Em coletiva de imprensa que durou cerca de 40 minutos, o prefeito de Santa Maria Jorge Pozzobom fez críticas à declaração do Ministro da Saúde, Gilberto Occhi, de que a água originou o surto de toxoplasmose no município da Região Central. A informação foi dada pelo ministro em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (21).
Com ânimos acirrados e visivelmente incomodados com a situação, o prefeito, a secretaria de Saúde, Liliane Mello Duarte e a procuradora do município, Rossana Boeira, disseram ter recebido a informação com surpresa, já que na segunda-feira (18), o coordenador de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Renato Alves, afirmou que ainda não se tinha nenhuma confirmação sobre a origem do surto na cidade e que os dados levantados por meio dos questionários aplicados em pacientes com a doença ainda precisam ser cruzados para identificar as relações entre eles.
Jorge Pozzobom chamou a atitude do ministro de irresponsável:
— Tomamos com muita surpresa essa posição, o ministro tem que imediatamente se apresentar em Santa Maria e explicar o que ele disse. Não tenho a menor dúvida de que houve uma irresponsabilidade, em hipótese alguma direi que houve má fé, mas houve irresponsabilidade de uma informação que, no mínimo, se eles tivessem confirmado, eles teriam que ter ligado e avisado. Não podemos criar um pânico com relação essa situação, precisamos esclarecer.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a investigação sobre a fonte de contaminação segue em andamento, mas não esclareceu se as informações repassadas pelo ministro estão equivocadas.
O prefeito reforçou que as medidas de segurança, como ferver a água, comer alimentos bem cozidos e frutas e verduras bem lavados, devem ser mantidas.
A procuradora do município, Rossana Boeira, questionou a forma como a informação foi repassada, na mesma semana em que o um representante do Ministério da Saúde, Renato Alves, afirmou, também em entrevista coletiva, que não se tinha ainda suspeitas e nem confirmação com relação a origem do surto:
— A questão é que, segunda-feira o representante do Ministério da Saúde, Renato Alves, expôs os dados e falou que a fase de coleta de dados tinha acabado. Supomos que não tem mais dados novos. Na segunda, ele ainda informou que não se podia confirmar qual a origem do surto e agora falam isso. Então, ou eles têm dados que não nos passaram e isso também é errado, antiético e desumano com a população, ou eles estão falando alguma coisa que seja irresponsável. Pode ser verdade, mas eles não podem esconder isso do município que sofre com a doença.
A secretária de Saúde, Liliane Mello Duarte, afirmou que se a informação é confirmada, o "ministro foi negligente" ao não informar os responsáveis no município sobre a origem do surto:
— Se você tem uma criança correndo risco, você não avisa a mãe que ela está correndo risco, a pessoa responsável? Eles deveriam ter nos avisado. Eles estiveram aqui. Não estamos discutindo que critério ele usou. Nós questionamos o fato de não termos sido comunicados sobre isso para tomarmos providências. O ministro, se sabia, negligenciou dados e isso não pode acontecer em saúde. Tem que provar, e no momento em que se sabe se deve falar aos responsáveis para que providências sejam tomadas. Queremos também saber donde estão esses documentos, quais são os laudos que comprovam isso.
Repercussão
Em maio, o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB), colocou uma foto em sua página nas redes sociais ao lado dos representantes da Corsan, com os resultados das análises feitas na água fornecida pela Companhia. À época o resultado das primeiras amostras coletadas deu negativo para a presença do protozoário Toxoplasma gondii. Na publicação ele afirmou que "Graças a Deus, com relação à água não temos problema". Questionado sobre a conduta ser ou não precipitada à época, o prefeito afirmou durante a coletiva de imprensa nesta segunda-feira, que era a função dele divulgar à população o andamento da investigação:
— Como agente responsável por essa cidade é obrigação da Corsan prestar todos os esclarecimentos. Eu exigi todas as amostragens de 2017 e 2018. No momento que eles me entregam isso e comprovam que tiveram resultado negativo, é minha obrigação passar isso para a comunidade. Em hipótese alguma eu disse para tomar água sem ser fervida ou negligenciamos a questão dos alimentos. O Facebook é uma loucura, é uma terra de loucos. Está lá, pedindo para ferver a água, cuidar os alimentos.