Cerca de 500 religiosos de templos de matriz africana se uniram para realizar uma passeata em homenagem ao dia de Ogum — orixá que, na religião católica, corresponde a São Jorge — celebrado em 23 de abril. Além da homenagem, a caminhada que percorreu as ruas do bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre, neste sábado (22), também serviu como protesto contra o preconceito religioso.
A caminhada partiu do templo Reino de Ogun e Oxalá na Rua João do Rio, no fim da tarde, seguindo pelas ruas Paulino Azurenha, Mário de Artagão, Rua Pedro Velho, Carlos de Laet e Paulino Azurenha, de onde o grupo retornou à João do Rio, onde finalizou o cortejo em frente ao templo. O local foi escolhido pois foi onde, em março, ocorreu um ataque com depredação da fachada e disseminação de discurso de ódio e difamação pelas redes sociais.
O caso de intolerância religiosa é investigado pela Polícia Civil. Os fundadores do templo, o babalorixá Carlos Eduardo Malater dos Santos, 51 anos, o Pai Duda de Oxalá, e o seu companheiro, David Gonçalves Schneider dos Santos, 36, Pai David de Ogun, denunciaram o ataque e receberam apoio e solidariedade de diversos religiosos de matriz africana.
Entre os apoiadores que contataram Pai Duda está o Pai Ricardo de Oxum, chefe de Divisão da Comunidade Negra, Quilombolas e Povos de Terreiro da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do RS, que também participou do ato deste sábado.
— Esse ato é uma luta contra o racismo religioso. A partir do momento que tentam invadir e depredar um terreiro é racismo religioso. Esse racismo é estrutural porque se refere a uma religião que é mal vista por ser cultuada por 80% de negros, que veio da África nos navios negreiros e hoje ocupa no Rio Grande do Sul cerca de 65 mil terreiros. A nossa luta é contra essa intolerância religiosa — diz Pai Ricardo.