São Jorge para os católicos, Ogum para o povo do batuque gaúcho, do candomblé e da umbanda. O guerreiro com uma espada nas mãos foi mais uma vez celebrado em Porto Alegre ao longo deste domingo (28). Na Paróquia São Jorge, no Partenon, houve missa campal seguida de procissão pela Avenida Bento Gonçalves. Pelos terreiros da Capital, também foram realizadas diversas homenagens.
A missa e o cortejo reuniram líderes religiosos das duas expressões de fé: Dom Bertilo João Morsch, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre; o padre Sérgio Belmonte, pároco da Igreja São Jorge; e o Babalorixá Pai Ricardo de Oxum, pai de santo e presidente da Associação Beneficente Cultural Oxum e Oxalá, que representa mais de 500 terreiros no Estado.
Diferentemente de terça-feira (23), dia de São Jorge, quando um pequeno grupo de católicos tentou barrar a passagem dos praticantes de religiões afro-brasileiras, não houve qualquer resistência.
— Hoje aconteceu tudo de forma tranquila — frisa o pároco, há nove anos à frente da igreja no Partenon.
Segundo ele, há 71 anos Porto Alegre celebra o Dia de São Jorge. Durante todo esse tempo, sempre houve a participação de praticantes do batuque, da umbanda e do candomblé. No entanto, foi a primeira vez que a Igreja São Jorge decidiu fazer um ato para simbolizar o sincretismo religioso: a lavagem das escadarias da paróquia, como é feita em Salvador, na Bahia, reunindo as duas manifestações de fé.
Na terça-feira marcada para o ato simbólico, um grupo de cinco católicos se posicionou nas escadarias da igreja impedindo que a lavagem fosse realizada pelos fieis afro-brasileiros. A atitude causou vergonha no padre Sergio Belmonte.
— Tivemos paciência, pedimos que eles se retirassem, sem violência, com diálogo. Eles saíram, mas foram às redes sociais dizer que nós fomos intolerantes. Eu fiquei muito constrangido. São católicos conservadores, católicos que não entenderam que a Igreja mudou. Não é a mais a Igreja que se achava a dona de Deus. A Igreja Católica, hoje, pensa que nós devemos dialogar com outras religiões, e que Deus está presente nas outras religiões. Devemos respeitar e dialogar. Para o bem das pessoas, podemos trabalhar juntos — reflete o católico.
Pai Ricardo de Oxum considera acertada a decisão de criar um ato simbólico que leve os religiosos afro-brasileiros à Igreja São Jorge, proposta feita por ele e corroborada pelo padre Sérgio. Para o pai de santo, unir as duas manifestações de fé é resgatar o que os negros vindos à força da África fizeram quando chegaram por aqui.
— Padre Sérgio acertou. Independentemente da manifestação contrária, temos que continuar. Cultuar São Jorge não é algo que fazemos agora. Nossos ancestrais escravizados cultuavam as imagens da Igreja Católica. Estar ao lado do catolicismo é resgatar nossas tradições. Eu fui batizado na igreja católica, embora eu seja do batuque.