Na manhã desta quinta-feira (21), o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, afirmou que o surto de toxoplasmose em Santa Maria teve origem na água. Após a declaração feita durante entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, a pasta encaminhou, por meio de sua assessoria de imprensa, uma nota informando que a água é "a possível fonte de infecção", mas que outras hipóteses seguem em análise.
Ventilada desde o começo do surto, a possibilidade de contaminação da água sempre foi contundente do ponto de vista dos registros históricos da doença. Em Santa Isabel do Ivaí, no Paraná — que até a explosão de casos em Santa Maria ostentava o título de maior surto da doença no mundo —, descobriu-se que a água consumida pela população estava infectada pelas fezes de uma gata. Contudo, a confirmação só foi possível após análise de amostras do líquido que não havia circulado pela rede.
— A maneira de se descobrir foi pela coleta feita nas caixas d'água das escolas. Como era período de férias, o líquido estava lá parado — relembra o médico oftalmologista Claudio Silveira, especialista em toxoplasmose que participou da investigação em Santa Isabel do Ivaí.
A partir desse caso, cresce a dúvida a respeito de como a água pode ter sido contaminada em Santa Maria e como o tratamento feito pela Corsan não teria surtido efeito. Veja o que especialistas dizem:
O gato
Um único animal infectado passa em torno de 15 dias eliminando oocistos (ovinhos com o infectante), que são a forma como a infecção chega ao meio ambiente.
— Eles eliminam em torno de 100 mil oocistos por grama de fezes — diz a professora do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF) Maria Isabel Botelho Vieira.
Como é de se imaginar, não somente a água pode ser contaminada, mas o solo também. Silveira diz que essa contaminação pode durar até dois anos e se expandir para um raio muito superior ao local onde houve a evacuação do felino. Além disso, a chuva pode contribuir para levar o protozoário até fontes de água.
A água
O professor titular da UFRGS Antonio Benetti, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, elenca algumas das possíveis causas da contaminação da água. Entre elas, a contaminação no sistema de distribuição de água potável.
— Seria possível se gatos com os parasitas tivessem acesso ao reservatório da cidade. Outra possibilidade é a entrada de solo infectado na rede de distribuição durante a realização de consertos. Mananciais de água de abastecimento e poços desprotegidos podem ser contaminados ao receberem solos e águas de lavagem com fezes de gatos, principalmente após chuva intensa — destaca.
O tratamento
Outro ponto de discussão diz respeito ao tratamento da água. Benetti explica que o Toxoplasma gondii, protozoário causador da doença, é relativamente grande (pode medir até 12 micrômetros - milésima parte de um milímetro). Dessa forma, poderia ser eliminado somente com filtração.
— No entanto, algumas formas de seu ciclo de vida podem ser resistentes aos desinfetantes químicos normalmente usados — pontua.
Para Maria Isabel, a única forma de eliminar o T. gondii é o calor. Por isso, a orientação é de que a água seja fervida antes do consumo.