maior de pessoas, para que tenhamos uma análise de forma mais continua e informações mais precisas. Além disso, o Estado tem que dar um retorno sobre a água de Santa Maria, no que diz respeito a aspectos técnicos, já que é a fonte mais provável de contaminação —, afirmou o infectologista Alexandre Schwarzbold.
A partir de agora, novas análises serão feitas para ter informações mais conclusivas sobre a fonte de infecção.
A Secretária Municipal de Saúde, Liliane Mello Duarte, informou que a limpeza dos 29 reservatórios de água de Santa Maria deve ser concluída na semana que vem e que novas amostras desses locais também serão encaminhadas para análise. A limpeza dos reservatórios é feita pela Corsan e tem o acompanhamento de dois técnicos do município e dois do Estado:
— Agora estamos em uma fase mais avançada de investigação. E mesmo assim, é extremamente importante que as pessoas mantenham os cuidados, em especial com a água. Os grupos de risco devem redobrar os cuidados. As gestantes, se puderem, devem evitar a gravidez neste momento ainda.
A orientação para população é que mantenha as medidas de segurança — como tomar água fervida e lavar bem os alimentos e vegetais também com água fervida — e limpem seus reservatórios de água.
Casos
O último boletim da doença, divulgado há uma semana pelos governos municipal e Estadual, apontou que Santa Maria chegou à marca de 594 casos confirmados de toxoplasmose. Na atualização anterior, no dia 18 de junho, o município tinha 569 pessoas diagnosticadas com a doença.
Além disso, há notificação de 1.563 casos do surto. Deste número, 1.291 foram considerados suspeitos e outros 212 ainda precisam passar por classificação. Ainda 262 deles foram descartados e outros 435 seguem sendo investigados. A partir de agora, os boletins serão divulgados quinzenalmente. Assim, o próximo será divulgado no dia 13 de julho.