A Paróquia Santa Catarina, situada na Vila Elizabeth, no bairro Sarandi, em Porto Alegre, não tem sequer previsão de reabertura. A igreja sofreu uma série de danos durante a enchente de maio, com a inundação atingindo quatro metros de altura na parte interna. No altar, a imagem de Cristo crucificado exibe a marca d'água nos joelhos.
Nesta terça-feira (11), a reportagem de GZH esteve na Paróquia Santa Catarina, na Avenida Souza Melo. Com sua pedra fundamental colocada em 25 de abril de 1971, a igreja perdeu bancos, equipamentos de som, ventiladores, imagens sacras e ainda precisará passar por reforma em razão da destruição causada pela cheia histórica na Capital.
Nesta manhã, cadeiras de plástico enlameadas estavam empilhadas no pátio da frente da igreja. O padre Alexandre Longhi de Freitas estava de galochas auxiliando os voluntários em meio à faxina.
— O povo que participa da igreja, cada pessoa que vem aqui na frente procurando a gente e chorando as perdas, não tem o que repare. É uma catástrofe que nunca imaginávamos — reflete o padre.
Em 3 de maio, o ginásio da igreja chegou a ser aberto para abrigar cerca de 150 flagelados do Sarandi. Porém, no dia seguinte, foi necessário encaminhar as pessoas para locais mais seguros. A água subiu com velocidade e não poupou nada.
Os demais setores, como secretaria, salas e ginásio foram igualmente atingidos. O que havia nos espaços, como eletrodomésticos, roupas e alimentos, foi destruído.
Agora, nas ruas do entorno do bairro, o lixo se acumula em montes intermináveis. Caminhões e tratores podem ser vistos em ação. O cheiro de podridão causa náusea e até dificuldade para respirar.
Cerca de 20 centímetros de lama ficaram no piso após a água baixar. A limpeza mais pesada já foi executada. Mas as marcas d'água estão em todos os cantos como uma memória ainda viva para quem testemunhou a fúria da enchente. O prejuízo chega a R$ 120 mil.
— Não temos previsão nenhuma de reabertura, porque ainda há muita coisa a ser feita. Vai depender da ajuda da força-tarefa da comunidade — diz o padre.
Ginásio será central de donativos
Neste momento, o ginásio paroquial está sendo limpo e preparado por voluntários para servir como centro de arrecadação e distribuição de alimentos a granel, cestas básicas, material de higiene e limpeza, colchões e roupas. Tudo será doado para os moradores da região.
— Tivemos a ideia de fazer aqui no Sarandi um centro de distribuição de tudo. Como aquele na quadra 75, na Vila Farrapos — explica o resgatista e voluntário Adriano Kessler, 36 anos.
Os voluntários pedem ajuda de empresas e supermercados. A ideia é de que grandes estabelecimentos possam realizar doações para serem repassadas para a população no ginásio da igreja.
— O Sarandi está mais atrasado do que o resto da cidade. Estamos duas semanas mais atrasados em relação ao bairro Humaitá — compara o voluntário e também resgatista Fernando Porcher Oliveira, 36.
A Paróquia Santa Catarina ficou mais de 30 dias inundada. A igreja organiza nas redes sociais uma vaquinha e disponibiliza chave Pix para quem puder doar dinheiro e ajudar na reconstrução.
Igrejas atingidas, segundo relatório da Arquidiocese de Porto Alegre
Porto Alegre
- Nossa Senhora dos Navegantes
- São Geraldo
- São Miguel Arcanjo
- Santo Inácio de Loyola
- Santíssima Trindade
- Santo Antônio Pão dos Pobres
- Santa Catarina
- Capela Nossa Senhora do Monte Claro
- Santa Teresinha do Menino Jesus
Canoas
- Imaculada Conceição
- Santo Antônio
- Nossa Senhora de Fátima
- São Pio X
- Sagrado Coração de Jesus
Esteio
- Nossa Senhora Aparecida
Sapucaia do Sul
- Nossa Senhora de Fátima
Cachoeirinha
- Nossa Senhora da Boa Viagem
Eldorado do Sul
- Nossa Senhora da Medianeira
Guaíba
- Santa Rita de Cássia
Além das paróquias também foram atingidas capelas. Cerca de 60 capelas foram afetadas pela cheia no território da Arquidiocese de Porto Alegre.