Desde as primeiras horas do domingo (8), o acesso à Casa de Cultura Mario Quintana, no centro de Porto Alegre, começou a reunir pessoas interessadas em degustar e comprar os produtos em exposição no encerramento de mais uma edição da Feira das Queijarias Gaúchas. O evento, aberto na sexta-feira (6), concentra alguns dos principais queijos e doces de leite artesanais produzidos no Rio Grande do Sul.
Cerca de 20 estandes apresentaram por três dias uma ampla variedade de produtos. Alguns exemplos: o primeiro queijo serrano produzido no RS, outro de 12 kg maturado por oito meses, aberto especialmente para o público no sábado (7), e até o chamado queijo bêbado, ou ubriaco, que é curado em vinho cabernet sauvignon por 150 dias antes de ser disponibilizado ao consumo.
Gustavo Dias Miguel, por exemplo, provou e não resistiu em levar para casa uma peça de um queijo serrano maturado em caverna. Custo, benefício e, sobretudo, a qualidade e o sabor são os elementos destacados por ele.
— Valeu muito a pena a visita e a degustação. Encontrei muitas novidades e que não estão ao nosso dispor nos mercados tradicionais — comenta.
É o caso do queijo ubriaco, feito pela Queijaria Valbrenta, que une duas tradições da Serra, o queijo e o vinho, em um só produto.
Uma das irmãs à frente do negócio, de Bento Gonçalves, Libânia Guerra comenta que, apesar da variedade de produtos, a opção pela qualidade e o aspecto artesanal dos itens, não permite que se atinja mais do que 50 kg de produção por dia.
E a feira, diz, é a oportunidade de tornar os produtos, com origem no coração do Vale dos Vinhedos, alguns deles recém premiados, mais próximo dos novos públicos.
Essa foi, justamente, a razão pela qual o casal Pryscila Sauer e Rayan Mendonça visitou a Casa de Cultura no domingo.
— Aqui temos produtos que quase nunca conseguem chegar no balcão de supermercado, onde a gente está fazendo compras diariamente. Então, era a oportunidade de conhecer e levar para casa um pouco dessa qualidade — argumenta Ryan com sacolas que continham mais de 10 peças de queijos adquiridos por ele em mãos.
Pryscila acrescenta que receitas familiares e produtos bastante específicos foram o ponto alto da degustação. Ela cita o exemplo de um queijo de canela de “’gosto marcante”:
— A gente procurou e encontrou coisas bem diferentes do que acharia normalmente em bancas que estamos acostumados a ir.
Para fixar a marca e gerar novas oportunidades de negócios
Do outro lado do balcão, Roberto Oliveira comemora o fato de ter selado a primeira venda para um estabelecimento com previsão de inauguração nos próximos dias, em Porto Alegre. Além do contrato, conta que, em três dias, comercializou mais de 450 vidros do doce de leite Estrelat.
Próximo dali, Natal Comim e Fernanda Maná, venderam 100kg de queijo e fecharam três contatos para pedidos futuros na Capital. Conforme lembra Natal, foi na feira do ano passado que eles conseguiram colocar o produto, feito em Nova Roma do Sul, à venda na tradicional Banca 43 do Mercado Público da Capital.
Tradição e história nos produtos
Alexader Liz foi um dos produtores do queijo de 12kg, maturado por oito meses, e aberto especialmente durante a feira das queijarias, em 2024. Ele lembra que o evento estava agendado para maio, mas teve de ser remarcado, em razão da enchente.
Desde então, ele está sem vendas para outros Estados, pois os produtos eram embarcados pelo aeroporto Salgado Filho, que permanece sem voos. Em razão disso, a produção de 45kg por dia foi reduzida a cerca de seis quilos diários, na Chácara dos Padres, em Bom Jesus.
— Achamos que não aconteceria mas o pessoal resolveu fazer para não deixar o produtor, que sofreu muito, na mão. E essa é uma feira que liga o produtor artesanal, de queijo gaúcho, diretamente com o consumidor. Então ela tem um valor importante para vendas, mas também tem para que o povo gaúcho consiga entender a riqueza dos queijos do nosso Estado — comenta, ao lembrar que a sua queijaria recebeu o primeiro selo brasileiro com denominação de origem.
Liz explica: isso acontece porque trata-se de um queijo produzido com leite cru, de gado de corte, tratado somente à pastagem nativa, acima de mil metros de altitude. Com a tradição reproduzida em cada detalhe, ele conta que esse foi o primeiro queijo produzido no RS e também a receber uma medalha de ouro em concursos internacionais, ficando entre os 15 melhores do mundo:
— Foi como nos tornamos conhecidos aqui e fora do Estado. Trazemos conosco a história do RS no queijo. A gente tem muito orgulho de fazer parte de uma cadeia que até pouco tempo não era conhecida, mas que faz parte da história e conta atualmente com mais de cem queijarias legalizadas.
A feira é promovida pela Associação Gaúcha de Laticínios, com apoio de Sebrae RS, Emater e governo do Estado.