O hidrólogo Carlos André Bulhões, atualmente reitor da UFRGS, destacou que as dragagens e desassoreamentos de rios tendem a colaborar pouco para conter as enchentes na Bacia do Guaíba. A fala ocorreu durante reunião da Comissão Externa da Câmara dos Deputados sobre as Enchentes no Rio Grande do Sul, realizada na quarta-feira (10).
Segundo o hidrólogo, a dragagem pode ser pontualmente relevante em algum canto de algum rio, mas não deve ser pensada como solução ampla para o problema.
— Com relação ao auxílio às inundações, (a dragagem) ajuda, mas é um percentual baixo (de ajuda). Pode ter um município ou um canto que está tão assoreado que ali faça diferença, mas no contexto da Bacia do Guaíba o auxílio é pouco dado o volume de água que foi — disse Bulhões.
Em outro trecho da fala, o hidrólogo explicou as limitações da dragagem para conter a elevação das águas.
— A dragagem vai ajudar, mas pensem o seguinte: este é o volume da dragagem — disse Bulhões, mostrando um copo de água, para então concluir:
— Só que o volume desta chuva é o volume desta mesa. O volume é tão grande que (a dragagem) se torna pouco operacional — pontuou Bulhões.
O reitor da UFRGS também destacou aos políticos os riscos das dragagens agravarem a destruição das margens de rios.
— Em todos os rios, há duas disciplinas: uma é erosão e sedimentação. A outra é mecânica fluvial. O cuidado que tem que se ter é: se eu for para os rios e tirar (sedimentos) de qualquer forma, posso estar induzindo massas de água (a seguir outro curso). Se eu começo a dragar e colocar massas de água onde não tinha, posso estar induzindo movimento de erosão e sedimentação dentro do rio — afirmou Bulhões.
Dragagem de grandes rios do RS custaria caro e poderia ser ineficiente, alertou IPH
Nas últimas semanas, desde que as águas baixaram em Porto Alegre e Região Metropolitana, prefeitos de diferentes cidades têm defendido que o problemas das cheias passa pela falta de dragagem dos rios.
Em resposta, 12 hidrólogos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS emitiram, em junho, uma nota técnica na qual apontam que a dragagem costuma gerar bons resultados para pequenos rios, mas que não tem necessariamente os mesmos efeitos e custo-benefício para grandes cursos d’água.
“A dragagem é uma medida reconhecidamente positiva para pequenos rios e córregos, principalmente em bacia com significativa urbanização, como o caso do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre. Já para trechos de grandes rios ela, eventualmente, também pode ser uma medida nos casos em que houve um processo de assoreamento significativo. Porém, essa necessidade deve ficar demonstrada por meio de medições ao longo do leito do rio. No momento não temos, ou não está disponível publicamente, este tipo de informação para recomendação desta medida", diz trecho do documento.
No material, os estudiosos disseram que a dragagem só deve ser adotada após medições e estudos que indiquem a eficiência e a vantagem econômica da medida.
“O contrato de serviço de dragagem é bastante oneroso (da ordem de centenas de milhões de reais) para os casos aventados. Ainda, os rios modificam naturalmente o leito periodicamente e, em alguns casos, esta dinâmica leva ao assoreamento dos trechos dragados em curto intervalo de tempo, induzindo à necessidade de novos levantamentos e, eventualmente, novos serviços de dragagem”, diz outro trecho da nota técnica.
Também é destacado que não se deve confundir o desassoreamento de canais de navegação, aplicada a uma área limitada do rio, com a dragagem em larga escala.
“Não se pode confundir o processo de dragagem de canais de navegação, que é uma atividade rotineira de manutenção do calado de hidrovias e executada em uma área limitada e com colocação do material dragado dentro do corpo hídrico, com processos de desassoreamento para controle de cheias com maior abrangência espacial e com retirada do material dragado para fora do corpo hídrico”.