Frequentadores da Redenção criticam o que consideram um aumento na remoção e na poda de árvores do parque. Segundo os visitantes, a prefeitura estaria realizando um manejo arbóreo que causa prejuízos à fauna e flora local. A administração municipal argumenta que "todas as remoções são baseadas em laudos técnicos".
O botânico e professor aposentado do Colégio Militar de Porto Alegre, Vilmar Bittencourt, 70 anos, observava um mural que citava os pássaros presentes no parque, na tarde desta quinta-feira (29). Para ele, a remoção das árvores é um processo nítido, sobretudo para pessoas como ele, que há anos frequentam o local.
— Parece que querem transformar a Redenção em uma área de exploração econômica. É uma vergonha o que o Parque Farroupilha está passando, não só com a retirada das belas árvores, mas como com a depredação dos monumentos históricos. Falta uma valorização da história e do meio ambiente — avalia.
Perto do Monumento ao Expedicionário, Rosemari Paz, 60 anos, passava por um caminho de pedras, examinando os tocos de árvores que estavam ao lado do corredor pelo qual caminhava.
— Eu gosto de vir aqui para relaxar, passear. Gosto das árvores pela sombra nos dias quentes. Melhora a temperatura. Acho uma pena o que aconteceu aqui, principalmente para as próximas gerações, porque mesmo que replantada, uma árvore demora anos para crescer e ficar do tamanho que essas pareciam ter — comenta.
A reportagem de Zero Hora percorreu diferentes pontos do parque nesta quinta e constatou ao menos 30 vegetais cortados, alguns apenas nos galhos, outros em sua totalidade.
Coletivo pediu explicações
Três vizinhas do parque integram o coletivo Preserva Redenção, que há dois anos vem desenvolvendo ações para conscientizar a população e o poder público sobre a importância das árvores para a urbanização saudável para humanos e animais.
— Há dois anos vemos isso (a remoção de árvores) de forma mais acelerada. A Redenção era um bosque, cheio de árvores. Agora, está virando uma praça — lamenta Ingrid Moldt, 59 anos, que visita o parque há cerca de 40 anos.
Entre as centenas de árvores que o coletivo alega que foram removidas ou danificadas pela prefeitura estão: figueira, salso-chorão, maricá e corticeira-do-banhado. Algumas delas, inclusive, são nativas e têm o corte restrito.
— Não podemos esquecer que o parque também é habitat de fauna silvestre, como gambás, tartarugas e diversas espécies de aves, que dependem dessas árvores para sobreviver. A função do parque é fazer anteparo para eventos climáticos extremos, como aqueles que vimos tão recentemente no RS — assinala a mestre em biologia animal Hosana Piccardi, 43 anos, que também atua no coletivo.
O presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Apagan), Heverton Lacerda, também avalia que a retirada da cobertura vegetal pode desencadear a perda da biodiversidade, assim como alterações no microclima. Ele ressalta que as árvores ajudam a equilibrar a umidade dos terrenos e melhoram a qualidade de vida da população.
— Isso se torna ainda mais importante em áreas centrais como a Redenção, rodeada por avenidas altamente trafegadas por veículos emissores de gás de efeito estufa — diz Lacerda, explicando que a própria comunidade procura os parques para “fugir do concreto”.
Para Hosana, atualmente a prefeitura não deixa claro os motivos pelos quais cada vegetal é removido ou cortado.
— Parece que existe uma preocupação sobre a segurança das pessoas, da árvore ser esconderijo para bandidos. Mas se há bandidos no parque, por que a árvore é a culpada? — complementa a moradora do bairro Cidade Baixa Lila Romero, 52 anos.
As três integrantes do coletivo alegam que as reclamações foram levadas até a gestão municipal por meio de uma carta enviada ao secretário Germano Bremm, do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre em dezembro de 2023. O documento incluía, além de pedidos para a preservação das árvores, solicitações de melhorias em bebedouros, praças e brinquedos infantis. Até o momento, no entanto, as três mulheres alegam que não receberam retorno.
O que diz a prefeitura
Em uma nota unificada, as secretarias de Serviços Urbanos e de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade afirmaram que atualmente nenhum serviço de manejo arbóreo está sendo executado na Redenção. A gestão municipal ainda disse que cerca de 180 vegetais foram removidos do parque desde o começo do ano, entre árvores e galhos. Todos foram removidos com base em laudos técnicos, segundo informou a prefeitura. O replantio é avaliado. Confira a íntegra da manifestação:
"A Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos (SMSUrb), informa que não realiza, no momento, nenhum serviço de manejo arbóreo no Parque Farroupilha. No mês de junho, foi feito o levantamento de copas de alguns vegetais para melhorar a visibilidade, iluminação e segurança no local. Desde o início deste ano, foram removidos cerca de 180 vegetais, entre árvores e galhos caídos durante o temporal de janeiro, vegetais mortos e árvores com risco de queda, todas as remoções baseadas em laudos técnicos dos engenheiros agrônomos da SMSUrb. Os laudos levam em conta no momento de uma inspeção em um determinado vegetal, por exemplo, como por exemplo a as extensões das necroses (matéria apodrecida) no tronco, acometimento por pragas (cupins e fungos), injúrias mecânicas de raízes, copa, idade, espécie, condições climáticas da região, entre outros.
Sobre a vegetação dos lagos, dos três lagos no parque, apenas o Lago do Buda possui vegetação. Há seis meses, vegetais foram retirados alguns aguapés que estavam bloqueando a entrada de luminosidade no Lago do Buda, sem prejuízos aos animais.
Em relação aos replantios no Parque Farroupilha, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) esclarece que a equipe técnica da Coordenação de Arborização Urbana vem realizando vistorias para analisar a viabilidade de novos plantios de árvores nos espaços que sofreram perdas de vegetação, em função da senescência e de eventos climáticos que impactaram a vegetação do Parque. Destaca-se, também, que toda intervenção no Parque precisa passar pela validação da Secretaria Municipal de Cultura, em função de ter espaços tombados na área verde. Havendo a viabilidade de plantios, serão incluídos no planejamento para implantação por empresa contratada.
Sobre a quantidade de árvores existentes na Redenção, está em fase final de contratação empresa especializada para realizar o inventário arbóreo no município de Porto Alegre. No escopo desta contratação, será incluído o levantamento da arborização do parque."
Sobre a carta enviada ao secretário de Meio Ambiente, a pasta alega: "Em dezembro de 2023, não houve registro de recebimento de ofício do Coletivo Preserva Redenção".