Autoridades de segurança pública do Estado passaram a apurar, nesta sexta-feira (17), o teor de denúncias sobre o suposto abandono de animais em lojas de uma grande rede de pet shops, com unidades em Porto Alegre. A permanência de pássaros, pequenos roedores e peixes comercializados pela empresa Cobasi foi percebida por voluntários que atuam no resgate de animais atingidos pela calamidade na capital gaúcha.
— Estávamos nos deslocando em barcos para resgatar animais domésticos deixados para trás, quando uma pessoa indicou que havia barulho de aves nesta pet shop, na Avenida Assis Brasil. Ao chegarmos no local, encontramos animais vivos, sem acesso a água, em um ambiente alagado e sem iluminação. Alguns já estavam mortos — conta a estudante de Medicina Veterinária Maya Araújo, 25 anos, voluntária na ação.
O resgate, segundo Maya, não foi efetivado porque funcionárias da Cobasi chegaram ao local durante a intervenção, que teria sido acompanhada por agentes públicos. Diante da situação, teria sido ajustado entre os participantes do socorro que os bichos seriam removidos pelas representantes da empresa.
— Não ficamos satisfeitas (grupo de veterinárias voluntárias) com este encaminhamento, pois ficou evidente que a providência somente ocorreu após nossa iniciativa de entrar na loja — argumenta Maya. Ela e as colegas registraram boletim de ocorrência na Delegacia Online da Polícia Civil, que distribui os registros para setores de investigação. O registro ocorreu no sábado passado (11).
A denúncia do grupo também chegou ao conhecimento da Brigada Militar (BM). Conforme o coronel Rodrigo Gonçalves dos Santos, comandante do Comando Ambiental da BM, a corporação também irá noticiar os fatos recebidos à Polícia Civil, solicitando apuração sobre as circunstâncias do ocorrido.
— Precisamos apurar o que aconteceu. Estamos em um momento bastante delicado no Estado, no qual a comoção e a sensibilidade com os animais é muito importante. Contudo, precisamos manter serenidade para verificação dos fatos. O Comando Ambiental irá comunicar oficialmente a delegacia especializada e prosseguirá atento a denúncias acerca deste tema — pontua o comandante.
O coronel informa que o Comando Ambiental efetuou mais de 800 resgates de animais domésticos afetados pela enchente nos últimos 10 dias, com predominância dos salvamentos na Capital, em Canoas e Eldorado do Sul.
Santos aponta também que outra unidade da Cobasi, localizada no Praia de Belas Shopping, está sob observação por denúncias sobre a morte de animais mantidos para comércio. Neste caso, indica o comandante da BM, os bichos estariam no subsolo, que ficou totalmente inundado.
— Estamos monitorando, mas não há como acessar o local. Este fato também será compartilhado com as demais autoridades para providências — acrescenta.
Procurada para posicionamento, a Polícia Civil, por meio de sua Divisão de Comunicação Social, que o tema deverá ficar sob responsabilidade do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), ao qual a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente de Porto Alegre está subordinada.
Para o advogado criminalista representante do grupo de voluntárias, Guilherme Moraes, há expectativa de que ocorra a apuração das ações dos profissionais e funcionários responsáveis pelo estabelecimento comercial.
"As provas juntadas no expediente investigativo são revoltantes e não deixam dúvidas de que os animais foram abandonados na loja e lá ficaram sem nenhum recurso por dias. Além disso, pretendemos provocar o Conselho Regional de Medicina Veterinária para apurar eventual responsabilidade profissional por aqueles que deveriam zelar pela saúde dos animais", cita Moraes, em nota remetida à reportagem.
O que argumenta a Cobasi
Também por nota, a Cobasi emitiu seu posicionamento sobre os dois casos, envolvendo suas lojas na Avenida Brasil e no Praia de Belas Shopping.
Sobre o fato na unidade da Avenida Brasil:
"Desde o início do agravamento da situação no Rio Grande do Sul, a Cobasi vem, de forma rigorosa, prezando pela segurança e bem-estar das pessoas e animais. A Cobasi da Av. Brasil alagou durante a madrugada, e pela manhã, os funcionários foram impedidos pela Defesa Civil de entrar na loja. Com a diminuição do nível da água, a Cobasi conseguiu resgatar os animais que estavam no local, de forma urgente, uma vez que ainda havia a proibição do acesso. Os animais já receberam atendimento veterinário e estão em locais fora de risco. Infelizmente, um pássaro e três peixes não resistiram à tragédia", argumenta a empresa.
Sobre o fato no Praia de Belas Shopping:
"A loja Cobasi Praia de Belas teve de ser deixada de forma emergencial, seguindo as orientações das autoridades locais. Foi garantido que os animais estivessem seguros e com o necessário para a sobrevivência ate o retorno dos colaboradores que considerávamos ser breve. Mas a tragédia foi sem precedentes e, apesar das tentativas constantes da empresa nos últimos dias, não foi possível o acesso seguro à loja devido o nível da água. É com pesar que a Cobasi comunica a perda das vidas dos animais que estavam no local. A empresa seguirá atuando com as ONGs de proteção animal, da região e de todo o país, para salvar as vidas que pudermos, enquanto lamentamos aquelas que não pudemos salvar", sustenta a Cobasi.